O ‘mandado’ de Jefferson Péres e o juramento ‘sobre’ a honra (atualizado)

Foi numa festa de formatura de bacharéis em Direito. Um dos professores, distinguido pela turma, resolveu lembrar o discurso do falecido senador Jefferson Péres, quando se dizia desiludido com a política e anunciava que não concorreria à reeleição, após ter sido vereador e passados perto de 12 anos como senador. Afônico, devido a uma rinite alérgica, pareceu que o professor, Fernando Todeschini, tinha confundido o mandato eletivo de Péres com “mandado”, que é um instituto jurídico.

É comum jornalistas confundirem o “mandato” eleitoral, com os quais as redações têm contato quase diário, especialmente o pessoal mais ligado à política, com o “mandado” judicial, expedido por magistrado. Todeschini, operador do Direito desde 1996, professor há dez anos, reconhecido pela qualidade do que ensina, não cometeria esse erro – como vários leitores do blog afirmam, alguns de forma até veemente, exigindo a presente correção neste texto. Curvo-me a essas evidências.

A festa de formatura, porém, foi animada. Um dos últimos a prestar o juramento, obrigatório, berrou ao microfone: “Juro, ‘sobre’ (sic) a minha honra…”, para horror dos colegas. Imagino aquela honra, coitada, estirada no chão, olhos arregalados, sem entender porque estava sendo pisoteada daquela forma, quando, se usado o correto “juro, sob a minha honra…”, ela estaria confortavelmente olhando do alto, testemunhando o valor que o formando dá aos seus princípios.

A confusão ocorre justo no momento em que se discute a mudança, para maior, das notas dos alunos da rede pública estadual, à revelia dos professores.

Ressurge o temor do velho pacto da mediocridade professor-aluno. Um finge que ensina e o outro finge que aprende. No 1º e no 2º graus ninguém pode deixar de ser aprovado e o “Ensino Superior” herda uma horda de analfabetos funcionais. E tem também uma figura proeminente no meio educacional do Amazonas, a estatística, que mostra uma cara sardenta e olhos azuis na média maquiada obtida pelos alunos da rede estadual, mas, na hora de confrontar com o espelho dos exames nacionais, principalmente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mostra que essa imagem de Liverpool é só cosmética e revela o porto de lenha que tenta esconder.

“Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos”, como diz Nelson Rodrigues. Muito menos desenvolvimento. Não haverá progresso nenhum nestas plagas com um comando educacional mandando passar na marra, aumentando notas de alunos medíocres, esmagando o mérito, desestimulando a qualidade.

Deve haver um meio de a Justiça mandar parar essas coisas. Afinal, a média alta é premiada com salário maior, inclusive para diretores e supervisores, que ganham polpudas gratificações e não precisam se submeter a esse crime. Ora, se a média é fraudada o erário também o é. Os recursos públicos são dispendidos fraudulentamente. Provas? Ouçam os professores, com garantia mínima de sigilo, e elas jorram.

Adolescente líder de quadrilha? Vai olhar a nota dele. Não aprendeu o mínimo de educação moral e cívica. Nem cidadania. Vai ver só tirava notão.

 

PS: Professor Todeschini, o desembargador Pascarelli não o escolheria assessor se você não tivesse os méritos que seus alunos e ex-alunos confirmam. É injusto atribuir-lhe o pacto da mediocridade, como fizeram alguns leitores e a primeira versão desse texto pode ter ensejado. Não foi essa a intenção. Mantenha-se firme no seu magistério e eu, que recuso qualquer traço de arrogância ou imposição do poder, curvo-me aos testemunhos da sua competência. Aceite minhas sinceras desculpas.

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2 comentários

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  1. thadeu seixas disse:

    Prezado Marcos.

    É preciso restabelecer a verdade. Eu estava presente à Colação de Grau que vc se refere. Não sei se vc também estava presente ou se está repercutindo informação de terceiros. De qualquer forma o professor que leu o discurso do nosso saudoso político, não se enquadra na categoria dos que fingem ensinar. Não possuo MANDATO para defendê-lo, mas é justo que se registre: o prof. é um dos profissionais mais competentes dentre os que ministram aulas nas faculdades de Direito de Manaus. Assíduo, pontual,didático, disponível, competente e sempre atento em ensinar os princípios éticos e morais que devem nortear a atuação dos futuros operadores do Direito. Já fui aluno do citado professor e posso assegurar que ele sabe a diferença entre MANDATO E MANDADO. Provavelmente voce ou a pessoa que lhe informou, deve ter entendido mal. Quanto ao(s)aluno(s) que juram SOBRE a honra, nesse caso, infelizmente voce não ouviu mal.Abraços

    RESPOSTA:
    Também tive boas referências do professor, Thadeu. E acho que ninguém escapa desse tipo de escorregão. Mas ouvi aquelas três fontes de que precisamos para chegar ao fato e, até pelo amor à profissão, ele vai me perdoar por tentar usar o exemplo didaticamente.

  2. thadeu seixas disse:

    Parabéns Marcos pela humildade em rever sua posição. Vou continuar sendo leitor do seu blog e ouvinte assíduo do seu programa.