O prefeito Arthur Virgílio Neto foi a Brasília, para o lançamento do livro em homenagem a seu pai, o falecido senador Arthur Virgílio Filho, ontem (09/04), e aproveitou para checar o andamento da liberação de recursos federais para a Prefeitura de Manaus. Não é justo que a cidade, uma das sedes da Copa do Mundo, tenha tantas promessas de recursos, inclusive da própria presidente Dilma Rousseff, mas nenhuma concretizada até agora. Reuniu-se com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, velho adversário cordial dos tempos de Senado. E lá estava o líder do Governo Dilma, senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
Daí que Braga lançou no Twitter, pelo perfil @EduardoBraga_AM, uma foto dos três, sorridentes, e o seguinte texto: “Articulando parceria entre Gov. Federal e Prefeitura p investimentos na infraestrutura de Manaus #ManausMeuCiume”. E acrescentou: “Serão aplicados na recuperação do centro da cidade, mobilidade Urbana, camelódromos e outros”.
A ideia, muito simples e direta, é que Eduardo Braga é o responsável pela liberação de recursos federais para Manaus.
Ocorre que o dinheiro de Dilma está para a Prefeitura de Manaus como o “ouro de Moscou” estava para a resistência revolucionária na América Latina, nos tempos negros das ditaduras: nunca vem. Na prática, a cidade tem sido abandonada à própria sorte e aos recursos próprios, a pouco mais de dois meses da Copa do Mundo.
Arthur reagiu pelo FaceBook: “Encontro com o ministro Aloizio Mercadante, em Brasília, para cobrar os recursos que Manaus pleiteia há mais de um ano. Precisamos de forma urgente da verba que nos foi prometida. O Centro de Manaus e as vias dependem destes recursos. Temos em caixa, pois fizemos uma boa economia, mas a liberação destes recursos é necessária para o nosso planejamento. É um direito nosso. Espero ter boas notícias já na semana que vem”.
Há quem afirme que a leitura do texto é assim: Ou o Governo Dilma libera o dinheiro prometido ano passado, que deveria ter chegado em novembro, a tempo de pegar um pedacinho do verão/2013, ou acabou a trégua e o prefeito vai denunciar esse descaso com os manauaras da forma aberta e direta como sabe fazer.
Por trás do episódio está a questão político-eleitoral. Arthur tem demonstrado que não quer se atirar na campanha presidencial de Aécio Neves, a ponto de comprometer o necessário entendimento da Prefeitura com o Governo Federal. Pretende agir na eleição como homem de partido, pedindo voto, mas sem aquele atiramento de outros tempos. Essa “postura de magistrado”, porém, tem limite e a demora na liberação dos recursos para a preparação da cidade-sede empurra o prefeito para ele.
O momento, por outro lado, é aquele que Sun Tzu chama de “guerra com a espada embainhada”, isto é, o combate eleitoral direto ainda não começou, ninguém é oficialmente candidato, mas todos os candidatos ao Governo do Estado trabalham febrilmente para ter as melhores condições, os melhores aliados, o máximo de tempo no rádio e na TV.
José Melo tem o Governo do Estado. Parece estar muito próximo de Arthur. As duas máquinas mais poderosas do Amazonas, Governo e Prefeitura, estariam com ele. Isso tem uma força eleitoral enorme.
Braga perdeu as eleições majoritárias que disputou, para Prefeitura e Governo do Estado, sem as máquinas hoje em poder de Melo. Daí que, nessa viagem de Arthur a Brasília, foi ao lançamento do livro do senador Arthur Virgílio Filho, deu tapinhas nas costas do prefeito de Manaus, aproximou-se dele. Solidificar a ideia de que está ajudando a Prefeitura, através das redes sociais e da mídia tradicional, coloca uma pulga atrás da orelha de Melo e pode mexer no bom andamento das relações governador-prefeito. Além de, claro, melhorar os índices eleitorais do próprio Braga. Afinal, vai pegar muito mal se, no programa eleitoral, ficar essa brecha para Arthur dizer que o Governo Federal não ajudou Manaus na preparação para a Copa, mesmo com o líder de Dilma no Senado sendo candidato ao Governo do Amazonas.
Braga pode até sair pela tangente, dizendo que a hermenêutica de algum assessor não foi boa. Mas quis emplacar uma espécie de “seguro paternidade”, para bater no peito quando o ouro de Dilma chegar e dizer: “Fui eu quem trouxe”. Ou, ainda, nas mentes menos fluentes, incutir a ideia de que o dinheiro já está aí, liberadíssimo, à disposição da Prefeitura – que se não faz mais é porque não quer.
O episódio de hoje, enfim, é mais um que demonstra a riqueza de detalhes nas entrelinhas de uma notícia. De jornal ou de mídia social.
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