Amom e a ZL: tire os memes da sala, veja o BO na PF e a versão da Rocam

Amom e a ZL

Amom e a ZL estão no meio de grande repercussão. Aqui os fatos daquela noite. Foto: Reprodução

O deputado federal Amom Mandel foi abordado pela Rocam, às 22h, dia 04/01, na avenida Autaz Mirim (Grande Circular), na Zona Leste (ZL). É “zona vermelha” para a Polícia, que realiza a “Operação Impacto”, contra o tráfico de drogas. O tenente que estava no comando afirma que as luzes estavam apagadas, o carro usava insulfilm e não parou, quando abordado. A motorista era Sarah Mariah, negra, há 23 anos moradora da ZL e companheira (união estável), do deputado. Ela afirma que deu sinal de que pararia no acostamento e, mesmo depois de abrir os vidros, foi tratada duramente. Aí Amom apareceu. O oficial diz que colocou a arma no coldre, quando o viu. O deputado diz que não. E deu voz de prisão, como a lei faculta a qualquer cidadão, por abuso de autoridade. Mas isso é só o começo da história.

 

A política

Amom Mandel é candidato a prefeito de Manaus. Aparece “cabeça a cabeça” com o prefeito David Almeida. Há poucos dias, num vídeo que publicou nas redes sociais, o ambiente preferido dele, disse: “Não quero ser prefeito de Manaus”. Queria dizer que só será quando a lei permitir e se o povo pedir. Os adversários multiplicaram a fala por milhões e uma pesquisa surgiu, instantaneamente, retirando-o da disputa.

 

A política (2)

Amom entregou à PF, há pouco tempo, relatório que incrimina altas autoridades do Amazonas, relacionando-as com o tráfico de drogas. Isso o afasta, neste momento, da possibilidade de alianças políticas com as máquinas eleitorais amazonenses.

 

Voltando à ZL

No auge da discussão com o tenente, e após a “voz de prisão”, o oficial chamou um superior. Foi ao local o tenente-coronel Peter Santos, que responde pelo Comando de Policiamento de Área Norte (CPA Norte). Amom pediu que a prisão fosse cumprida. Peter negou: “Não vi nenhum abuso de autoridade aqui”. “Então você também está preso”, disse o deputado.

 

Sem carteirada

Amom, Rocam e comando da PM concordam numa coisa: o parlamentar não deu carteirada, nem houve o famoso “sabe com quem você está falando?”.

 

Chega o subcomandante da PM

O coronel Thiago Balbi, subcomandante-geral da PM, foi o próximo oficial a chegar ao local. Ele tentou conciliar as coisas e obter um acordo entre as partes. Um capitão PM, amigo de infância do deputado, foi ao local e, autorizado por Balbi, também tentou diálogo, mas voltou dizendo que ele estava irredutível.

 

Chega o secretário

Amom ligou para o secretário estadual de Segurança, coronel Marcus Vinícius Oliveira de Almeida. Vinícius também foi ao local. O deputado insistiu na prisão dos oficiais. O secretário levou todo mundo para o 14º DIP, onde foram ouvidos, separadamente, pela delegada supervisora da área, Cristiane Perinazzo.

 

Na delegacia

Depois de mais de seis horas de depoimentos, a delegada mandou todos para casa. “Não vejo razão para prisão de ninguém. Vamos instaurar inquérito”, disse.

 

O caso nas redes sociais

“Influencers”, “lacradores”, fakers, memistas e os exércitos a serviço de candidatos entraram em cena. Apareceram inúmeros memes e “matérias” com versões totalmente desinformadas do caso Amom e a ZL. A maioria apontava para o lugar comum: deputado, carro de luxo (elétrico), transitando na ZL àquela hora… um prato cheio. Ninguém se tocou para Sarah Mariah, moradora do local, que estava indo deixar uma amiga.

 

A versão de Sarah

Sarah Mariah rompeu longo silêncio. Como companheira de Amom, ela prefere o anonimato. Mas, ontem (05/01), Sabrina Castro (@TiaSassa), perdeu ótima oportunidade de ficar calada. No perfil do X (ex-Twitter) comentou: “Fiquei imaginando uma pessoa preta andando na ZL de carro e furando barreira policial”. Sarah entrou de sola: “Havia uma pessoa preta dirigindo na zona leste e essa pessoa era eu”, disse. Veja, abaixo, os prints do relato dela:

 

 

A versão da Rocam

O comandante da Rocam, major Jackson Ribeiro, lembra que o comando segue padrões numa abordagem como essa. “Não houve revista, nem pessoal, nem no carro. Não vi abuso de autoridade”, disse. O major acaba de deixar, por iniciativa própria, o posto privilegiado de subsecretário da Casa Militar para assumir esse comando operacional. Ele é um dos raros PMs amazonenses formado no Bope, do Rio de Janeiro, considerado um dos cursos mais duros do mundo para policiais.

 

Amom na PF

O deputado, a essa altura já execrado nas redes sociais, rompeu o silêncio em depoimento à Polícia Federal (PF). Ele chegou às 16h30 de ontem (05/01) e saiu após as 19h do local. Estava acompanhado do advogado Yuri Dantas. Veja, ao fim da coluna, o Boletim de Ocorrência (BO), que lavrou na PF. Atenção: não é BO e sim um Termo de Declaração. BO é usado nas delegacias da Polícia Civil.

 

Segue a campanha

Amom divulgou vídeo, responsabilizando as autoridades de segurança pelo que acontecer com ele e a família. Pediu segurança à PF e à Polícia Legislativa da Câmara Federal. A campanha para prefeito de Manaus esquentou de vez.

 

A opinião do portal

O tráfico de drogas é uma praga que assola o planeta. Traficantes ficam ricos da noite para o dia, alimentados tanto por usuários de classe média, quanto pelos “vapores”, os que traficam para garantir o consumo. Liberar, endurecer… nada funcionou até agora contra essa que é a segunda maior indústria mundial, atrás apenas do tráfico de armas. A síntese são os preconceitos, revelados nas “zonas vermelhas”, como a ZL, que transformam qualquer morador em suspeito. Agora imagine uma viatura policial abordando carro sem as prevenções de segurança e lá dentro encontrando um “bonde” – grupos que saem às ruas, fortemente armados, para roubar e matar? Ou, do outro lado, alguém totalmente despreparado para qualquer tipo de acusação, inocente, passando por uma abordagem “padrão” da polícia? Tudo indica que foi o que aconteceu na ZL, entre o deputado Amom e a Rocam. Mas aí entra a política. É algo em torno de R$ 8 bilhões em orçamento anual da Prefeitura de Manaus que está em jogo. Uma disputa onde está Amom, “um moleque”, para muitos, alguns deles pais, que não percebem emitir juízo de valor contra o próprio filho: “Se meu filho é um irresponsável, despreparado, esse rapaz também é”. Que, por sua vez, esconde o “se não fui capaz de preparar meu filho para isso, nenhum pai é capaz”. O deputado federal Amom Mandel não pode ser encarado nem com o preconceito que cerca os jovens, nem com a comiseração do avô babão, que só vê virtudes no neto. Que tenha chances de mostrar suas qualidades e que a sociedade não feche os olhos aos defeitos. A síntese disso está no páreo da disputa pela Prefeitura de Manaus. Muita água ainda vai correr por debaixo dessa ponte.

 

Veja, abaixo, o Boletim de Ocorrência que Amom lavrou na Polícia Federal:

 

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