A Suframa, Arthur, Omar, Braga, Melo e a chegada de Rebecca Garcia à superintendência

A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) é uma autarquia. O que isso significa? No dicionário Houaiss: “Entidade de direito público, com autonomia econômica, técnica e administrativa, embora fiscalizada e tutelada pelo Estado…”. A atual briga pela nomeação de superintendente da Suframa, entre o ministro das Minas e Energia, senador Eduardo Braga (PMDB), e o também senador Omar Aziz (PSD), dá a impressão de que o “autossuficiente”, resumo do conceito acima, existe na prática. Não é verdade, todos sabemos, mas os desdobramentos políticos do gesto merecem análise mais demorada.

O Senado Federal é uma casa formada por apenas 84 senadores. Qualquer um deles, isoladamente, tem importância no xadrez político nacional. Líder de partido, então, integra o pomposo “colegiado de líderes”, que pode decidir muita coisa pelos demais. E Omar é o líder do PSD na Casa.

Braga, piloto de uma crise profunda no setor energético nacional, é hoje ministro prestigiado no Planalto. A presidente Dilma depende dele e equipe para superar a crise de abastecimento, um dos maiores fatores responsáveis pela queda de popularidade dela.

Omar bateu na mesa. Chegou a ameaçar sair da base aliada se a ex-deputada Rebecca Garcia, vice na chapa de Eduardo Braga derrotada por José Melo-Henrique Oliveira, fosse nomeada. Retardou o quanto pode o desfecho da costura feita por Braga. Confrontado com a oferta de nomear os demais cargos federais no Estado – que pode se transformar em ônus, mais que bônus – disse não. Agora, no entanto, parece ter se conformado: “Não vou fazer disso um cavalo de batalha”.

Rebecca, graduada nos Estados Unidos, ex-ocupante de cargos na cúpula de bancos como o Pontual, deve ser nomeada, finalmente, esta semana. Claro que sempre existe o imponderável, único fator capaz de segurar a caneta da presidente Dilma e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro. Mas funcionários da Suframa e sindicalistas dos trabalhadores e das empresas já dão a nomeação como favas contadas.

Braga é o principal fiador da posse. Teria fincado pé por se considerar “peitado” por Gustavo Igrejas, o superintendente adjunto que “herdou” a interinidade com a saída de Thomaz Nogueira. Igrejas, porém, teria dito a fontes próximas a Rebecca, no fragor da disputa, que, como técnico, não cobiça o cargo. Mesmo assim sai ferido das rusgas e deve perder o cargo de superintendente adjunto do órgão.

Um personagem, nesse estranho xadrez político brasileiro da atualidade, ganhou relevância na hora de bater o martelo: o deputado federal Alfredo Nascimento. Menos como parlamentar e mais como presidente do Partido da República (PR), condição na qual foi consultado pelo Planalto e também afiançou o nome de Rebecca.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), oposicionista e cada vez mais distante de Dilma, e o governador José Melo (PROS), ocupado com problemas domésticos, como a possibilidade de greve da PM e dos professores, não intervieram diretamente nessa briga. Mas, claro, Melo perde por ver a chapa adversária (Braga-Rebecca) em cargos relevantes. Dilma parece querer deixar bem claro que está passeando e andando para o governador amazonense.

A Suframa é um órgão falido. Autossuficiência? Zero. Isso só deve ter existido até Ruy da Costa Lins (15/03/1979 a 21/06/1986), o sexto superintendente, falecido em 29/04/2010.

A nova superintendente tem o desafio de buscar, no prestígio do ministro Eduardo Braga e no próprio trânsito pessoal em Brasília, o resgate de parte da verba confiscada anualmente do órgão pelo Tesouro Nacional, com o pomposo nome de “contingenciamento para formação do superávit primário”.

É esse dinheiro que permitia à Suframa distribuir benesses entre prefeituras e até governos estaduais da Amazônia Ocidental, oferecendo inserção e prestígio na política aos superintendentes.

Mês passado, quando queimou uma copiadora, usada no atendimento ao público, fundamental na entrega de recibos, a Suframa teve que recorrer ao Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), para pedir outra, a título de empréstimo.

É assim que vive, na pindaíba, o órgão gestor de 70% da economia amazonense.

Rebecca Garcia tem um baita desafio pela frente, certo? Errado. A Zona Franca enfrenta o que talvez seja o momento mais grave, com a economia estadual sofrendo solavancos que evidenciam isso: R$ 250 milhões a menos na arrecadação estadual do primeiro trimestre; 6 mil carros emplacados de fevereiro a maio/2015, contra os 6 mil da média mensal de 2014. Ninguém, seja técnico ou político, consegue reverter uma situação como essa sozinho.

O alerta é vermelho. O perigo é para todos.

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