Um discurso de gratidão na cerimônia de recebimento do título de Cidadão de Manaus

Hoje (03/12), numa cerimônia muito bonita, com direito a belos discursos do companheiro Ronaldo Tiradentes e do vereador Massami Miki, além do carinho próximo de muitos amigos e/ou manifestado nas redes sociais, recebi o título de Cidadão de Manaus. Fico muito grato. Peço desculpas a quem não foi alcançado pelo convite e compartilho aqui o texto do meu discurso, na íntegra:

 

Meus Senhores,

Excelentíssimas Senhoras,

Esta Câmara Municipal pode acrescentar aos seus anais mais um manauara feliz.

O vereador Massami Miki, ao propor a esta Casa a concessão deste título, acabou percorrendo um curioso caminho histórico. Um nisei, um filho de imigrantes japoneses, abre as portas à cidadania manauara a este filho da primeira terra que acolheu seus compatriotas em solo amazônico, o Município de Parintins. Receba, vereador, a eterna gratidão por mais esse enlace.

Ontem, numa conversa com o poeta Elson Farias, ele, que é itacoatiarense, me dizia: “Receba este título como defensor dos mais legítimos interesses do povo manauara”. E a frase me levou a refletir sobre ela.

O Brasil vive momento singular. É sabido, internamente, que a economia atravessa momento difícil e que medidas duras virão por aí. No exterior, porém, os brasileiros são os turistas da moda. Quem vai aos Estados Unidos, no lugar da histórica hostilidade norte-americana, já encontra sorrisos na imigração e até gringos falando que “estão estudando português”.

Portugueses e espanhóis só falam em crise. A Espanha tem o maior índice de desempregados do mundo. Portugal a segue bem de perto, com número crescente de pequenas vilas abandonadas pelos jovens em busca de sorte melhor, grande parte acabando em subemprego, em países como Suíça e Alemanha.

O Brasil é o País florescente. Espanha e Portugal penam com a crise.

Espanha e Portugal, porém, Senhores Vereadores, tem portos modernos, aeroportos impecáveis, rodovias que são verdadeiros tapetes e rede ferroviária com trens de alta velocidade. O turista encontra em metrô, monotrilho ou ônibus relógios digitais marcando o minuto exato em que o transporte público vai passar.

Se eles estão em crise, o que dizer de um Brasil com portos lastimáveis, aeroportos da Copa ainda por fazer, estradas esburacadas e praticamente zero de malha ferroviária, isto é, nenhum trem decente para turista circulando no País?

Ver de perto tudo isso, Meus Senhores e Minhas Senhoras, para este filho de pescador e estivador, é privilégio que cria responsabilidades. Meu pai mal sabia assinar o próprio nome, mas devorava jornais e revistas e socializava o que lia com os amigos, quase todos analfabetos.

É obrigação de todo cidadão manauara querer uma cidade melhor.

Uma Manaus com porto decente para receber o cidadão interiorano, que ainda chega à cidade em condições medievais.

Uma metrópole onde a lógica deixe de ser a invasão porque exista uma política habitacional decente e abrangente.

Uma capital onde as ruas de seu distrito industrial, a galinha dos ovos de ouro da economia amazonense, sejam algo melhor que lixo, mato e buraco, apesar dos produtos de última geração das portas das fábricas para dentro.

Obrigação de lutar contra a mentalidade que faz nascer, da noite para o dia, um camelódromo na calçada construída por empreendimento comercial recém-inaugurado, como ocorre agora no Shopping Via Norte.

Essa é a essência dos ideais que fazem este cidadão manauara levantar às 5 da manhã, enfrentar uma hora em média de trânsito caótico e encarar todos os dias o bullying do Ronaldo Tiradentes.

Mas Ronaldo é hoje quase como um irmão para mim. Um irmão meio brabo e rebelde, mas um irmão.

E por falar em irmão, aqui estão minha mãe, dona Raimunda, que completa no próximo mês 93 anos, e os dois mais novos integrantes da família, meus netos Marcos Neto, de três anos, do Marcos Filho e da Raquel, e Elisa, de apenas seis meses, do Breno e da Aline.

E não dá para deixar de fazer um registro:

Minha mãe e eu somos os remanescentes de nossa família de cinco irmãos. Meus irmãos, todos se foram. Meu pai, se foi há pouco. De cada um, porém, recolhi um bocadinho.

Eu sou o mais novo, o caçula.

Suzana, irmã mais velha, legou a paixão pelo matraquear do texto na quase esquecida máquina de datilografia. Foi quando a vi datilografando ao vivo uma sessão da Câmara Municipal de Parintins, onde era secretária. A velocidade e o texto enxuto, que o olhar de menino curioso me fez ver por cima dos ombros dela, marcam minha vida profissional até hoje.

Rubem, que veio a seguir, me tirou de uma partida de futebol, numa escolinha, no que seria o primeiro jogo oficial, com uniforme e tudo, fazendo com que o encarasse, na inocência de meus 11 anos, para desafiá-lo: “Você não quer que eu seja jogador? Então eu vou ser radialista e fazer melhor do que você”. Três meses depois, ele me levou para a rádio Alvorada e um ano depois me fez diretor do departamento de esportes e chefe dele próprio.

Efraim, o terceiro, grande atleta, capoeirista, fisiculturista, judoca e praticante de diversas modalidades de atletismo, me transmitiu o gosto pelo esporte.

Itamar, minha doce irmã, nascida logo antes de mim, me apresentou o primeiro aparelho de som, uma vitrola, comprada com o salário de professora primária, e me incentivou a adquirir o gravador onde podia me ouvir e procurar aprimorar as narrações de futebol.

Suzana, Rubem, Efraim e Itamar estão aqui, comigo, recebendo este título. Eles e meu pai, Zé Caiá, companheiro de minha mãe por quase 70 anos, o analfabeto que era um homem de letras e podia aceitar tudo, menos uma nota vermelha no boletim, nossa família, unida pela eternidade, recebem com muita honra o título de Cidadão de Manaus.

Cidadão parintinense por nascimento. Cidadão Manauara por concessão unânime de seus representantes. A responsabilidade e a honra são enormes. Que Deus me dê humildade e sabedoria para encará-las.

Muito obrigado.

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10 comentários

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  1. Wanderlei Portilho Pitombeira disse:

    Meu caro amigo Marcos Santos, com palavras pode se mudar o mundo: assim o fizeram Aristóteles – Alexandre Rei da Macedônia – Roosevelt – Churchill – Ghandi – Luther King – Mandela – Steve Job – Barac Obama – Getúlio Vargas.

  2. Eulália Xavier Ribeiro disse:

    Olá Marcos, fico feliz pelo reconhecimento da Câmera de Vereadores, concedendo a você o título de Cidadão Manauara, valorizando desta forma o talento de quem vem do nosso interior. É tão importante reconhecer os talentos do nosso Amazonas e você constrói a cada dia uma história de sucesso. Gostei em especial da homenagem em teu discurso aos teus familiares, mesmo com a ausência de alguns, eles estarão sempre com você te trazendo energias positivas. Acompanho o teu trabalho diário com a parceria do meu amigo Ronaldo e admiro o trabalho e a contribuição de vocês com a comunidade manauara. É assim que se faz um jornalismo de verdade, com a sinceridade de vocês. Parabéns pela tua bela história de vida. Sucesso sempre!

  3. Elson Farias disse:

    Amigo Marcos, pena que as razões de que te falei me tenham impedido de testemunhar um dos mais importantes acontecimentos de tua vida pública. É um título merecido e legítimo porque fruto da conquista de Manaus a um dos seus mais ardorosos defensores. O jornalista, por sua simples função de comunicador já constitui um patrimônio da comunidade onde trabalha, mas, na medida em que se compromete e se lança nas grandes campanhas em favor da melhoria de vida dessa mesma comunidade, ele transcende essa condição e assume o papel de porta-voz da sociedade, exposto a todos os riscos mas, também, a todas as alegrias que o triunfo possa agregar ao patrimônio pessoal do bom profissional da imprensa. É preciso coragem, virtude que não te falta de tudo o que percebo em tua ação no rádio, no jornal e na TV. Repito mais uma vez que a homenagem foi muito mais do que merecida.

  4. Luiz Frederico Oliveira de Aguiar disse:

    Parabéns Marcos Santos! Você, obviamente, não me conhece, no entanto todos os dias pela manhã eu estou ouvindo você ao lado de Ronaldo. Admiro você e acredito que esta honraria é mais do que merecida! “Deem a cada um o que lhe é devido… se honra, honra.” Esse título já era uma dívida que Manaus tinha com você e que você me honra ao ser agora, como eu, um legítimo Manaura. Um “tupinambá-baré”! Parabéns mais uma vez!

  5. Francisco tussolini disse:

    Belo discurso meu querido amigo Marcos, com a facilidade que tem para escrever, foi capaz de lembrar de forma carinhosa de cada membro da sua família. Estou feliz, vc é merecedor! Parabéns.

  6. Marco disse:

    Parabéns pela sua contribuição para a sociedade de Manaus. Um exemplo disto é a criação deste Blog como espaço democrático para todos.

  7. GILVAN SEIXAS disse:

    Prezado Marcos,
    Como você e muitos interioranos,vivo nesta metropole maltratada como bem caracterizada em seu discurso. Amamos esta cidade mas não podemos esconder a triste realidade que a envolve. A velha consideração de mais de vinte anos faz-me alegrar pelo título concedido pelo Poder Legislativo. Ele é, por certo, merecido e honrado pela sua meritória inserção na sociedade manauara. Receba você, Tereza e os meninos as congratulações de nossa família.
    GILVAN SEIXAS

  8. ROGERIO CAMURCA disse:

    Parabéns pelo título e pelo discurso perfeito. A disposição para o debate, a clareza da opinião e a firmeza por princípios tornam você um dos dois melhores e mais influentes jornalistas da nossa cidade.

  9. Rogério Rabello disse:

    Caro Marcos, parabéns pelo título.
    Reconhecimento público sempre é interessante.
    Mantenha a trajetória, honre os seus, prestigie sua origem cabocla, mantenha a palavra de credibilidade pontuada pelo equilíbrio ponderado, pelo pensar antes de falar e pela moderação do discurso de quem sabe que a palavra jogada atinge como pedra atirada.
    Um abraço.

  10. wandrey Santos disse:

    olá, me chamo WANDREY SANTOS, venho tentando tirar meu titulo de cidadão ,MANAUARA mais ta sendo uma luta grande para mim, pois não consigo agendar.