Brasil precisa vacinar 15 milhões de crianças contra poliomielite

Brasil precisa vacinar 15 milhões de crianças contra poliomielite

A Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite em crianças entre 1 e 5 anos de idade começa nesta segunda (8/8) em todo o país com o desafio de imunizar 15 milhões de crianças. O pontapé inicial foi dado no domingo (7) pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que fez um apelo para que pais e responsáveis levem seus filhos aos postos de vacinação. Prevista no âmbito do Plano Nacional de Imunizações (PNI), a iniciativa tem como objetivo manter o Brasil livre da pólio, erradicada em 1994.

Nos últimos anos, o país não tem conseguido alcançar a meta de cobertura vacinal, o que ameaça o retorno da doença. A pasta lança também uma ação para que menores de 15 anos atualizem suas cadernetas, oferecendo imunização para doenças como febre amarela, meningite, tétano, entre outras.

“Não faltam vacinas, elas estão aí. Temos que imunizar 15 milhões de crianças, e não é uma atribuição exclusiva do Ministério (da Saúde) esse tipo de ação. Temos os programas de imunização dos estados e municípios”, disse ele, durante agenda em São Paulo.

A campanha contra a poliomielite terá duração até 9 de setembro deste ano, sendo 20 de agosto o dia “D” de mobilização nacional para a vacinação. A meta do ministério é atingir uma cobertura vacinal igual ou superior a 95% entre a população com 1 até 5 anos, patamar em que é possível considerar a população protegida contra a enfermidade. A última vez em que o Brasil alcançou tal objetivo foi em 2015.

Casos de pólio

O presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Juarez Cunha, afirmou que a ocorrência de casos de pólio em países com alta cobertura vacinal, como é o caso de Israel, que registrou novo caso da doença depois de 30 anos, acende o alerta para o cenário brasileiro. “É fundamental que o Brasil recupere a cobertura, e a campanha é uma oportunidade exatamente de colocar a vacinação em dia e diminuir o risco da poliomielite no país”, disse.

Cunha ainda relembrou a volta do sarampo no Brasil, que, dois anos após ter eliminado a doença, voltou a registrar surtos. Ele alertou que, caso não sejam tomadas as medidas de saúde necessárias, o mesmo pode ocorrer com a poliomielite. “Graças à vacina, não temos mais essa doença (pólio) e esses quadros bastantes sofridos. Inclusive, temos muitos adultos que ficaram com sequelas. Foi calculado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que teríamos mais de 10 milhões de pessoas paralisadas pela poliomielite. Temos vacinas seguras, eficazes, gratuitas e que estão disponíveis na nossa rede”, completou.

Em alerta

Causada pelo poliovírus, a doença, que atinge, na maioria das vezes, crianças, é transmitida por meio de fezes infectadas ou, em casos mais raros, pelo ar. Especialistas alertam que a enfermidade causa uma lesão neurológica que pode levar à morte ou deixar sequelas, como a paralisia infantil. A melhor forma de prevenir é por meio da vacinação, oferecida de forma gratuita e universal pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo Werciley Júnior, médico e coordenador de Infectologia do Hospital Santa Lúcia, a vacina não é uma escolha, mas “uma necessidade para protegermos quem mais amamos”. “Temos que dizer que as vacinas são seguras e testadas por muitos anos. O contingente de vacinados mostra que elas são seguras e não causam danos, que é o que a maioria dos pais temem. Podemos dizer que as vacinas salvam vidas de muitos jovens e crianças, que são o futuro do país”, argumentou.

O último caso de poliomielite no Brasil foi registrado três décadas atrás, em 1989. Como consequência do sucesso das campanhas de vacinação contra a doença realizadas no período, em 1994, a OMS concedeu ao país o certificado de livre da pólio. O reconhecimento foi dado também aos demais países do continente, sendo a América a primeira a atingir tal feito.

Entretanto, a queda na cobertura vacinal ao longo dos anos tem colocado especialistas e autoridades da área da saúde em alerta para a volta da enfermidade no país. De acordo com dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), em 2020, a vacinação não chegou a cobrir nem mesmo 75% da população alvo. Naquele ano, existiam mais de 11 milhões de crianças brasileiras aptas a receber o imunizante, porém, apenas pouco mais de 8 milhões delas foram vacinadas.

De acordo com estatísticas do próprio ministério, atualmente existem quase 15 milhões de crianças no grupo-alvo a serem imunizadas na campanha que se inicia hoje. Para o presidente da SBIm, Juarez Cunha, o fato de grande parte dos pais não terem conhecido a realidade da poliomielite, pois na época em que nasceram a doença já estava erradicada, faz com que eles acabem não vacinando seus filhos. “O valor das vacinas é inquestionável. O risco em não vacinar é muito grande. As vacinas são seguras, eficazes e protegem não só a quem toma. É preciso estimular que as pessoas participem.”

Risco elevado

De acordo com o médico Werciley Júnior, o risco da volta da poliomielite é “elevadíssimo”. “A partir do momento em que não temos as taxas de vacinação que tínhamos, permitimos que o vírus tenha espaço para circular e para mutar. Os casos em outros países, como nos Estados Unidos, são um sinal de que (o poliovírus) está voltando e, se não nos movimentarmos antes, depois, é mais difícil de fazer a contenção. Por isso a vacinação é tão importante.”

Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Imunização, de cada 100 crianças de 1 a 5 anos, 30 não se vacinaram para poliomielite. “Isso demonstra uma fragilidade e um risco muito grande”, afirma o presidente da entidade.

Além disso, o Ministério da Saúde afirmou que a pandemia da covid-19 intensificou o cenário negativo no que se refere à poliomielite. A situação fez com que, em 2021, a Comissão Regional de Certificação (CRC) classificasse o Brasil como um dos países com maior risco para a volta da enfermidade. Segundo o CRC, em relação à volta da pólio, 84% dos municípios nacionais apresentam “alto risco” ou “muito alto risco”.

Em comunicado em apoio à campanha, a SBIm argumentou que “vacinar é um ato de carinho”. A organização aproveitou para fazer um apelo: “O engajamento da população é fundamental para o Brasil se manter livre de doenças que podem levar à morte ou deixar sequelas. Compareça às Unidades Básicas de Saúde (UBS)”.

Vale destacar que o Ministério da Saúde informou que os estados e municípios brasileiros terão autonomia para coordenar a campanha de acordo com a realidade de cada local. As unidades federativas e cidades poderão, inclusive, definir outras datas de mobilização para a vacinação. As vacinas estarão disponíveis em cerca de 40 mil unidades de vacinação em todo o país.

Atualização

Simultaneamente à campanha contra poliomielite, o Ministério da Saúde também organizou a Multivacinação para Atualização da Caderneta de menores de 15 anos. Todas as 18 vacinas previstas no Calendário Nacional de Vacinação da criança e do adolescente. Serão aplicados imunizantes contra febre amarela, hepatite, HPV, rotavírus, sarampo, rubéola, difteria e tétano, entre outras doenças.

Juarez Cunha destacou a importância da ação, que busca a proteção contra diversas enfermidades que também se encontram com baixa cobertura vacinal. “Temos uma série de doenças para as quais temos vacinas, mas, para essas vacinas protegerem, elas têm que ser aplicadas. Várias, como rubéola materna e neonatal, nós eliminamos. Todas essas doenças, tanto as eliminadas quanto as controladas, podem retornar. Além disso, a vacina protege não apenas o indivíduo, mas toda a coletividade.”

Para o coordenador de Infectologia do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior, as campanhas são motivadas por dois motivos: primeiro para correr atrás do prejuízo da baixa cobertura vacinal e, também, para relembrar aos pais que não existem só vacinas para crianças de até 5 anos. “Por exemplo, existem vacinas para pessoas de até 19 anos, para 40 anos e para maiores de 50. Cada faixa etária tem vacina, não se acaba no período infantil.”

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