A torre medieval dos regimes ou a estética da tortura na alimentação ou a nova opressão corporal

A torre medieval dos regimes

A torre medieval dos regimes consegue resistir a um prato como esse?😇

Passamos dos 50. Mudaram os hábitos e a silhueta😏. Acima do peso e resvalando na obesidade, tipo assim, barriga protuberante e tais, chegou a hora do regime. Homens, ao mesmo tempo, têm um arsenal de desculpas: “Barriga é sinal de prosperidade”; “É dos carecas que elas gostam mais (essa não funciona😔)”; “Melhor uma grana no banco que barriga de tanquinho” (e quando não tem nem uma coisa nem outra?). As mulheres, entretanto, enfrentam a concorrência das novinhas e das panicats. E o jeito é apelar para os regimes. É quando o bicho pega.

Cada vez mais mulheres se tornam especialistas em comida. De quebra rola até um curso de inglês básico. “Low carb“, “carb free”, “no sweets” são expressões corriqueiras. Acrescente “bioimpedância” e “termogênico” e nem precisa esforço para saber quase tudo que o clube da Luluzinha conversa.

 

A torre medieval dos regimes

Algumas se impõem tamanho sacrifício que, no dia da liberação, é como se saíssem de uma torre medieval. Pense na felicidade delas diante de uma macarronada com camarão. A maratona inclui entrada, sobremesa e prato principal… duplo e até triplo.

Como o paraíso não é na terra, os regimes acumulam problemas. O primeiro deles é convencer os maridos a encarar o desafio.

Um deles, subjugado pela esposa, mandou uma foto no grupo com a seguinte legenda: “Feliz, depois de completar 10km de caminhada”. Um irreverente – eles são indefectíveis – tascou: “E essas olheiras?”. “Não consegui dormir. É muita fome!!!”, respondeu😂.

 

Michelin vira lixo

Há momentos em que a situação complica. O marido realiza aquela viagem dos sonhos. Chega todo lânguido para a mulher e anuncia reservas em restaurantes caríssimos, tipo três estrelas Michelin. Chegam. Sentam à mesa. Ele pede um vinho top, faixa dos 600 euros. O momento é inigualável. A mulher olha o cardápio e dispara: “Tudo carboidrato. Não vou comer. Vamos para um lugar melhor?”

Claro que há mulheres compreensivas, que entendem o momento e liberam os maridos. Outras veem no regime uma oportunidade de opressão. Versada em pratos light, consumidos por meses a fio, elas chegam nos restaurantes cheias de culpa. E transferem a responsabilidade, sem a menor cerimônia, para os maridões. Quem nunca flagrou um olhar de reprovação da esposa, em direção ao marido, no meio de uma garfada?😂

 

Felicidade existe

É preciso dizer que nossa reportagem também flagrou momentos de felicidade. O melhor de todos é quando o casal resolve, por unanimidade, sair da torre (essa torre🧐). Aí os dois, felizes, consomem pratos e pratos do mais delicioso pecado gastronômico.

E as fugas em pleno regime? Outro dia, almoço de aniversário de um amigo, a comida era da melhor qualidade. O marido, esposa entretida na conversa com as amigas, esvazia o prato em plena mesa de serviço. A esposa pede licença, quando ele senta à mesa (já com um prato “comportado”). Ela se serve compulsivamente e um inconveniente de plantão, atento, indaga: “Você não está de regime?” E ela: “Hoje eu quero arrebentar!”.

Um amigo, tentando se libertar, apela para a cultura. “Eu tava lendo, outro dia, que essa imposição não tem 300 anos. Sempre houve diversidade feminina. Havia até uma estética dos quadris largos, que dava excelentes parideiras”. Outro, mais contemporâneo, apelou: “Tínhamos também um senador que era magrinho e morreu andando na esteira!”

Pensando bem, a liberação da torre é um momento lírico🤔.

Outro amigo, em nome da fuga, se hospedou num hotel parisiense que os amigos apelidaram de “Le Puteron”. Nana-nina-nana. Não há qualquer conotação sexual na história. Trata-se de uma homenagem aos neons tons de violeta que decoram a fachada😇. E ele está dizendo à esposa: “Vamos sair da torre!!!” Ou, em outras palavras, comer com liberdade já está ganhando peso mental equivalente ao do sexo.

 

Frigideira com farofa de ovo e filhos sinceros

Muitas vezes surgem obstáculos inesperados. Como a sinceridade das crianças. Elas não têm o menor pudor de dedurar a mãe, fazendo o tipo saladinha e a maior pose de fortaleza no regime. “Não consigo comer tudo isso”, diz a mãe. O filho, irreverente: “Mas em casa a senhora faz uma frigideira de farofa de ovo e arrebenta😂!”

As mais fanáticas com os regimes se acham as próprias nutricionistas. Não adianta contestá-las. Elas estão possuídas por um sentimento telúrico. Cósmico.

Outro dia – há tantos dias nessa polêmica! – uma fissurada indaga ao colega barrigudo: “Você está fazendo regime? Olha essa barriga! Regime é uma questão de saúde!”. E ele: “Estou. Mas se fizesse tudo que digo estava pesando uns dez quilos!”

 

Ufa, ouvimos um nutricionista

Momento sério? Um nutricionista, ouvido pelo portal, dá a seguinte dica:

“Comer é um dos momentos mais prazerosos da vida. A vida é curta. Comida nunca foi problema. É uma vilã sem causa. O grande problema é a gula. Por isso, os regimes privativos, com renúncia exagerada, só trazem infelicidade. O ideal é a reeducação alimentar, regrada e na hora certa, correspondente ao gasto diário de calorias. Ou seja, regime não dispensa exercícios e exercícios não dispensam regimes. Aí você pode comer de tudo. O exagero é um dos males da vida moderna. Esse sim é o grande vilão”, ensina.

Aí a fanática vai ler e dizer: “Mas quem mandou eu fazer esse regime é nutricionista🤭”. Vá entender.

Os anos vão passando. A gente vai engordando. Os vinhos ficam melhores. Comida idem. Mas aí vem aquela panicat, voz de adolescente, “fica fina, fica grossa” de tanta bomba, e indaga: “Você tá fazendo regime?” Vai…

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