Os fetiches da Zona Franca e do asfalto como armas eleitorais petrificadas no Amazonas

Uma brincadeira recorrente nas redações de jornais se dirige aos repórteres de Economia. Formam-se, diante de qualquer ameaça ao modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) – e elas são quase diárias -, caravanas de “salvadores”, que se dirigem a Brasília para a defesa do modelo. “Já vai salvar a Zona Franca, fulano (a)?”, brincam os colegas. É um fetiche. O governante ou parlamentar pode fazer qualquer coisa, esquecer educação, saúde, segurança, abandonar o interior, mas se deixar traço de omissão na defesa da ZFM está perdido. O povo não perdoa. Não vota.

O fetiche também existe em relação ao asfalto. Há uma estrada de cerca de 60 quilômetros, ligando a comunidade de Novo Remanso à rodovia AM-070 (Manaus-Itacoatiara), com cerca de 60 quilômetros de extensão, que é asfaltada todo ano. Fica ótima na Semana da Pátria, perto da colheita e do Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani), mas vira uma tábua de pirulitos no Carnaval. O ciclo tem “vantagens” para os responsáveis, como a proximidade do 7 de Setembro das eleições. Estrada asfaltada, povo feliz. Cheia de buracos? Revolta. Mas aí a eleição está longe.

Fetiche, segundo o dicionário Houaiss, é “objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico e a que se presta culto”. É a definição da Zona Franca e do asfalto, no contexto eleitoral amazonense.

A ZFM já respondeu por quase 100% da economia estadual. Hoje, com a taxa absurda de 25% de ICMS nas contas de energia, água e telefone, mais os royalties do petróleo, o modelo responde por algo em torno de 70% do dinheiro arrecadado pelo erário amazonense. E o asfalto, que o povo já aceitou fosse apenas aquela fina camada de tinta preta jogada no chão (o piche, a imprimação), hoje precisa ter qualidade, como a que o prefeito Arthur Virgílio tenta imprimir em Manaus.

É hora de devolver as coisas ao lugar da sanidade coletiva. Estabilidade é uma das principais exigências de qualquer multinacional que pretenda investir em Manaus. Quem vai colocar R$ 200 milhões num negócio sem garantia, instável, sob risco? A prorrogação do modelo por mais 50 anos é uma garantia, mas de nada adianta se as canetadas de Brasília e dos demais Estados, principalmente São Paulo, não forem combatidas com mais eficiência e menos eventualidade.

Asfalto pode e deve vir acompanhado de saneamento básico, drenagens superficial – sarjeta, meio-fio –,profunda, a tubulação para as águas pluviais, e o esgoto propriamente dito, com tratamento para águas servidas e sanitárias. Aí dura mais e alivia o eleitor desse fetiche, liberando essas mentes para reivindicar educação e saúde de qualidade, por exemplo, além de fiscalizar melhor o uso da verba pública.

O Amazonas depende do combate a fundamentos da mentalidade arcaica e provinciana na política. Só assim dará um passo mais sustentável em direção ao desenvolvimento – que traz a necessária qualidade de vida, com a qual o caboclo mal chega a sonhar.

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