Parte Wilmarzão, aos 98 anos, deixando o estereótipo da vida parintinense

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Wilmarzão, na última Feira Agropecuária de Parintins, com a neta Mirasol

Uma ilha, isolada tanto pela água quanto pela distância das metrópoles amazônicas, Manaus e Belém, a cidade de Parintins criou referências próprias e um modo de vida peculiar. Parte disso é demonstrada pelos bumbás Caprichoso e Garantido. A outra está numa camada mais difícil de ver e foi sintetizada com maestria pela figura emblemática de “seo” Wilmar Martins Viana, o Wilmarzão ou, como tratavam os filhos e amigos mais chegados, o “Teso”.

Wilmarzão se foi neste sábado (13/02), aos 98 anos. Cumpriu, até o final, todos os rituais da vida, chamando os filhos ao leito e se despedindo de cada um com serenidade.

A morte, com toda consternação que provoca, acaba trazendo um turbilhão de lembranças.

Parintins, a partir das memórias de quem se tornou quarentão ou cinquentão, é caracterizada por uma casa no meio do descampado, galinhas e patos ciscando ao redor, gado espalhado no pasto e um lago ao fundo. Dali saem o leite, os ovos e a carne. Tudo sem deixar margem aos pretextos que justificam ausências.

Rotina? Monotonia? Isso a cheia e a vazante dos rios quebra, com a frequência anual a um terreno afastado, na Zona Rural, usado tanto para engordar o gado, no capim verdejante da várzea, quanto para saborear iguarias da caça e pesca nativas.

É o cenário ideal para quem escolheu o melhor da vida, a integração perfeita com a natureza.

Utopia? Nada. Esse é o estereótipo criado por Wilmarzão, irmão de Valdir Viana. Aí, muito provavelmente, reside o segredo dessa longevidade que se fez lúcida até o fim.

Sílvio, Balaco, Sérgio, Silvânia, Wilmarzinho, filhos, e várias gerações de parintinenses, jamais deixarão de associar aquela casa, perto do aeroporto, da figura desse patriarca. Como esquecer da armadilha feita com um frango, amarrado na beira do lago do Aninga, para surpreender a surucucu que estava dizimando o galinheiro? Os churrascos de mamotes, as galinhadas, as peixadas e as histórias, típicas dos Vianas, ficam para sempre.

Teso, em Parintins, é aquele que não verga, mesmo diante da dificuldade mais inclemente. É quem não se curva, nem renega desafios. É Wilmarzão andando no pasto, da aurora ao arrebol, pastoreando suas reses.

Wilmarzão, camarada querido, mande notícias dessas pescarias e caçadas, aí em cima, na companhia do velho Zé Caiá. Fale das nossas saudades dele. Diga que a velha Raimunda, aos 94 anos, segue Tesa, ainda velando aqui por todos nós. E não esqueça, jamais, que as vidas dos parintinenses de verdade só valem a pena quando vividas para seguir os exemplos de vocês.

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1 comentário

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  1. yanah Teixeira disse:

    Que linda homenagem… Perdemos um ícone de nossa sabedoria popular. Resta-nos saudades?.