O ‘eu’ na administração do meu e do teu dinheiro amontoado no erário para o bem-estar comum

O prefeito Arthur Virgílio (PSDB-AM) e a Prefeitura de Manaus estão na mídia nacional. A partir do jornal O Globo, a mídia de outros Estados descobriu que o principal opositor de Lula e dos primeiros dois anos de Dilma, no Senado Federal, agora é uma das vidraças preferidas da presidente. Normal, ora dirás. Plantou vento e está colhendo tempestade. A capital amazonense, por outro lado, tem esses quatro anos para perder?

E muito comum o político bater no peito e dizer, quando em campanha política, que esta ou aquela obra foi ele que fez. Isso, como a naturalidade na discriminação de opositores ou até não-aliados, é parte do estuário político brasileiro. Quem está no poder ou faz ou deixa de fazer. Na administração pública brasileira as coisas acontecem ou não de acordo com a “vontade da administração superior” ou do (a) “cara” que ganhou a eleição ou, como se diz mais corriqueiramente, dependem da “vontade política”.

É isso que apequena o Gigante Adormecido e embala mais algumas décadas de sono.

Foi acordada e evitando as idiossincrasias individuais que a Europa, esburacada rua a rua na II Guerra Mundial, encerrada em 1945, se reergueu, usou com parcimônia o dinheiro norte-americano e se tornou o que é hoje – estradas perfeitas, cidades bem urbanizadas, mobilidade no topo, exemplo de civilização.

O Brasil foi “descoberto” em 1500 e os Estados Unidos (América) em 1512. Tempo, portanto, não pode ser usado como desculpa para justificar o subdesenvolvimento brasileiro.

O presidente Lula anunciou ao mundo, exultante, que o Brasil havia descoberto o petróleo do Pré-Sal, que transformaria o País num novo sultanato árabe, banhado por petrodólares. Hoje, tão poucos anos depois, com o desenvolvimento e a diminuição dos custos das novas energias, solar e eólica principalmente, além do sucateamento da Petrobras pela corrupção, esse patrimônio perdeu a possibilidade de justificar tal ufanismo. Foi corroído pelo tempo.

Tempo é tudo o que Manaus e o Amazonas não têm.

É cruel manter a Zona Leste e bairros periféricos, de Norte a Sul de Leste a Oeste, esburacados e sem saneamento. É desumano admitir o trabalhador perdendo a vida na briga pelo transporte coletivo na capital. O caboclo não pode continuar vestindo a roupa domingueira para ir ao médico, diante da raridade desse profissional na saúde interiorana.

A mensagem da presidente Dilma, “votaram no Arthur Virgílio? Então aguentem”, não pode ser tolerada por quem viva nesta capital, tenha ou não votado nela, tenha ou não votado nele. O voto é importante como fundamento da Democracia, mas não pode ser tudo.

O erário é, por definição, dinheiro público, isto é, de todos. O papel da presidente Dilma ou de qualquer outro administrador de plantão é distribui-lo com equidade, buscando o equilíbrio nacional e um balanço humano da qualidade de vida.

A opinião pública nacional, porém, está impregnada pela ideia de que é “normal” discriminar adversários. Quer ver? A maioria acha que prefeito “precisa” puxar saco de governador e, se não o fizer, é normal a discriminação de Prefeitura dirigida por esse desafeto. É outra miopia política. Ignorância pura.

O Brasil perde tempo precioso quando a política se apequena. A discriminação de verbas, que pretende derrotar Arthur Virgílio na eleição do ano que vem, tira do manauara quatro anos preciosos. É intolerável.

Por outro lado, a mesma oposição que aplaude Dilma por asfixiar a Prefeitura de Manaus sai às ruas pedindo melhor transporte coletivo ou criticando a falta de reajuste salarial para funcionários. Aí é abusar da inteligência do cidadão. Quem pode correr uma maratona sem oxigênio?

Olhar Manaus com os olhos abertos, criticando a gestão municipal, apontando caminhos, mirando alternativas, é a melhor saída para quem vive na cidade, mas também é preciso exigir ajuda para solucionar os problemas dessa metrópole. Da violência – polícia dificilmente entra em becos onde não passam viaturas – à urbanização, do transporte à saúde, da cultura à educação.

Ou os políticos crescem ou o Brasil vai continuar caindo. Como o real diante do dólar.

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