Viver e morrer na AM-010. Rodovia Manaus-Itacoatiara, mais um exemplo de como não administrar o Amazonas

Viver e morrer na AM-010

Viver e morrer na AM-010, a rodovia que ceifou mais três vítimas e deixou 18 feridas no domingo (10/06).

A rodovia AM-010, Vital de Mendonça, Manaus-Itacoatiara, é mais que um ponto de ligação entre duas das principais cidades amazonenses. É símbolo de má gestão, falta de apetite pelo desenvolvimento e desrespeito à vida. E não apenas sob a gestão do governador Amazonino Mendes. É constatação histórica, que se torna trágica em acidentes como o que matou três pessoas domingo (10/06), ferindo 18.

A rodovia, no final do regime militar, ganhou as três pontes sobre o rio Urubu. Isso significou, à época, algo próximo do que hoje representa a ponte Rio Negro. Era a ligação Médio-Baixo Amazonas.

Itacoatiara tem posição geográfica privilegiada. Fica na confluência do rio Madeira com o rio Amazonas. O Madeira é aquele pelo qual as balsas, vindas de Porto Velho, abastecem Manaus. É por lá que o Sul Maravilha chega à capital amazonense. Porto e rodovia decentes, naquele ponto, transformariam a cidade num grande centro abastecedor, fomentando a economia, gerando empregos. A logística se veria livre das 24 horas ou mais de viagem Itacoatiara-Manaus, subindo o rio Amazonas. Seriam trocadas pelas três horas via rodoviária.

 

Plano jogado n’água

Isso foi pensado lá atrás, por volta de 1980, quando acidentes com balsas da travessia do Urubu escandalizavam o Amazonas. O último esboço de estruturação ocorreu com a construção do terminal graneleiro da Hermasa, na década de 1990. A partir de então, todos se voltaram para o Hino Nacional Brasileiro. E deitaram em berço esplêndido, sem nada mais fazer pela cidade.

Os resultados são visíveis. O terminal da Hermasa foi engolido pelo asfaltamento da rodovia Cuiabá-Santarém. Agora, a soja do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul circula por essa via. Passa por Itaituba (PA), no distrito de Miritituba, transformado na grande meca do desenvolvimento amazônico.

Itacoatiara, na questão dos grãos, ficou a ver navios.

 

Manutenção quando rompe ou no Fecani

A rodovia, enquanto isso, foi se deteriorando. Hoje, qualquer usuário pode atestar!, só há manutenção ou quando rompe bueiro ou no Fecani. O Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani) acontece em setembro.

Os praticantes de pesca esportiva têm uns 30 dias para aproveitar a via trafegável. Depois, as chuvas de novembro rompem o asfalto como se os pingos fossem brocas de aço.

Em fevereiro, no Carnaval, é uma temeridade trafegar na AM-010.

 

Abacaxi fica pelo caminho

Os produtores rurais de Novo Remanso, que fazem o abacaxi mais doce do Brasil, têm que arrastar caminhões em meio à buraqueira. Ou isso ou perdem a produção por falta de escoamento.

 

Risco diário

O usuário eventual sofre. E aquele que precisa da rodovia todos os dias? E pais que teimam em vir a Manaus ver os filhos ou, vice-versa, filhos que retornam para ver os pais? E caminhoneiros, taxistas, mototaxistas, motoristas de ônibus etc.?

Todos os dias, a partir do momento em que entram na rodovia, eles sabem que estão com as vidas em risco.

Essa estrada serve Rio Preto da Eva, Silves, Itapiranga e Itacoatiara. Aproxima todos os Municípios do Baixo Amazonas, especialmente Urucurituba, Maués e Urucará.

É preciso fazer alguma coisa.

 

Sinalização urgente

A primeira é sinalizar a rodovia. Isso é fundamental. A AM-010 não tem sinalização horizontal. Aquela pintura no asfalto mostra a hora de ultrapassar (faixa pontilhada). Revela quando alguém vem ultrapassando do outro lado (faixa pontilhada sentido contrário). Ou mostra o caminho, em caso de chuva, especialmente quando equipada com “olhos de gato”.

A sinalização vertical, as placas, mostram tanto a quilometragem, facilitando o trabalho de entregadores, quando limites de velocidade.

A rodovia Manaus-Itacoatiara precisa, claro, de asfalto decente. Algo que dure 20, 30 anos, permitindo manutenção mais barata e eficiente.

O retrospecto de descuido com as vidas que transitam por essa estrada estadual, porém, não permite um bom prognóstico. Ainda mais se olharmos para a AM-070, Manoel Urbano, Manaus-Manacapuru. A estrada está parada bem no meio e mesmo assim já tem buracos no trecho concluído. A sinalização vertical é deficiente e a chuva vai consumindo a horizontal.

O governo Amazonino Mendes parece ter retomado as obras na Manaus-Manacapuru. Anuncia também licitação para recuperar a AM-010. Tomara.

O Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM) podia variar um pouco, após tantos anos dedicado aos escândalos. Podia sinalizar essas estradas estaduais, salvar vidas e a imagem do governador.

Do jeito que vai, o amazonense vai continuar testemunhando mortes estúpidas na AM-010. Vai seguir o desfile de má gestão, inapetência administrativa e imprudência de motoristas.

 

Sinalizar é dar chance para os prudentes

Sinalização e manutenção de rodovias, aliás, existem justamente para oferecer uma chance aos prudentes. São eles que ficam desamparados numa competição em que vence o mais estúpido, louco ou imprudente. É aí que o poder público tem a obrigação de estar presente.

Kalino Hage dirigia o táxi com a avó, Valdira Rodrigues, e a tia, Simone Rodrigues. Motorista de micro-ônibus, de repente, vira numa curva, desvia de buraco e acerta em cheio o carro dele. Mais três mortos. Outras vítimas da AM-010.

Até quando?

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1 comentário

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  1. Henrique disse:

    Até quando, Marcos? Até sempre, pois esta merda aqui não tem jeito…