A volta das greves em série, com novos líderes e velhos métodos

O pessoal das artes marciais conhece: faixa preta é especialista ou vai sofrer bullying na academia. A oposição desenvolveu, ao longo do período ditatorial e nas primeiras décadas da redemocratização, um know how invejável em greves. Aí, em 2002, José Serra perde para Lula e o PT chegou ao poder, levando de carona o PCdoB e o PSB. O País ficou anos sem paralisações significativas. Os caminhoneiros e os professores, em vários Estados, inauguram agora novo período grevista, mas, com os velhos líderes empoleirados no poder, têm sido obrigados a forjar novas lideranças. Estas, porém, sem a expertise dos anteriores, são obrigadas a lhes seguir os passos, imitando métodos, repetindo antigos erros.

Ninguém, em sã consciência, pode dizer que os caminhoneiros não têm razão. Dilma reajustou a gasolina e o diesel, mas manteve congelado o valor do frete. Num País sem cabotagem, sem hidrovias, sem portos, com a malha fluvial desperdiçada e, ao mesmo tempo, sem ferrovia, são esses profissionais que transportam praticamente tudo. E, para isso, precisam transitar em estradas sofríveis, sem sinalização, sem asfalto, atupetadas de buracos. Um verdadeiro cadafalso, colocando em riscos as vidas deles e dos demais usuários.

Em cenário assim, a greve é consequência natural. O Brasil inteiro, aliás, aplaude o movimento paredista dos caminhoneiros.

O método, porém, traz um vício de origem: atinge o povo, usa a população como mera massa de manobra, repetindo o pior das piores políticas.

A pressão sobre o Governo, para atingir os objetivos, precisa primeiro que os produtos comecem a escassear nas gôndolas dos supermercados. O preço dos hortifrutigranjeiros, que viajam de um lado para o outro, Brasil afora, subiu nas centrais de abastecimento, em reajuste que deve chegar aos 50% para o consumidor. O povo passou dias para entender que e como seria atingido e só agora começa a se manifestar, timidamente.

Caminhoneiro, no cenário do Brasil atual, não é exceção. Fiscais da Receita Federal quando param também não atingem o Governo, mas, travando portos e aeroportos, prejudicam o empresário, que paga os impostos e, por esta via, o salário do próprio grevista. Motoristas de ônibus deixam o trabalhador a pé, entupindo as paradas, colocando empregos em risco. Professor, e os da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) são exemplo, simplesmente deixa de dar aulas e joga a duração dos cursos no rol da incerteza.

Tudo se moderniza. Greve também precisa se modernizar.

Por que o motorista de ônibus não faz greve simplesmente deixando de cobrar a passagem? O empresário vai tratar de atendê-lo, sentindo as consequências no bolso.

Fiscais, no lugar de travar tudo, podiam distribuir panfletos aos usuários denunciando as péssimas condições de trabalho, cumprir rigidamente a jornada, sem aceitar plantões extras, e julgar rapidamente, inclusive com mutirões, os processos administrativos que dormitam nas gavetas e podem “furar” o orçamento federal. Quando começar a faltar dinheiro para pagar as empreiteiras, os políticos vão sentir o problema.

Professores universitários deveriam, após se declarar em greve, esquecer as ementas e passar a tratar apenas de conscientização política dos alunos. Hoje, em movimento como esse, o prato do dia é o escândalo da Petrobras. A mobilização em peso dos alunos de cursos superiores, das universidades federais, para protestar contra esse descalabro seria um torpedo na popularidade da presidente. E o MEC logo seria instado a atender os mestres.

Trabalhador detesta greve de ônibus. Estão aí os carros depredados, queimados, e as ameaças dos populares aos motoristas.

Professores grevistas não têm mais o apoio incontinente dos alunos. Estes patrulham os que usam o período para viajar, sair de férias, curtir o lazer – e a falta de quórum nas assembleias denuncia isso –, algo comum, nesses movimentos, que acaba expondo os que entram neles com sinceridade de propósitos.

Empresários odeiam quando mercadorias ficam presas nos galpões da alfândega e a economia – consumidor em última instância – sofre terrivelmente.

Greve é cidadania. O Brasil avançou através dela, naquelas priscas eras em que Lula e o PT eram grevistas. Ninguém aqui tem a intenção de inventar a roda, mas o aprimoramento democrático passa, obrigatoriamente, pela renovação dos métodos.

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