Dois casos de sarampo foram confirmados no estado de São Paulo em 2022, sendo um na capital e outro no município de São Vicente, localizado na região metropolitana da Baixada Santista. Anteriormente, o caso havia sido notificado por Cubatão, porém a notificação leva em conta o município de residência do paciente, conforme cadastro feito no sistema oficial pelos municípios.
A idade dos infectados não foi revelada pelos órgãos responsáveis. Na capital, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 24 outros casos estão sendo analisados.
As contaminações confirmadas em São Paulo são autóctones, ou seja, as pessoas contraíram o vírus no próprio território brasileiro, e não em viagem.
“Isso significa que o vírus está entre nós, e se a aderência à cobertura vacinal não melhorar, os casos podem aumentar rapidamente”, explica Melissa Valentini, infectologista do Grupo Pardini e mestre em Infectologia e Medicina Tropical pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Mortalidade infantill
O sarampo é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus chamado Morbillivirus. A enfermidade é uma das principais responsáveis pela mortalidade infantil em países do Terceiro Mundo. A transmissão acontece diretamente de pessoa a pessoa, por meio das secreções do nariz e da boca expelidas ao tossir, respirar, falar ou respirar (confira abaixo nesta reportagem os sintomas da doença).
O sarampo é disseminado pelo ar, e tem a maior taxa de transmissão entre as doenças virais.
“Se levarmos em conta o ‘R0’, a medida matemática que quantifica o número de transmissões, a estimativa é que cada pessoa com sarampo passe a doença para mais de 10. Já o R0 da Covid-19 fica entre 1,5 e 3, a depender da variante. Por isso a meta de cobertura vacinal do sarampo deve ser acima de 95%, para conseguir frear a doença”, esclarece José Cerbino Neto, pesquisador do INI/Fiocruz (Instituto Nacional de Infectologia).
Além de São Paulo, Paraná tem 2 casos sob investigação e a Bahia apresenta 28 casos sob investigação. Entre as unidades federativas que não registraram suspeitas ou já as descartaram estão Pernambuco, Goiás, Pará, Distrito Federal, Ceará e Espírito Santo.
No momento atual, com menos restrições impostas pela Covid-19 e mais pessoas viajando, Neto aponta que o risco de um novo surto de sarampo ainda é maior.
“A falta de distanciamento e máscara acaba impactando outras doenças respiratórias também. Associado a uma baixa cobertura vacinal, é a receita perfeita para a disseminação.”
Vacina tríplice
Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de país livre do sarampo pela Organização Pan-Americana da Saúde, mas o perdeu em 2019, após a confirmação de um caso da doença no Pará.
A vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), registra números de cobertura insuficientes desde 2017. A primeira dose teve queda de cobertura de 93,12%, em 2019 para 70,52% em 2021. Já a segunda dose, necessária para completar a imunização, teve baixa de 81,55% para 49,31% no mesmo período.
“Como tivemos menos casos da doença nos últimos anos e as pessoas não viam mais crianças morrendo ou pessoas sofrendo por sarampo, a percepção de risco diminui e, consequentemente, a busca pela vacina. A Covid-19 também pode ter influenciado, já que havia um medo de ir aos postos de saúde e ser infectado pelo coronavírus”, diz o pesquisador da Fiocruz.
O objetivo do país agora é retomar o certificado por meio da melhora das taxas de imunização. “Como vimos recentemente com a Covid-19, a vacina muda a trajetória de uma doença, então é importante a gente não perder aquilo que a gente já vinha fazendo tão bem”, ressalta Valentini.
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