O movimento da ‘geração esquecida’ e o pensamento caciquista de não permitir ‘cristão novo’ na política

Marcelo Ramos, Rebecca Garcia, Hissa Abrahão e Marco Antônio Chico Preto encontraram um viés de entrada na chamada “grande política” do Estado. Fizeram, com o encontro do final de semana passado, quando decidiram emitir um manifesto contra decisões de cúpula e a favor da pluralidade, um movimento fundamental em política: ocuparam o espaço vazio da oposição no Estado. É essa a ideia? Não? Mas foi o que aconteceu na prática.

Os deputados estaduais Luiz Castro e Zé Ricardo, além do próprio Marcelo Ramos, fazem oposição na Assembleia Legislativa. Atiram para tudo quanto é lado em busca de algum lugar, no espaço cada vez mais restrito para eles na imprensa. Castro é do PPS, onde a estrela é Hissa Abrahão; Zé Ricardo é do PT, onde o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Valdemir Santana, tem levado todas e quando não leva vêm Dilma e Lula e levam para eles. Marcelo está no PSB, onde o ex-prefeito Serafim e o vereador Marcelo Serafim são os donos – e o primeiro-filho é desafeto explícito do xará.

Ramos, por outro lado, tem afinidade com Marina Silva, que está fazendo uma série de exigências para se tornar vice de Eduardo Campos, na chapa à Presidência da República do PSB. Os dois descem em Manaus no mês que vem. E se Marina e Eduardo Campos chegarem dizendo que querem um palanque com Marcelo Ramos candidato ao Governo? A família Serafim, por mais que esperneie, terá que aceitar.

A oposição no Amazonas, enfim, está num gueto sem saída.

Marcelo, Hissa, Rebecca e Chico Preto estão dizendo que há alternativas ao desenvolvimento do Amazonas, fora da elite vencedora e mandante do Estado. Afirmam que são integrantes da “geração perdida” – um conceito que percorre o mundo sociológico e sempre volta à tona, quando os mandatários envelhecem – e, apesar de preparados, nunca tiveram espaço para influir nas decisões de cúpula.

Os quatro miraram contra o chapão, com o governador Omar Aziz, o prefeito Arthur Virgílio e uma carrada de prefeitos – que em época de eleição governamental costumam se comportar como “Maria vai com as outras”, em busca da sobrevivência administrativa – apoiando a candidatura de Eduardo Braga ao Governo do Estado. Todos empurrados pela vantagem dele nas pesquisas – internas e externa – e pelo puxão de orelha do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. Acabaram por acertar, no entanto, no vácuo da oposição.

Como pode um Estado do tamanho do Amazonas viver do “sim senhor” para tudo que o Governo manda? Oposição é o lado da política que cobra, sem amarras, apontando alternativas e detonando as más ideias. Se os últimos governos que passaram pelo Amazonas fossem tão brilhantes, o interior amazonense não seria o que é. E talvez o seja porque não apareceu ninguém com autoridade política, intelectual e moral para dizer onde está o erro e qual o caminho certo a seguir.

Os ocupantes de cargos de mando têm uma lógica de sobrevivência: quanto menor for o número de aspirantes aos postos-chaves melhor. Por que admitir um nome novo postulante ao cargo de governador? Será uma sombra, no mínimo, mesmo que perca a eleição.

Marcelo, Rebecca, Chico Preto e Hissa não virarão, da noite para o dia, um grupo igual ao formado por Arthur Virgílio, Mário Frota, Félix Valois e Serafim Corrêa, no Muda Amazonas, de 1986, que frutificou em dois prefeitos de Manaus, um vice-prefeito e vários outros ocupantes de cargos de primeiro escalão. Peitou Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes explicitamente. Mas os novos líderes colocaram a cara na janela e tornaram-se visíveis. São árvore nova na paisagem pálida da política “mais do mesmo” do Amazonas.

Que, dada a dimensão do gesto, venham atitudes concretas. A política espera muito desse manifesto que vem aí.

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