Ponta Negra precisa de atenção ou será como a vaca campeã mundial, que dava 500 litros de leite e depois metia o pé no balde

A Ponta Negra sempre foi um dos cartões postais de Manaus. Quando recebeu o calçamento, então, mesmo com a mudança no projeto original de Severiano Porto, que privilegiava a vista do rio, ficou ainda mais atraente. Depois, a obra foi abandonada, depredada, virou um lixo. Veio o prefeito Amazonino Mendes e, com projeto dos escritórios de Roberto Moita e Cláudio Nina, executado pela Mosaico Engenharia, virou sucesso absoluto.

O maior sucesso é, sem dúvida, a praia perenizada. Aquela faixa enorme de areia, em pleno comecinho do verão, em julho, lavou a alma da população. Mesmo em dias de chuva, a praia, desde então, permanece lotada. Embora a maioria dos moradores da área vire o rosto para essa “invasão”, o povo adotou o logradouro, onde casais humildes passeiam de mãos dadas com os filhos, parecendo pouco se importar com o sacrifício das horas dentro dos ônibus.

Mas há muitos problemas.

Os bombeiros, por exemplo, ignoram que a praia tem movimento praticamente 24 horas e dão um burocrático plantão salva-vidas entre 7h e 18h. Quem passa por lá vê famílias inteiras dentro d’água e muitos jovens, bebendo desbragadamente, noite adentro. É evidente que isso vai dar problemas.

O caso dos afogamentos é um deles. Há até quem os atribua à obra de perenização da praia. Não têm nada a ver. Cobri esse trabalho e vi que a alternativa, o aluguel de dragas iguais às de Dubai, sairia milhões e milhões de reais mais caro que a alternativa cabocla utilizada.

Em 2010 foram registradas 79 mortes por afogamento, ano passado 85 e 45 este ano, até agora. Antes, a praia era frequentada por alguns gatos pingados, exceto nos domingos de muito sol, e tem agora esse mar de gente. Todas essas mortes poderiam ter sido evitadas com uma ação efetiva, preventiva e de socorro que, como os fatos demonstram, não houve.

Agora, com o cartão postal no auge, a Prefeitura, o Corpo de Bombeiros e as demais autoridades correm o risco de deixar a Ponta Negra esvaziar como um saco. E nem a primeira etapa está concluída – porque ainda falta uma ponta da perenização, no ponto em frente à antiga sede da Federação Amazonense de Remo.

É importante destacar que os 40 metros perenizados são hoje a menor parte da faixa de areia, que, com a seca, tem agora quase 200 metros de largura. Não cabe, portanto, alegar que os buracos deixados no trabalho estejam provocando os afogamentos.

A Ponta Negra é uma conquista da cidade. É dever de todos contribuir para aprimorá-la. Será um grande erro permitir que se transforme naquela vaca holandesa, campeã internacional, que dava 500 litros de leite e depois derramava tudo, metendo o pé no balde.

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3 comentários

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  1. Valdenira Amaral disse:

    Marcos bom dia!

    Trabalho no hotel park suites, e acompanho o movimento na praia diariamente, é preocupante o numero de mortes que tem acontecido por lá, vc têm toda razão as autoridades precisam tomar providências urgentes com relação aos banhistas e na segurança no local, porque no meio das famílias os marginais se infiltram, colocando em risco os banhistas e nós trabalhadores que pegamos os ônibus diariamente. Eu não sei como as autoridades teriam esse controle, ao sair do trabalho pegamos os onibus e lá está aquele povo todo molhado sujo de areia o onibus lotado e agente tendo que suportar isso. hontem mesmo peguei o onibus da linha 678 e por pouco não fui roubada e ainda fui ameaçada de espancamento,para que o pior não acontece tive que sair da cadeira em que estava, porque fiquei com medo, a quem devemos recorrer para que providencias sejam tomadas nesse sentido? Não deveria ter uma lei que proibisse esse povo de sair no horário de pico? Ou sei lá alguma providencia têm que ser tomada, o que não pode é agente que passa o dia todo trabalhando e ainda ter que conviver com um bando de desocupados sujos e ainda ameaçando agente (falo dos marginais infiltrados).
    Fica registrado meu desabafo!!!

    Valdenira Amaral

  2. Daniel Herszon disse:

    Caro Marcos Santos,

    Sou Vice-Presidente da Federação Amazonense de Remo, e gostaria de fazer uma pequena correção em seu Editorial. É quando você se refere à faixa de areia que falta ser aterrada, indicando ficar em frente à “antiga” sede da Federação Amazonense de Remo.
    Naquele local continua funcionando a Sede de nossa Federação, apesar de desde o início das obras (a mais de 2 anos atrás), a construtora ter retirado os nossos cabos de energia, nos deixando até hoje sem luz. Apesar de nossa água ter sido desligada também desde aquela época. Apesar de a Prefeitura, através da SEMINF (leia-se Sr. Secretário Américo Gorayeb), ter prometido uma reforma no local, inclusive com desenvolvimento de um projeto, que até hoje não saiu do papel. Apesar do Poder Público ter virado as costas ao nosso esporte, continuamos com nossas atividades sendo desenvolvidas diariamente, das 5:00 às 7:00 horas da manhã. Vale salientar que nós mesmos temos feito em sistema de mutirão a pintura da área externa de nossa Sede, com a doação do material por parte de alguns simpatizantes. Nós da Federação, entendemos que a Ponta Negra necessitava de uma reforma como a que foi feita, pois aquele local estava totalmente entregue às moscas, e hoje é o local mais aprazível da cidade, mas não entendemos o motivo da Prefeitura ter abandonado aquele canto no final da praia em que nossa sede se encontra. Fica aqui o meu registro, colocando-me a disposição de qualquer informação adicional.

    Abraços,

    Daniel Herszon (9128-7904)

    RESPOSTA:
    Daniel, como amante do esporte e admirador do remo, em especial, deixo aqui minha solidariedade. Não entendo como vocês ainda não botaram a boca no trombone com mais força. O Amazonas tem tradição no remo e as conquistas obtidas por nossos remadores seriam suficientes para justificar mais investimento na área, não fosse a tradição do caboclo e a relação dele com a modalidade. Vamos à luta para evitar que esse estado de coisas continue.

    1. Daniel Herszon disse:

      Caro Marcos Santos,

      Obrigado pela solidariedade. Fico feliz que você está do nosso lado, pois sabemos da repercussão de tudo que é tratado em seu blog, e principalmente na rádio CBN. Durante estes dois anos fizemos diversas reportagens tanto em jornais quanto na televisão, relatando o total descaso do Poder Público para com nosso esporte. Relatando também os atletas que perdemos para clubes do Rio de Janeiro, que compõem a Seleção Brasileira, representando outros Estados. Aí cabe uma pergunta: Para que serve o Bolsa Atleta subsidiado pela Prefeitura de Manaus, para atletas que fazem parte das Seleções Nacionais? Por quê estão sobrando vagas? A resposta é simples. Caso estes atletas dos mais diversos esportes fossem repatriados(Podemos citar Lígia Santos do Tênis de Mesa, Sandro Viana do Atletismo, Bianca Mendonça da Ginástica, Marcos Ibiapina e James Correa do Remo, entre outros), onde eles iriam treinar? Com qual estrutura? Com que treinadores, fisiologistas, nutricionistas, etc? Estes atletas não vão retornar ao Amazonas apenas por uma bolsa de R$4.000,00, pois eles têm a consciência que com a falta de estrutura em praticamente todos os nossos esportes, em pouquíssimo tempo eles deixariam de compor as Seleções Brasileiras. Esta é a luta inglória que o esporte amador trava diariamente em nosso Estado. Só é lembrado em época próxima a Olimpíadas, mas aí já é tarde. Um atleta de ponta, vencedor, não se faz em menos de 8 anos!!! Muito dinheiro foi gasto no último ciclo olímpico, mas os resultados foram pífios. Continuamos dependendo de lampejos de alguns abnegados, como o pessoal do boxe, a menina do pentatlo moderno, do iatismo, e de alguns esportes em que o investimento é feito de maneira mais profissional, como judô e principalmente o volei.
      De qualquer forma mais uma vez agradeço pelo apoio, e tenha certeza que continuaremos na luta.
      Abraços,
      Daniel Herszon