Quem paga o pato do gato é você e a viúva. A AM Energia só come a parte do leão

A ligação clandestina, popularmente conhecida como “gato”, é um caso ilustrativo de como funciona o serviço público brasileiro.

Todas as instalações do fornecimento de energia para residência, comércio e indústria são feitas dentro de uma previsão de consumo. Quanto mais unidades um determinado trecho vai servir, maior a necessidade de investimento em alimentadores, transformadores etc. A empresa responsável, no caso amazonense a Eletrobras Amazonas Energia, vai dosando os recursos e aumentando a capacidade à medida que a demanda aumenta.

Quando se instala uma invasão – ou ocupação de terra, como dizem os engajados -, a primeira coisa que os líderes fazem é “puxar um gato”. Os liderados seguem o exemplo, o consumo explode e com ele os transformadores e os eletroeletrônicos dos que estão na mesma rede.

O ideal seria que o poder público tivesse uma previsão de demanda habitacional, incentivasse a produção de loteamentos populares e construísse residências em número suficiente para impedir invasões. Como isso é utopia, num País em que governante mira o voto com lupa e se recusa a olhar o futuro, pelo menos as demandas públicas deveriam ser controladas.

Por que, por exemplo, com tanto prejuízo, os “gatos” não são combatidos?

Uma das razões é que políticos reagem e pressionam contra ações desse tipo.

A outra é que a empresa concessionária – a Amazonas Energia, no nosso caso – tem muito pouco a ver com isso.

A cobrança, como ficou claro nos mais recentes reajustes, no valor da tarifa e do ICMS incidente sobre ela, é feita por oferta e investimento. Sobra pouca para a eficiência. Ainda mais porque, segundo o diretor de Geração, Transmissão e Operação da Eletrobras Amazonas Energia, Tarcísio Rosa, quem paga o pato do gato é o consumidor. Fica alguma coisa sem cobertura? Sim, mas aí entra o erário, a viúva, o dinheiro que o Governo Federal arrecada de todos os brasileiros, e cobre essa parte.

Em resumo, o gato não é combatido porque o prejuízo é distribuído por toda a população. Ligação clandestina só dói na empresa concessionária se o consumidor pressiona pesado por qualidade e estabilidade do sistema. Se reclamar pra valer, por exemplo, de apagões seguidos como os que vêm acontecendo em Manaus. Ninguém parece muito preocupado se o anônimo morre eletrocutado tentando puxar a ligação de casa ou consertá-la, muitas vezes no meio da chuva, ou se a indústria e o comércio precisam aumentar os investimentos e repassar isso para o preço do produto, aumentando o que pomposamente é conhecido como “preço Brasil”. Aí está o verdadeiro cerne social da questão.

Quem paga o pato precisa reclamar do gato porque só assim atinge quem come a parte do leão. E começa a quebrar esse jogo de bichos que impede o crescimento do Brasil.

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2 comentários

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  1. Ricardo disse:

    Na mosca Marcos! Parabéns por nos brindar com este texto!

  2. Maria Jose disse:

    Todos sabemos desse absurdo, mas como bons brasileiros ficamos vendo as noticias e de boca fechada!! um caos, que pena;;;