Rodoviários param cidade após vista em dissídio coletivo sob julgamento. Entenda esse panavueiro

Rodoviários param cidade após vista em dissídio

Rodoviários param cidade após vista em dissídio, pedido por desembargadora, e o povo mais humilde de Manaus paga o pato

A desembargadora Solange Maria Santiago Morais pediu vistas no processo do dissídio coletivo dos rodoviários maio/2016-abril/2017. Motoristas atravessaram ônibus nas ruas e impediram 200 mil pessoas de fazer o que planejaram para esta quarta (28/02). Os tempos são outros. Não cabe mais aceitar passivamente decisão injusta. Mas tais paralisações deixam para trás enorme panavueiro. São compromissos descumpridos, faltas e atrasos no trabalho, caos no trânsito, cidade de pernas para o ar. Democracia é equilíbrio, diálogo, intermediação das instituições. Nas relações trabalhistas não há nada que contemple a sobreposição da força, seja de trabalhador ou de empresário. É brutal o que se faz com a massa, fazendo-a sair de casa e depois mofar nas paradas, indefesa, desamparada. O povo de Manaus nunca foi tão claramente usado como massa de manobra de uma categoria, como fazem agora os rodoviários.

 

Como está o dissídio

O dissídio dos rodoviários, em julgamento, é o referente a 1º de maio de 2016 a 30 de abril de 2017. O Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (TRT11) julgou esses dias dissídio coletivo 2015 dos Atendentes de Farmácia. Ou seja, a Justiça Trabalhista é lenta, mas é mais lenta ainda com categoria diversa dos rodoviários.

 

Rodoviários param cidade após vista em dissídio. Foram os ‘incontroláveis’

A diretoria do Sindicato dos Rodoviários emitiu nota, nesta quarta (28/02), afirmando que os motoristas “ficaram incontroláveis”. Eles não teriam se conformado com o pedido de vista da desembargadora. Diz a publicação, textualmente: “40 motoristas resolveu (sic) ir ao Centro de Manaus e ao Terminal 1 da avenida Constantino Nery paralisar os transportes”. Ou seja, acreditando piamente nisso, 40 são suficientes para causar o estrago que causaram?

 

O jogo da liderança

Os irmãos Oliveira, que monopolizam a diretoria do Sindicato dos Rodoviários, foram reeleitos quase por unanimidade. Dominam completamente os atos de motoristas e cobradores. Diante das multas, ameaças de prisão e indignação da população com essas paralisações, eles agora não ficam à frente delas. Eles sabem o quanto mexem com a vida de Manaus e usam os tais “incontroláveis” como escudo.

 

O jogo da liderança (2)

Até hoje não foi explicado quem queimou ônibus em Manaus, à noite, fazendo com que todos os carros fossem retirados das ruas às 21h. Isso provocou correria no ensino noturno, antecipando o encerramento das aulas e colocando segurança em risco. Como ficou por isso mesmo, os líderes dessa loucura agora acham que podem fazer tudo e que permanecerão impunes. Isso é um perigo.

 

O jogo da liderança (3)

Liderança não pode ser exercida com equívoco. O sistema de transporte coletivo de Manaus, nesse jogo patrões-empregados, vai quebrar. Milhares de motoristas e cobradores perderão empregos. O caos, que virá a seguir, empurrará o prestígio das autoridades para o chão. O desempregado vai cobrar o emprego do líder que, equivocadamente, o empurrou para a rua dos sem-salário. Ninguém sairá ganhando. É um jogo de perde-perde.

 

Tarifa como pano de fundo

O uso da força, no caso a paralisação desta quarta (28/02), tem um agravante. Os donos de ônibus não podem reajustar salários porque a tarifa de R$ 3,80 não cobre os custos. É absurdo, mas dito pela diretoria do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram). Reclamam da concorrência de mototaxistas, alternativos, executivos e piratas de toda sorte. Afirmam que a crise econômica e esses predadores do sistema fizeram diminuir drasticamente o número de passageiros.

 

Tarifa como pano de fundo (2)

O prefeito Arthur Virgílio já disse que não vai dar reajuste porque os empresários não renovaram a frota. Arcou com enorme prejuízo de imagem ao reajustar a tarifa de R$ 3 para R$ 3,80. Pouco importa, na percepção da população, se o preço real da passagem sempre foi esse, R$ 3,80. Ninguém nunca compreendeu plenamente que a diferença, entre R$ 3 e R$ 3,80, era toda coberta por subsídios. Ninguém lembra que José Melo não pagou a parte do Estado e jogou as dívidas no colo da Prefeitura. Nem que, quando os subsídios deixaram de existir, a cidade passou a economizar quase R$ 100 milhões/ano. E se livrou de uma bola-de-neve que cresceria e cresceria e cresceria a cada ano.

 

Tarifa como pano de fundo (3)

Nesta quarta (28/02), um grupo de promotores de Justiça foi ao presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM). Pediu atenção para a liminar que proíbe reajuste da tarifa em Manaus até que a frota seja renovada. É ela que garante que pressões, como a paralisação desta quarta, não provoquem o reajuste que os empresários reivindicam.

 

Tarifa como pano de fundo (4)

Prefeito, empresários, rodoviários, promotores e a Justiça em geral sabem de tudo perfeitamente. Compreendem que, parando brutalmente, logo vai aparecer alguém dizendo que “é reajustar a tarifa do ônibus que tudo fica bem”. Ou seja, além de mofar nas paradas, arriscando emprego, o trabalhador mais humilde de Manaus pode acabar pagando a conta.

 

Socorro

Justiça do Trabalho, Sinetram, Sindicato dos Rodoviários e Prefeitura precisam acabar com isso. A crise econômica brasileira atingiu Manaus brutalmente. Perto de 50 mil chefes de família ficaram desempregados no Distrito Industrial da Zona Franca. Perderam, além dos salários, plano de saúde, duas ou mais refeições diárias, creche, transporte especial etc. A economia municipal –comércio, bares, restaurantes, hotéis etc. –, não aguenta “trancos” como a paralisação desta quarta.

 

Socorro (2)

A diretoria do Sindicato dos Rodoviários entende a conjuntura, o impacto completo do que fizeram? A sociedade manauara está indefesa? Vão brincar de novo com o Manauara porque é ano eleitoral? São essas as perguntas que precisam ser respondidas nos próximos dias. Se o transporte coletivo sofrer nova paralisação, como a desta quarta, a resposta será um rotundo e sofrido “NÃO!”

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1 comentário

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  1. Henrique disse:

    Olha, não sou de Manaus, mas é ridículo trabalhar pra pagar conta da empresa.
    Penso que se a empresa me contrata, deve arcar com os custos. Não pode justificar não dar aumento pq tem custos altos. Tem que tirar do lucro mesmo, pois se não tem administração adequada pra lidar com as finanças, não deveria entrar no mercado.