Perspectivas de um 2º Turno com Melo x Braga e Dilma x Aécio, num Amazonas distante da ‘Belíndia’ – porque pra Bélgica falta muito

Qualquer abordagem socioeconômica séria do Amazonas não pode ignorar as enormes diferenças entre Manaus e o resto do Estado. Não há, nem mesmo em Iranduba, Município hoje mais próximo do Centro que a maioria dos bairros de Manaus, traço de infraestrutura capaz de lembrar qualidade de vida, exceto pelo que a natureza deixou. Impossível classificar o Estado de “Belíndia”, uma parte rica como a Bélgica e outra pobre como a Índia, porque mesmo conjuntos de luxo, como Jardim das Américas e Ephigênio Sales, padecem da péssima qualidade de serviços públicos, como telefonia e internet.

A Bélgica faltou até mesmo no distrito industrial, o terceiro maior polo do Brasil, onde há ruas que lembram o solo lunar e do muro para fora das fábricas o mato e o lixo tomam conta faz tempo.

O que esperar, portanto, da disputa eleitoral onde se decide o futuro de Estado como esse?

O PT, desde Lula, tem obtido média eleitoral acima dos 70% dos amazonenses. A situação do partido é tão cômoda no Estado que nem precisa repassar recursos para as prefeituras, exceto aqueles constitucionais, os obrigatórios. Essa lógica de “voto de cabresto” e busca de perpetuação no poder faz, por exemplo, que a administração petista tenha oferecido, este ano, cerca de R$ 25 bilhões para o Estado de São Paulo, onde o PSDB, maior adversário político da sigla, reina desde a década de 1990.

Dilma obteve 54,54% dos votos no 1º Turno destas eleições, o menor porcentual para presidente da República do PT no Amazonas. A mentalidade do eleitor está mudando? Não. O fenômeno Marina Silva, segunda colocada com 21,53%, arrastou uma parte da votação tradicional do partido. Aécio ficou em terceiro, embora dobrando a votação tucana, com 19,41%.

O governador José Melo e o senador Eduardo Braga disputarão o 2º Turno, na briga pelo Governo do Amazonas, obrigados a acompanhar com olhos bem abertos a disputa presidencial.

Braga, líder de Dilma no Senado, não gostou nem um pouco quando o Governo Federal liberou R$ 100 milhões para o Governo do Estado (leia-se Melo), a menos de 15 dias do 5 de outubro. Foi uma gota d’água no oceano de dois anos, mas pode ter influenciado o resultado do 1º Turno.

Melo está sendo pressionado pelo prefeito Arthur Virgílio, fortalecido com o recorde de 250 mil votos obtidos para deputado federal por Arthur Bisneto, para apoiar Aécio. O governador, porém, olha os números de Dilma e hesita.

Arthur pode até receber propostas do tipo “cruze os braços na disputa estadual que eu faço corpo mole na disputa presidencial”.

O eleitor, que tem muito pouco a ver com essa parte, digamos, eleitoreira, tem mais é que cobrar um 2º Turno estadual mais propositivo. Houve pouco ou nada de novidade no 1º Turno. Ninguém falou em limpar os igarapés de Manaus, num momento em que água se tornou fundamental em São Paulo, maior cidade da América Latina. Mas limpar saneando, educando, resolvendo.

Ninguém se dispôs a anunciar que fará uma administração capaz de transformar Presidente Figueiredo, Novo Airão e São Gabriel da Cachoeira, com sedes municipais pequenas e belezas naturais esfuziantes, em polos turísticos com infraestrutura capaz de fazer frente a Bonito (MS). Por que não? A pequena cidade sul-mato-grossense (20.825 habitantes, segundo o IBGE) é hoje um dos locais mais fortes do ecoturismo mundial.

E portos? Num Estado 99% abastecido via fluvial não há nenhum porto público decente. O interiorano ainda se equilibra em precárias pranchas de madeira e sobe barranco, metendo o pé na lama, para desembarcar na maioria dos pequenos Municípios. Isso é um absurdo que não se vê mais nem na Índia.

Há muito o que cobrar. O Amazonas, mesmo com a montanha de possibilidades que oferece, ainda é um poço de necessidades.

Veja também
4 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. alfredo jr disse:

    Seus textos, como sempre, são muito bons.
    Só faltou incluir Parintins e Maues como polos turisticos.

  2. Henrique disse:

    Concordo, pra variar, dado o brilhantismo de suas colunas, Marcos, com tudo. So um detalhe: aqueles que deveriam ser os principais interessados na limpeza dos igarapés, os moradores, os sujam. Aí, meu caro, fica difícil qualquer solução… Saudações!

  3. Jonas Canelas disse:

    Igarapés e portos, temas de extrema importancia para a região. Mas como já comentado há de se considerar a educação popular no tocante a não sujar,, manter seu entorno limpo, cuidar para que outros não sujem. Mas isso não acontece.. Ai vem a população culpar o estado, o município. Mas se não me falha a memória não ví em nenhum jornal da cidade notícia sobre representante do Estado ou do Município sujando os Igarapés, logo quem suja??? Estes sim deveriam se chamados a indeniar os moradores e ao mesmo tempo se declarar culpados.

  4. orlene sousa disse:

    Prezado amigo,vc é genial quando escreve,só que fazer o quê,quando nos deparamos com uma população que não é nem nossa (santarem,belem,maranhao)disposta a exigir muito dos governos e que não cumpre sua parte.Essa política de protecionismo acaba….bjs