A questão do fornecimento de energia em Manaus, das promessas aos investimentos, dos blackouts ao reajuste retroativo

O reajuste da tarifa de fornecimento de energia, no Amazonas, retroativo ao mês de maio, é uma agressão à cidadania. Mas isso é só mais um capítulo nessa história, mais para tragédia, desse serviço público essencial no Estado.

Manaus foi a primeira cidade do Brasil a ter iluminação pública. A alcunha de “Paris das Selvas”, como ficou conhecida no Período Áureo da Borracha, se devia em grande parte à da capital francesa, conhecida como “Cidade Luz”. Isso acabou, com a bancarrota do látex, e a cidade voltou a ser iluminada pelas lamparinas a querosene.

O sistema de iluminação pública – e aí acrescida do fornecimento residencial – só foi restabelecido na década de 1960, com uma ação parlamentar brilhante dos deputados federais Arthur Virgílio Filho e Almino Afonso, cujos detalhes contei em outro editorial, criando a Companhia Energética de Manaus (CEM).

A questão passou pela quebradeira geral de velhos geradores, que ainda ocorre regularmente no interior, levando a alternativas rocambolescas, como a tentativa do ex-governador Amazonino Mendes de trazer esses equipamentos da Ucrânia.

Na véspera da reeleição, e diante dos reflexos do quase apagão nacional do período FHC, o então presidente Lula veio ao Festival Folclórico de Parintins e prometeu, em 2002, a construção do Linhão de Tucuruí, por sugestão do então governador Eduardo Braga.

O Linhão terminou, foi inaugurado e… “esqueceram” de construir as estações rebaixadoras, isto é, aquelas que preparam a alta tensão para o uso industrial, comercial ou residencial. Algo assim como “esqueceram” de duplicar a rodovia AM-070 (Manaus-Manacapuru), nos mais de dois anos de obra da ponte Rio Negro, que ampliou exponencialmente o tráfego e os acidentes na via.

Agora, quando o governo cata pixulecos para cobrir os rombos do Mensalão e do Petrolão, o povo amazonense está sendo apenado com o pagamento de uma dívida causada pela crise energética. Uma crise provocada pelos erros de investimentos no setor e, ironicamente, a falta de água. Ou seja, os rios Amazonas e Negro passando na cara da população e a conta aumentando pela seca nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Quem deve pagar esse reajuste da tarifa de energia? Todas as unidades da federação que estiverem interligadas ao sistema nacional. Aí o Amazonas inteiro, com apenas uma beirinha da capacidade do Linhão de Tucuruí, em Manaus, por sua vez interligada a Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Iranduba e Manacapuru, usando menos de 10% da capacidade total de transmissão, vai pagar como se tivesse os 62 Municípios plenamente interligados.

O pagamento será parcelado. É como se, dando mais um tapa na cara do povo, as autoridades dissessem: “Você não me deve nada, mas, como estou precisando de uma grana, pague parcelado pra você sentir menos e não reclamar”.

Enquanto isso, na vida real, o Natal começou mais cedo e o pisca-pisca no fornecimento está comendo no centro, na capital e em todo o interior. Crise de energia, portanto, não é novidade para o amazonense. O que é novo é essa capacidade de cobrar pelo que não fornece. Aí é preciso muito sangue de barata para aceitar.

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2 comentários

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  1. Marco disse:

    O básico também não é feito:
    1. Precária iluminação pública. Acarreta maior risco de roubos e atropelamentos (especialmente na faixa de pedestres);
    2. Falta de poda das árvores sobre as redes de alta e baixa tensão. Com chuva forte e temporais, galhos afetam estas redes ocasionando queda de energia.

  2. L Menezes disse:

    Marcos Santos, sobre o assunto citado, estamos mais uma vez diante de um dos inúmeros engodos, os quais somos obrigados a engolir, quando se falou em ligar Manaus ao sistema nacional de energia, pensamos que o proplema dos apagões iria acabar, mas o que vemos é vamos pagar pela seca do sudeste, pela incompetência do governo federal, pela corrupção no setor elétrico e por aí vai, era melhor termos ficado isolados mesmo, o mais grave é o nosso sofrido e esquecido povo do interior, que vai ter que bancar essa picaretagem toda sem receber um KVA do sistema nacional com essa istória ( com i mesmo) de bandeiras coloridas, pra mais uma vez lesar o desgraçado do consumidor, que não tem pra onde correr.Chega roubar o povo Dilma; vamos todos pra rua no dia 16. !!!