Horóscopo

Tem gente que acredita em horóscopo. Fazer o quê? Se essas pessoas querem se enganar que continuem imaginando as mais variadas conjugações de astros como capazes de influenciar a vida de cada um. Talvez fique até mais fácil porque como os signos são apenas doze, teremos todos os habitantes do planeta divididos em uma dúzia de departamentos, com comportamentos estereotipados para cada um.

Cuido de meu dever, entretanto, lembrar que na década de 60, quando não havia internet, na hora de fechar a edição do saudoso “O Jornal”, a redação se reunia para preencher os claros com as previsões do dia seguinte e muitas vezes eu mesmo escrevi algo assim: “Não saia de casa. Como Vênus está entrando na casa de Plutão (Plutão ainda era planeta), a conjugação não lhe é favorável e você pode ser atropelado. Muita cautela também no amor”.

O certo é que a grande imprensa sempre deu guarida privilegiada para astrólogos, destacando tragédias felizmente nunca ocorridas.

Como me recuso a ver televisão aberta (por uma elementar questão de sanidade), não sei se a Rede Globo ainda mantém, no último dia do ano, um setor em que os mais conceituados “cientistas” do ramo são consultados e expõem ao público o que os astros lhes segredaram para o período que irá iniciar. Nos anos setenta isso era praxe.

Deu-se, então, que o prefeito de uma cidadezinha do interior do simpático e vizinho Estado do Pará escutou, entre atento e estarrecido, um dos magos anunciar, com voz de Cassandra, que no novo ano iriam morrer três destacadas personalidades da política mundial. Era ele fiel seguidor das previsões astrológicas e as mais confiáveis, a seu sentir, eram as publicadas pela revista “Contigo”, de que sua cara-metade possuía assinatura permanente. Nada, entretanto, que se comparasse ao potencial científico do horóscopo global, que, com tanta firmeza, havia determinado a morte dos líderes.

Foi um deus-nos-acuda. O prefeito meteu na cabeça que seria ele um dos “premiados” com a próxima e irremediável extinção. O secretário de saúde do município passou a ter mais trabalho do que nunca, no afã, diariamente repetido, de medir todas pressões sanguíneas e emocionais que os aparelhos de então pudessem permitir.

No mês de março, a Argentina, desolada, enterra o corpo de Juan Perón. Soaram as trombetas. O secretariado municipal foi convocado para reunião de emergência, ao fito de ficar bem ciente de que a tragédia anunciada começava a dar mostras de sua quase certa concretização e de que era preciso adotar providências para evitar que a cidade se visse, de um momento para outro, privada de sua liderança maior.

Na Europa, em plena primavera, a inigualável Paris viu a morte do ex-presidente George Pompidou. Era no mês de junho. A televisão mostrou em detalhes todas as cerimônias fúnebres com que o governo francês homenageou a memória do ex-chefe de Estado. O prefeito assistiu a todas, com uma angústia que começava a transbordar. Cada expressão latina, falada ou cantada, na missa de corpo presente lhe doía nas entranhas e soava como um terrível mau agouro, assim como se uma rasga mortalha estivesse pousada na janela de sua residência.

Foi demais. O nosso bom alcaide viajou às pressas para São Paulo a fim de fazer um checape, que, afinal de contas, tinha ele responsabilidades enormes com seu povo e não queria deixá-lo desamparado, em momento que lhe parecia de extrema relevância.

Deu certo. O mundo não perdeu mais esse grande líder. Comprovou-se, então, a relevância do horóscopo.

Felix Valois

Felix Valois

* Félix Valois é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída p...

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1 comentário

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  1. elias nilo disse:

    quais obras o senhor recomenda a leitura para que possa sonhar com dez por cento de sua inteligência,competência e irmonia.