Perscrutando a reação ao impeachment dos principais líderes do Amazonas

O escritor russo Liev (Leon) Tolstoi disse que “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É assim que, para entender a reação dos políticos ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, é necessário perscrutar as terras barés e seus principais líderes.

O governador José Melo, por exemplo, às voltas com os problemas econômico-financeiros do Estado, dificilmente dedicará tempo para lidar com o vai-e-vem que se verá nos próximos dias. Ele tem, aliás, dado de ombros a qualquer coisa relacionada à política nacional, preferindo deixar esse campo por conta do senador e ex-governador Omar Aziz.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, acha que o partido lhe virou as costas na reeleição para o Senado e tem sido econômico nas intervenções nacionais. Quando fala é mais para alimentar o público interno que ainda o segue e menos seguindo qualquer orientação dos caciques tucanos. Ele tem dito que o impeachment ainda é precipitado. Sabe também que, na campanha da reeleição, o principal adversário será o candidato (a) do senador e ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga. E o impedimento de Dilma joga o País no colo do PMDB… de Braga. Assim, com problemas sérios, como o pagamento da segunda parcela do 13º dentro do prazo, o prefeito só entrará nessa batalha se ela ganhar contornos decisivos.

O ex-governador Braga está no olho do furacão. Como todos os demais ministros do PMDB será cobrado pelo Planalto para entrar na guerra, que já iniciou nas mídias sociais, contra o impeachment. Terá que abrir caminho para Dilma, internamente, no PMDB, e, ao mesmo tempo, buscar equilíbrio quase impossível, no fio da navalha, para não perder o espaço que teria, entre seus pares peemedebistas, caso a presidente caia. Vai oscilar entre Dilma e o vice-presidente Michel Temer. Ele sabe que a presidente vai segurar os ministros do partido até o limite, como uma cunha (sem trocadilhos) nas hostes do PMDB.

O senador Omar Aziz não morre de amores pela presidente e menos ainda pelo PT. Não perde uma oportunidade de dar o troco, como ocorreu no voto pela prisão de Delcídio Amaral. Ele aproveitou para comentar a nota assinada pelo presidente nacional do PT, Ruy Falcão, entregando o senador preso às feras, repetindo em tom apoplético: “Ele (Falcão) é um covarde. Um covarde. Um covarde”. Por quê? Porque o presidente veio a Manaus, na eleição de 2014, acabar com a “dúvida” do PT local e obrigá-lo a marchar com Eduardo Braga. Dilma, do mesmo modo, foi Alfredo Nascimento, adversário de Omar, até o fim. E ficou com Braga, que acolheu no ministério após a derrota para José Melo. Se continuar reagindo com o fígado, o senador será uma voz forte a favor do impeachment.

A senadora Vanessa Grazziotin, com o PCdoB tendo Aldo Rabêlo no Ministério da Ciência e Tecnologia e o esposo dela, Eron Bezerra, como secretário na pasta, fará tudo que o Planalto mandar. Defensora extremada dos impeachments de Collor, que colou, e de FHC, que não vingou, considera que o mesmo procedimento contra Dilma é tentativa de golpe. É o discurso do governo.

A bancada federal do Amazonas, com excessão de Arthur Virgílio Bisneto (PSDB) e Pauderney Avelino (DEM), que são da oposição, ficará à espreita. Os demais parlamentares não darão um “ai” antes de saber para que lado o pêndulo se inclinará.

Em resumo, se o impeachment dependesse do Amazonas, ficaria na vontade do intragável presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Como se trata de uma questão que envolve o PMDB, no entanto, cuja cúpula permanece muda ou evasiva, num sinal claro de que não desgosta da atitude do (intragável) Cunha, o processo pode crescer e aparecer.

Sobre o aspecto jurídico do pedido é bom ler o artigo de Felix Valois, neste portal, que é uma verdadeira aula sobre o tema (clique aqui).

As ruas precisam falar mais.

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