Ensinar é preciso, reprovar não é preciso

Sempre considerei o instituto da reprovação um castigo desmedido, além do desperdício de dinheiro e de talentos. À vergonha da reprovação se junta o inconformismo do reprovado de voltar a estudar o que já sabia e a repetir o que detestava. Muitos não resistem, abandonam a escola e o País perde um profissional e, eventualmente, um cidadão. Nunca tive notícia que alguém tivesse se motivado e se tornado um aluno melhor por repetência. Na verdade é um jogo em que todos perdem.

Há algum tempo, porém, o Brasil e grande parte do mundo vêm usando o sistema da “progressão continuada”, menos danoso às crianças e aos cofres públicos. Por meio dele, muda-se a frequência das avaliações para afeito de progressão. Elas deixam de acontecer anualmente e passam para ciclos mais longos. No ensino fundamental, por exemplo, só acontecem ao final do quinto e do nono anos.

É claro que, ao efetuar as avaliações dessa forma, o sistema oferece o risco de o aluno chegar ao final do ciclo na condição de analfabeto funcional, o que de fato ocorre com frequência preocupante. Mesmo assim, o modelo tem a vantagem de prender o aluno na sala de aula, muito melhor do que a rua, caminho natural da evasão escolar.

Fracassos dessa natureza não são por culpa do modelo. É uma questão de atitude inadequada. Países como a Finlândia e outros campeões da educação mundial dele são usuários. Mesmo no Brasil, as escolas que cuidam bem da sua operacionalidade estão obtendo muito sucesso.

O “forte apoio do professor ao aluno para fazê-lo aprender” é uma exigência do sistema e a mais elementar demanda do “ensinar”. Todas as escolas que assumirem esse compromisso, certamente terão bons resultados.

Não é outro o lema da diretora da melhor escola da rede pública de Goiânia, uma das melhores do Brasil e do mundo, que, juntamente com outras, aqui já mencionei em outro artigo. Diz ela: “Aqui não temos tempo de esperar que os alunos aprendam. Temos de ensinar a todos eles”. Resultado: média 7,1 (maior que a média mundial e quase o dobro da brasileira); reprovação zero; evasão escolar zero e violência zero. Há oito anos, quando a diretora lá chegou, essa escola, de periferia, diga-se de passagem, ia fechar por desempenho crítico e altíssima evasão escolar. Hoje, todas as famílias querem colocar lá os seus filhos.

É claro que a educação pública brasileira tem inúmeras carências. Mas melhoraria muito, se a prioridade não fosse, em muitos casos, a perda de tempo na tentativa de formar cidadãos a partir de ideologias provadamente ultrapassadas e dela, também, não se aproveitassem as demandas eleitoreiras.

Anônimas diretoras e professoras têm provado essa possibilidade de melhoria. Saíram da zona de conforto, desgarraram-se do corporativismo desmedido e provam no dia a dia que quem quer faz. Infelizmente, elas, ainda, são a minoria.

A maioria é de quem não quer fazer. É dos que aceitam e se acomodam com o fracasso. Nunca sairão da sua zona de conforto e se escondem atrás de frases feitas: “Os alunos não querem estudar”; “As famílias não participam”; “Os salários são baixos”; e tantas outras desculpas. Essa turma perdeu o foco e até já esqueceu que a finalidade da escola é fazer o aluno aprender.

Já a outra turma acredita. Vai lá e faz. Sabe muito bem, que quando se quer ensinar reprovar não é preciso.

Francisco Cruz

Francisco Cruz

* Francisco R. Cruz é empresário e trabalhou muitos anos na área de tecnologia e, entre 2001 e 20...

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1 comentário

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  1. Professor Paulo Silva disse:

    Prezados Leitores desse Portal.

    Opinião desse cidadão expressa o quanto ele gostaria de puxar saco do governo.
    Esse cidadão quer mudar o foco da problemática da educação para ganhar crédito com o governo. Senhor Francisco você está completamente por fora desse problema. Se no ensino médio já é ruim imagina você essa turma de pessoas que estão entrando para as faculdades sem o minimo de conhecimento dos assuntos para as áreas que escolheram.
    O problema não está no ensino ou no professor como tu falas, mas no sistema ou trinômio: Aluno-Governo (escola e governo) e Professor.
    Sinto muito, mas reprovar é preciso quando se tem aluno em primeiro ou segundo período de engenharia por exemplo que não sabem como achar as raizes de uma equação do segundo grau. Ponto acho que suas observações mas parecem políticas do que técnicas…..’Portanto até o governo sabe disso, logo você nào será chamado para compor o quadro de funcionário do governo…