Machismo na Copa

Os brasileiros devem, com muita urgência, decidir com firmeza qual rumo querem para o Brasil. Um país não é verdadeiramente grande apenas pelo tamanho territorial, mas principalmente pelo comportamento do seu povo, em todos os aspectos.

O tão falado jeitinho brasileiro parece estar solidificado em parcela significativa da população e isso parece avançar mais rapidamente do que as virtudes e a grandeza de muitos. A malandragem parece sufocar a quem pensa em ser correto, em andar nos trilhos, sabedores dos seus direitos e cumpridores de suas obrigações. Isso é cidadania.

Lá fora a nossa fama não é nada boa, e ainda recebe a “ajuda vergonhosa” de torcedores que pensam poder tudo, porque aqui foram mal acostumados sem nenhuma punição.

Talvez aquilo seja o reflexo do que hoje acontece por aqui. Estamos em tempo de Copa, onde o futebol, um dos esportes que nos fizeram conhecidos e respeitados, anda sem credibilidade até entre nós. Basta ver que poucos carros carregam a nossa bandeira, poucas casas estão enfeitadas e muitas ruas deixaram de lado a tradicional pintura no asfalto.

A coisa já não é a mesma desde os humilhantes 7 a 1 para a Alemanha, jogando em casa e com todo o apoio da torcida, e dias depois os jogadores estavam em Paris ou nas praias. O vexame ganha maior proporção quando somado à corrupção, aos desvios de verbas, à supremacia dos poderosos, ao desamparo na saúde e nos serviços públicos, bem como à insegurança que aqui reina soberana.

Como esperar que um povo espoliado vista as cores do Brasil? Como esperar que os desempregados mostrem alegria e que os jovens se achem situados dentro dessa baderna institucionalizada? E isso reflete na seleção, que consegue bons resultados na América do Sul, mas encontra dificuldades até diante da Costa Rica. O time canarinho, antes o temor das demais seleções, desde 2014 faz beicinho e desaba em prantos para o mundo ver.

Tem coisa pior? Claro que tem. Imagine um bando de homens fazendo brincadeiras de extremo mau gosto junto às mulheres, filmando e de forma nada inteligente postando nas redes sociais.

Foi uma verdadeira safra da vergonha, com vários vídeos mostrando grosserias de cunho sexual na Rússia, onde todos foram devidamente identificados. Que recebam uma punição exemplar, a fim de que o Mundo saiba que o país não apoia nem aplaude esse comportamento que já deveria ter sido banido há muito tempo, pois custou muito caro a Pelé, a Guga, a Airton Senna e à imensa galeria de brasileiros ilustres elevarem o nome do Brasil a um patamar que nos orgulha.

Diante disso, a OAB veio a público apresentar seu mais profundo repúdio às cenas grotescas e vergonhosas, alegando que a naturalização com a qual esses homens desrespeitam a estrangeira, divertindo-se às gargalhadas, pulando e cantando um coro misógino, racista e abusivo, apenas provam o quanto estamos doentes como sociedade. Além do machismo alarmante, o que causa asco e vergonha é a violência moral cometida por homens que deveriam saber os limites de seus atos.

Algo de muito grave há quando pessoas se divertem à custa do sofrimento do outro. Não foi piada nem brincadeira: é mais um episódio de perversidade, que retroalimenta a violência, aumentando os números que atrasam o nosso desenvolvimento democrático.

 

*Auditor fiscal e professor

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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