Os bastidores da inauguração do Bumbódromo, no Festival de 1988, 30 anos atrás

Os bastidores da inauguração do Bumbódromo

Os bastidores da inauguração do Bumbódromo. Na foto, eu (bons tempos esses dos cabelos🤔) e Paulinho Faria (com o microfone), apresentando o Peladão, em Manaus, na Eduardo Ribeiro, antes de nos enfrentarmos apresentando Caprichoso e Garantido.

O Festival de Parintins começou na quadra da Juventude Alegre Católica (JAC). Passou pela quadra do Ipasea, na Jônathas Pedrosa. Depois esteve no Parque das Castanholeiras, estádio Tupy Catanhede e Bumbódromo de madeira. No ano em que o Caprichoso não aceitou concorrer, o Garantido criou espaço próprio onde hoje é o Ilha Verde. E, finalmente, em 1988, nascia o Bumbódromo de alvenaria. Nesta sexta (29/06), quando os tambores soarem no 53º Festival de Parintins, 30 anos terão decorridos.

Era tudo muito diferente, do que ocorre hoje, no Festival Folclórico de Parintins.

Os bumbás recorriam a listas, tipo livros de ouro de formaturas, para cobrir as despesas. Famílias abastadas de Manaus formavam caravanas, em barcos, rumo a Parintins. A festa era fixa nos dias 28, 29 e 30 de junho.

 

Eu, apresentador

O bumbódromo de madeira, criado pelo prefeito Gláucio Gonçalves, ficou pequeno. O Garantido foi tricampeão, em 1984, 1985 e 1986. Em 1987, o empresário Dodozinho Carvalho e outros tantos torcedores do Caprichoso tomaram medidas para tentar reverter esse quadro.

Franco Costa, Rubem dos Santos (meu irmão mais velho) e Mário Gordo eram os apresentadores do Caprichoso. Paulinho Faria apresentava o Garantido, com Emerson Maia de levantador.

Em 1987, último ano do bumbódromo de madeira – capacidade de 5 a 6 mil espectadores -, Dodozinho me chamou para apresentador. Já havia apresentado o bumbá, em 1981, com lista enorme de grandes radialistas de Parintins: Raimundo Pimentel, Armando Carvalho, Zé Maria Pinheiro, Marduque, Mário Gordo e outros.

Topei o desafio. Avisei que meu amigo Paulinho Faria era quase imbatível e que nossa missão era diminuir a diferença para ele.

Esse é um capítulo à parte. Paulinho é super-competitivo. Era também, mais que apresentador, apaixonado pelo Garantido. Sempre fomos muito próximos, inclusive depois que vim para a capital, fim de 1980. Aí está belo exemplo de como alguém, seguro da qualidade do que faz, não precisa se importar com a concorrência. Apresentamos, competimos, trocamos umas farpinhas na arena e saímos mais amigos ainda. “O Parintins”, jornal de Fred, Bené e Vander Góes, mostrou foto nossa, conversando, depois da vitória do Caprichoso. Tinha a legenda: “O que será que Paulinho Faria e Marcos Santos conversavam depois do Festival?”

Acho que, com Paulinho, naquele 1987, sedimentamos um pouquinho mais do respeito entre os torcedores de Garantido e Caprichoso. Que, aliás, sempre existiu… embora as palminhas fossem pernamancas em tempos idos👊.

Sim, o Caprichoso ganhou em 1987. Franco Costa, nas duas últimas noites, foi o levantador de toadas e fiquei sozinho na apresentação.

 

Chega Arlindo Jr.

Chegou 1988, Bumbódromo de alvenaria pronto para a inauguração.

Um cantor de pagode, que fazia parceria com Rei Azevêdo, no bar “Levanta poeira”, do Afonso Rodrigues, galvanizou a torcida. Os ensaios do Caprichoso, que andavam meio desmotivados, estavam pegando fogo. Com voz potente e carisma inédito com a torcida azulada, nascia nos bumbás Arlindo Jr., o Pop da Selva. Foi levado para lá pelo presidente, Rubem dos Santos.

O Garantido inovou nas toadas. Foi um ano especialmente brilhante entre os compositores do bumbá vermelho e branco. “Filhos do Sol”, “Morena bela”, “Dança das cores”… A gente tinha o talento de José Carlos Portilho, com toadas antológicas. Estavam lá “Vaquejada” (“Esse ano eu vou/ erguer minha bandeira (bis)/ Eu vou tu vais, eu vou, eu vou (bis)”). E, novinha, estreante, “Coração azul e branco” (“bate que bate, bate coração azul e branco”).

Com Fred Góes recém-saído do internacional “Raízes de América”, o arsenal do Garantido era muito mais dançante. Atingia melhor a torcida. Paulinho tinha a galera na palma da mão. Trabalhava sozinho, àquela altura, com David Assayag fazendo backing, com Emerson Maia.

Arlindo Jr. enfrentou a parada com louvor. Confesso que, ano anterior, apesar da empatia de estreante com a torcida, doía o pulmão mexer com a arquibancada. Arlindo tirou isso de letra, com um simples “oi”.

 

E o novo Bumbódromo?

Todos diziam que era “obra faraônica” do governador Amazonino Mendes. Nunca iria lotar. Justiça seja feita, ele segurou a peteca e levou o trabalho até o fim. E lotou, logo na primeira noite.

Claro que, dada a subestimação do público, muita coisa ficou pelo caminho. Previa-se público de 12 mil pessoas – o dobro do bumbódromo de madeira. Deu mais de 30 mil. O som e a acústica não casaram. Tive que parar a Marujada de Guerra, no meio da apresentação, e reclamar com Amazonino: “Como é que o senhor faz uma obra desse tamanho e esquece do som?” Indaguei. Ah, meus 27 anos😂.

No dia seguinte, engenheiros e calculistas a postos, descobriu-se que os ferros do concreto do Bumbódromo estavam retorcidos. Por muito pouco não houve uma tragédia. Tudo teve que ser reforçado com escoras, para a noite do dia 29/06/1988. Foi um trabalho danado para os anjos da guarda, mas deu tudo certo.

O Bumbódromo lotou, desde a primeira noite, e a partir daí foram feitos diversos “puxadinhos”. Até a gestão Omar Aziz, que fez uma reforma maior, nos camarotes.

Homenagem

Soube que, na noite de abertura do 53º Festival de Parintins, haverá uma homenagem da qual participaremos. Legal a lembrança. Arlindo Jr. merece. Paulinho Faria idem. Estarei lá, em nome de meu irmão, Rubem dos Santos, presidente do Caprichoso em 1988. Nunca vou me esquecer do abraço que me deu, na casa dele, quando cheguei. Estava com as mãos ocupadas, carregando penelada de bodó, rumo ao QG do Caprichoso. Naquele tempo, o presidente tinha que ajudar artistas de todo jeito, inclusive levando comida da própria casa.

Bumbódromo 30 anos? Vida longa ao Festival de Parintins.

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *