Projeto da Fiocruz Amazônia é premiado pelo Laboratório de Práticas de Participação Social em Saúde da Opas

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O projeto “Direito a Cidade e a Saúde de Populações Indígenas”, derivado do Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, foi premiado como uma das 31 iniciativas promissoras em participação comunitária escolhidas pelo Laboratório de Inovação Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde, da Organização Panamericana de Saúde (Opas). O projeto foi selecionado entre 144 experiências da Região das Américas, submetidas ao laboratório.

O anúncio foi feito durante live, aberta ao público, no último dia 14/11, no canal do YouTube Portal da Inovação na Gestão do SUS. A iniciativa da Opas/OMS no Brasil e do Conselho Nacional de Saúde conta com a parceria do Centro de Educação e Assessoramento Popular (Ceap).

Além do Amazonas, foram premiados projetos desenvolvidos nos estados do Amapá, Espírito Santo, Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. A iniciativa também contemplou experiências do Chile, Peru, México, Argentina, Bolívia e Panamá.

Coordenador do Projeto Manaós, o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, comemorou a premiação como um reconhecimento ao trabalho que demonstrou a experiência de empoderamento comunitário e autonomia da Associação de Indígenas e Moradores do Parque das Tribos (Aimpat), associada à pesquisa participativa de autoria da egressa do Mestrado em Condições de Vida e Situação de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), Raniele Alana Alves, com o apoio da mestranda também do PPGVIDA Mayra Farias.

O trabalho vai compor um dos capítulos do livro com as experiências exitosas a ser editado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Opas. “Compartilhamos o prêmio com a equipe que fez parte desse processo e, sobretudo minhas mestrandas e a cacica Lutana Kokama, liderança indígena do Parque das Tribos, que escreveu conosco a experiência”, ressaltou Tobias.

O objetivo do LIS CNS Internacional é identificar, sistematizar e reconhecer experiências exitosas de participação e engajamento social em políticas públicas e práticas em saúde, voltadas ao aprimoramento dos serviços e ações de saúde, gerando trocas e aprendizados entre os atores sociais envolvidos que potencializam sua ação local, regional, nacional e internacional.

“Maravilha poder compartilhar o resultado construído a muitas mãos e mentes. Muitas vezes, subestimam a capacidade de pessoas que estão na ponta de se organizarem e mobilizarem outras pessoas para conseguirem uma efetiva participação social na saúde e outras áreas. Todos os projetos estão de parabéns, porque entregaram novidades e permitiram a integração de experiências nacionais e internacionais”, disse o oficial especialista em Sistemas de Saúde da Opas/OMS no Brasil, Fernando Leles.

Sobre o Manaós

O Projeto Manaós é desenvolvido há dois anos no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. O projeto foi aprovado na Chamada Pública 001/2021 do Edital Inova Fiocruz, com foco no apoio a propostas que dialogam com os objetivos, princípios e pressupostos do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.

Na primeira fase, o projeto realizou o mapeamento dos perfis socioeconômico e da saúde da população que vive na comunidade, identificando os processos de organização sociocultural e política, no acesso aos serviços de saúde. Na segunda etapa, o projeto busca desenvolver linhas específicas de ação voltadas ao empoderamento comunitário, a formação de agentes indígenas de saúde e à investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem em área urbana.

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Essa investigação, de acordo com Rodrigo Tobias, inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não-aldeados que vivem em contextos urbanos e periféricos das grandes cidades.

Raniele Alves, autora da dissertação intitulada “Redes Vivas na Amazônia Indígena Urbana: cartografia do acesso aos serviços de saúde e produção do cuidado em Manaus/AM“, explica que a pesquisa ocorreu de forma colaborativa e com a participação ativa da comunidade do Parque das Tribos. “É importante ressaltar isso pois nossa intenção ao escrever sobre nossa experiência para a Opas foi justamente abrir e visibilizar uma temática tão atual na academia, de que não se faz pesquisa sozinho e muito menos de forma neutra, estamos rodeados de questões políticas e sociais, principalmente em nosso contexto amazônico”, diz Raniele.

Invisibilidade

A autora ressalta ainda que o trabalho foi escrito a quatro mãos: “Uma mulher indígena Kokoma, liderança da Comunidade Parque das Tribos, e uma mulher afroamazônica que tem suas raízes ancoradas em uma ancestralidade quilombola e indígena”, descreve. “O que escrevemos foi, sobretudo, resultado do que aconteceu no caminhar e na feitura da pesquisa. Como uma boa anfitriã, a cacica Lutana Kokama abriu as portas da sua casa e da comunidade para juntos realizarmos uma pesquisa-ação sobre a questão da invisibilidade indígena no contexto urbano, principalmente em relação ao acesso aos serviços de saúde”, disse.

Para Raniele, o reconhecimento pela Opas reverbera de forma significativa. “Nossa intenção é cada vez mais viabilizar e possibilitar que as vozes indígenas sejam reconhecidas nesses espaços e, principalmente, no que tange a pesquisa com povos indígenas, precisamos assumir uma postura enquanto academia de utilizar metodologias que descolonizem a academia, da escrita e principalmente do modo de ‘reescrever’ principalmente quando voltado para as populações Indígenas”, salientou, acrescentando que “a luta pela saúde indígena em contexto urbano segue firme com a transformação dos estigmas identitários em protagonismo, autonomia e empoderamento”.

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