Brasil. Um país esquerdista

Francisco R. Cruz

Lá pela metade do século passado, o polêmico Nelson Rodrigues, anunciou: “O Brasil é esquerdista. Isto é tão forte que mesmo quem não o é, tem vergonha de manifestar-se contrariamente. Tenho a sensação que o único membro da direita sou eu. Sou um reacionário”.

Um exagero carregado de verdades, pois, àquela altura o regime comunista da extinta-URSS e da China encantava o país. Foi, contudo, a revolução cubana, que acendeu na esquerdista alma brasileira a ilusória chama da nossa própria revolução.

Não deu! O golpe militar de 1964 frustrou esse sonho, mas as convicções não morreram. Atravessaram as turbulências sustentadas pela paixão ideológica, a mais irracional e perene das paixões.  Com a abertura política dos anos 1970, a esquerda restabeleceu o protagonismo político e chegou à Constituição de 1988, com elevada influência.

Resultado: o país ganhou uma Constituição que, como nenhuma outra, garante incomparáveis direitos aos cidadãos. Figurino esquerdista com o codinome “Constituição Cidadã”. Entusiasmado com o fim da ditadura, o país festejava o maior equívoco da esquerda: “A ilusão de que o estado pode tudo”. Estava assegurado na nossa lei maior, o Estado grande, portanto, gastador; intervencionista; arrogante; contrário a livre iniciativa e a favor do nacionalismo econômico retrogrado, defendidos por Marx no século XIX. Ou seja: tudo que não deu certo em lugar nenhum do mundo.

Faço um parênteses, apenas para lembrar, que esse “desastre constitucional” acontecia quando os avanços tecnológicos deram vida à inevitável globalização, fenômeno fomentador do aumento das liberdades econômicas. Sem entender o processo, a esquerda posicionou-se contra. Não se sabe bem contra o quê.  Afinal, a realidade da globalização fundamenta-se na tecnologia, produto da acumulação do conhecimento pela humanidade ao longo de séculos. Aparentemente, à semelhança do “Cavaleiro Andante” de Dom Quixote de La Mancha, a esquerda dava combate a inimigos imaginários.

Continuando. As obrigações constitucionais inviabilizaram a governabilidade do país. A saída foi aumentar, sucessivamente, os impostos. A carga tributária saltou de 21%, no governo Collor, para 42% do PIB, nos dias atuais. Mesmo assim, o déficit fiscal continua a crescer arrastando a dívida, já próxima aos 80% do PIB. Sinal de mais impostos e mais dívida.

Para completar, um emaranhado de leis, onde se incluem as atrasadas e complicadíssimas legislações tributária e trabalhista, em cujos labirintos, armadilhas burocráticas emperram o país e transformam o ambiente dos negócios em desastrosa calamidade. Enfrentá-las é cruzar as portas do Inferno sem esperanças. “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais” (O Inferno de Dante).

Quanto maior o Estado, maior a sua interferência e menores ficam cidadãos e empresas. Daí em diante, ao redor do poder nasce uma aura de atração que vai da necessidade de sobrevivência à ganância desmedida. Todos querem ser amigos do rei. A ética, o caráter e o espírito de benevolência esfarelam-se nesse percurso, circunstâncias que levam o Estado grande, portanto, poderoso, a abandonar a posição de corrupto e assumir a de corruptor.  Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Foram essas as razões que levaram o país à situação dramática atual, na qual a corrupção tem papel preponderante. Nela o país está focado, pois julga ser o nosso principal problema. Não o é. Evidente que o combate a ela deve ser implacável. No entanto, ela é apenas o sintoma. A doença é o tamanho do Estado. Ao reduzir o seu tamanho, sistematicamente, reduz-se a corrupção. O contrário não é verdadeiro.

Como se tem visto, a corrupção parece gostar das nas estatais. Talvez seja por isso que os governos lulopetista assumiram o poder com 100 delas, vindas do governo anterior e em 14 anos de poder elevaram para 147. Essas 47 não trouxeram contribuição alguma ao país e deram 8 bilhões de prejuízo no período. Só de salários, provavelmente aos companheiros, pagaram 5,5 bilhões de reais. Uma forma de corrupção não encarada como tal.

Diante desse quadro, não é à toa que na edição de 2017 do “Índice de Liberdade Econômica” a posição do Brasil foi 140ª entre 180 países. Distante do Chile (7º) e próximo da Venezuela (176) e da Coreia do Norte (178), para onde queriam nos levar.

O país está quebrado. A dívida pública é uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento. As contas precisam encontrar o equilíbrio. Nesse sentido a reforma da previdência é absolutamente fundamental. Ledo engano. Para eliminar privilégios e fazer justiça é a solução.  Para o equilíbrio das contas, porém, é remédio para febre. Melhora, mas logo volta. O país sofre de infecção generalizada. O único remédio que pode levar à cura é emagrecê-lo drasticamente, para ganhar agilidade e cuidar bem das funções básicas de um estado.

Tudo o mais privatizado, vendido, concedido e até doado. Tudo mesmo. Inclusive os bancos. Ao mesmo tempo, uma reforma constitucional, assegura em cláusula pétrea, proibição do Estado entrar em negócios que possam ser feitos pela iniciativa privada.

Se vivo fosse, Nelson Rodrigues afirmaria que nada mudou. O Brasil continua um país esquerdista e ele um reacionário.

 

 

 

 

 

 

 

Francisco Cruz

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* Francisco R. Cruz é empresário e trabalhou muitos anos na área de tecnologia e, entre 2001 e 20...

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