Corrupção, a Besta do Apocalipse

João Lago

Quem já não ouviu falar de uma empresa nascida em uma garagem, no quarto de uma faculdade, ou no fundo de um quintal transformar-se em uma corporação transnacional com faturamento na casa de bilhões de dólares? Logo alguns nomes vêm a nossa mente: Microsoft, Amazon, Dell, Apple, Google, todas essas relacionadas ao que se convencionou chamar de empresas da nova economia que cresceram ofertando inovação tecnológica tendo (ou não necessariamente) como plataforma de negócios a internet. Melhor dizendo, empresas que exploram novas tecnologias buscando ofertar produtos e serviços fora do ambiente de comércio tradicional (empresas da velha economia).

Não por acaso todas as multinacionais citadas são estadunidenses e o crescimento dessas empresas está relacionado com o mercado de capitais de alto nível existente na economia dos EUA. Se não houvesse a possibilidade dessas empresas ainda raquíticas abrirem capital para financiar o seu crescimento, muito provavelmente não teriam se agigantado em tão pouco tempo, ou mesmo no berço teriam sido absorvidas por outras corporações mais poderosas e capitalizadas. Isto significa que uma boa ideia pode valer milhões quando investidores veem uma oportunidade de aumentar capital comprando ações dessas empresas. Logicamente, o potencial de apostar em uma boa ideia é justamente comprar ações dessas empresas ainda pequenas e ver o valor investido crescer exponencialmente acompanhando o sucesso que os produtos, ou serviços que as empresas obtém no mercado consumidor. Trata-se de um investimento de alto risco, pois não há como ser clarividente e prever que aquela firma de fundo de quintal um dia se tornará uma grande empresa. No entanto, foi para privilegiar empresas desse porte que o mercado estadunidense criou a Nasdaq, uma bolsa de valores destinada a pequenas e médias empresas abrirem capital de uma maneira simples, rápida e mais barata se comparada à famosa NYSE (bolsa de valores de Nova Iorque). A diferença básica entre uma e outra é que a Nasdaq reúne empresas da nova economia, enquanto que a NYSE da velha economia.

O Brasil possui um mercado de capitais pouco desenvolvido e para isto basta comparar a quantidade de empresas listadas no Ibovespa (bolsa de valores de São Paulo) que é de aproximadamente 390, enquanto que na NYSE está por volta de 2.800 empresas, sendo importante ressaltar que não estão aqui consideradas as empresas listadas na Nasdaq que é de aproximadamente 3.100. Essa diferença apenas reforça a ideia que uma pequena e média empresa no Brasil não teria como atrair investidores e assim conseguir levantar o capital necessário para o crescimento de suas operações sem depender de subsídios ou linhas de crédito governamental. Ao lançar ações no mercado uma empresa capitaliza-se e o risco do negócio, assim como os lucros, é dividido entre todos os interessados. Assim, estritamente analisando como a JBS financiou sua expansão, iniciada por Zé Mineiro, patriarca da família Batista a partir de um pequeno açougue em Anápolis em 1953 até transformar-se na maior empresa do mundo em processamento de proteína animal, verifica-se que até o final da década de 90 a JBS (ainda chamada Friboi) cresceu com capital próprio a partir de uma estratégia de diversificação de suas atividades, aquisições de frigoríficos e com a exportação de carnes. Em 2007 com um faturamento de R$ 4 bilhões e já sob as bênçãos do governo Lula, a JBS abre capital e quem compra as ações é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES para que a JBS possa partir para os seus planos de internacionalização por meio da compra de vários frigoríficos ao redor do mundo. Porém, por meio da operação Bullish, que foi às ruas em 12 de maio, a Polícia Federal (PF) investiga os aportes de R$ 8,1 bilhões concedidos pelo BNDES que teriam gerado prejuízos de R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos. É verdade que havia suspeitas, a partir do escândalo de corrupção da Lava Jato, da existência de uma caixa preta no BNDES (mais semelhante a uma caixa de pandora) que quando fosse aberta traria desgraça e dor para corruptos encastelados no poder, ou que dele participaram. Não somente para a JBS, mas o BNDES irrigou de recursos públicos as empresas de Eike Batista e também construtoras envolvidas na Lava Jato para obras fora do Brasil, entre elas o porto de Mariel em Cuba financiada a fundo perdido, ou seja, sem a contrapartida de pagamento pelo governo cubano. Está investigando-se ainda a ponta do iceberg, pois dessa caixa ainda deve sair muita bandalheira.

Uma frase que já foi repetida à exaustão é que está claro que não foi o PT que inventou a corrupção, mas se pode dizer que nunca na história desse país o cinismo parece uma virtude estampada na cara dessa gente e basta ouvir o discurso dos denunciados jurando inocência e que irá prová-la na justiça, com desculpas esdrúxulas de atos que de alguma forma foram construídos com o contado direto com os governos Lula e Dilma. A JBS, as empresas de Eike Batista, OAS, Odebrecht e tantas outras que caíram corrompendo, ou foram corrompidas de forma sistematizada e indiscriminada durante os treze anos de governo petista. Pode-se perguntar: mas quem se ofereceu primeiro? Será que isso realmente é relevante, ou será apenas uma forma dos corruptos, ao melhor estilo do cinismo do jardim do Éden, nada assumirem e colocarem a culpa de seus pecados no outrem.

Suspeitava-se que os irmãos Joesley e Wesley não fossem esses gênios dos negócios, mas até pouco tempo eram festejados como empreendedores de sucesso, com direito a possuírem apartamento na 5ª Avenida em Nova Iorque, cujo metro quadrado gira em torno de USD 28 mil, ou seja, um apartamento de 100 metros quadrados não sai por menos de R$ 9 milhões. Eike Batista também passeou nessa seara e chegou a ser considerado o homem mais rico do Brasil e viu sua fortuna evaporar na mesma velocidade que foi construída, também por meio de ações vendidas na bolsa de valores. Por ironia Eike, Joesley e Wesley possuem o mesmo sobrenome: Batista, mas não pertencem a mesma família, ou carregando na ironia pertencem sim a uma “famiglia” ao melhor estilo dos mafiosos sicilianos cujo “capo di tutti capi” considera-se o homem mais honesto do Brasil e ainda mais honesto que o papa.

Espera-se que o processo de limpeza na política promovida pelo judiciário não tenha retorno, pois o custo Brasil que tanto onera empresas e o cidadão comum passa pelo imenso pedágio da corrupção.

 

João Lago

João Lago

* João Lago é professor universitário, mestre em Administração (Estratégica / Marketing), tem 10 ...

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