Camelôs do entorno da Matriz e início da Eduardo Ribeiro são retirados. Sociedade começa a perceber que ambulantes deixaram de ser ‘problema do Arthur’ e tornaram-se um problema da cidade

Desde dezembro de 1991, há 23 anos, todas as vezes que o atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, ensaiou candidatura a cargo executivo no Amazonas um vídeo, com guardas municipais batendo em camelôs, vinha à tona. As imagens foram, talvez, as mais usadas em campanhas políticas no Estado. Desde a eleição de 2012, porém, a sociedade começou a perceber que o Centro foi perdido para o excesso de ambulantes e que Arthur se tornou uma espécie de faixa preta da política em relação ao problema. Parte da eleição dele para a Prefeitura, naquele ano, ocorreu por conta desse raciocínio.

O combate camelôs-guardas municipais se tornou um problemão político para Arthur. Hoje, com calçadas e mesmo ruas ocupadas pelas barracas dos ambulantes, além de a histórica avenida Eduardo Ribeiro estar marcada por barracas cobertas de negro, à noite, a consciência manauara começa a acordar e a perceber que o bem coletivo foi apropriado de forma indevida.

E a questão social? O principal argumento está nas entrevistas dos camelôs: “Meu pai trabalhou a vida inteira aqui, como camelô, e aqui eu criei meus filhos e ganho meu sustento. Que eu vou fazer se me tirarem daqui?” Claro que tem muita mentira pelo meio: “Trabalho nesta banca há 20 anos”, disse um deles, apontando para um local no Terminal 5, o T5, no São José. Ora, o local foi construído pelo ex-prefeito Alfredo Nascimento, quando montou a primeira versão do Expresso, por volta de 2004. Passaram-se nove anos apenas.

Camelô é uma atividade informal, provisória. Ao atravessar todos esses anos constitui prova de que a sociedade foi incapaz de oferecer ao cidadão, alternativa para se desvencilhar de uma ocupação sem FGTS, direitos trabalhistas ou qualquer perspectiva de aposentadoria, mínima que seja, sujeita a chuva e sol, além da insegurança das ruas.

Outro dado diferente, em relação àquele 1991, quando os camelôs foram retirados das ruas por Arthur Virgílio: os tubarões que exploravam a atividade fecharam os seus negócios. Não existe mais o Sukatão, que abastecia mais de 10 mil ambulantes. Nem Jumbo Miranda, que incentivava e financiava o confronto com os guardas municipais.

O prefeito, por outro lado, amadureceu, arrefeceu o ímpeto e hoje soube esperar pela construção do primeiro camelódromo, na galeria Espírito Santo, na Joaquim Nabuco, antes de começar a retirada dos ambulantes das ruas. Fez várias e várias concessões, como a obtenção de financiamento e o pagamento de bolsa de R$ 1 mil.

Tomara que o prefeito não pare mais. Mas, para não parar, é preciso que a sociedade mostre com muita clareza de que lado está. Ou então uma pequena passeata, com 25 ambulantes apenas, vai suscitar nas mentes aquele “coitado” que ignora os outros milhares, felizes proprietários de um local mais digno, formal e financiado.

Pergunte, em qualquer roda, se alguém volta a uma cidade para o qual viaje como turista e onde encontre um porto conturbado como o nosso, com ambulantes fechando as ruas, naquela balbúrdia do Centro de Manaus. Ninguém volta. Ninguém paga para sofrer.

Arthur, camelô não é mais problema seu. É problema nosso.

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1 comentário

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  1. Denys Cruz disse:

    Foi um dia histórico pra Manaus. Arthur cravou o nome na história e calou todo
    a opinião sobre o passado. Enterrado.