Hotel Cassina, Manaus Paris das Selvas, dos Coronéis de Barrancos, da roleta, do bacará e de Aníbal Beça.

Hotel Cassina

Hotel Cassina, em ruínas, se transformou numa denúncia da falta de memória de Manaus. A revitalização é excelente sinal de novos tempos.

A escola de samba Sem Compromisso ficou apenas com o terceiro lugar, no carnaval de 1983, ano de estreia. Mas trazia o samba-enredo “Hotel Cassina, apoteose e boemia“, uma pérola com letra de Jocelito Chaves (Celito) e Robério Braga, com música de Aníbal Beça e Rinaldo Buzaglo.  Falava de um prédio esquecido, na rua Bernardo Ramos, 295, praça Dom Pedro II, Centro. É um escombro, quase um símbolo de como a memória de Manaus está relegada a segundo plano. Agora, a Prefeitura anuncia a revitalização do Cassina, depois Cabaré Chinelo, hoje escombros. Isso mexe com quem tem alma manauara e vive a cidade com amor.

O Cassina foi o hotel 5 estrelas da época. Recebia as polacas, musas europeias, prostitutas de luxo destinadas aos Barões da Borracha. Ricos, embrutecidos de um lado pelo empaludismo e refinados de outro pelo convívio com os europeus ingleses, eles queriam mais. Eram os coronéis de barranco, a ligação dos seringais, matéria-prima da nascente indústria automobilística, com os embriões das multinacionais.

Sabe aquela lenda de que os ricos amazonenses eram tão ricos que acendiam os charutos com notas de US$ 100? Ela existia porque o povo reproduzia histórias do hotel Cassina. Nem todos podiam entrar, mas não é difícil imaginar os trabalhadores reproduzindo essas histórias de realismo fantástico.

O Amazonas era o principal exportador brasileiro. A borracha se tornou o principal item de exportação do País. Isso não é lenda. A agência do Banco do Brasil em Manaus era a 002-7, a segunda entre todas. Isso é História.

Como uma cidade pode esquecer seu coração? O Cassina fazia pulsar toda a vida naquela capital amazonense de 1899. O Réveillon do Século XX, relatado por Robério, Celito, Aníbal e Buzaglo, no samba da Sem Compromisso, aconteceu lá.

Agora o prédio será revitalizado. O Portal do Marcos Santos deu a informação, em primeira mão. Mostrou o decreto declarando-o de “utilidade pública para fins de desapropriação”. A matéria foi publicada no dia 24 de junho de 2015. Nesta quarta (18/09), o prefeito Arthur Virgílio Neto lança a obra de restauro.

 

Futuro

Como ficará o “novo” Cassina? Como toda grande obra de restauro, no mundo inteiro: fachada preservada e interior reformulado, modernizado. Deve surgir um prédio atual, com os traços arquitetônicos originais da fachada escorados, reforçados e mantidos.

Tem mais. Arthur visitará obras em andamento, no Centro Histórico de Manaus. Tem o Pavilhão Universal, na praça Adalberto Vale. Há o prédio da Câmara Municipal de Manaus, na Sete de Setembro. E a Biblioteca Municipal João Bosco Evangelista, na Monsenhor Coutinho.

Essas obras – e mais o evento Passo a Paço – estão revigorando o Centro Histórico de Manaus. Trata-se de um local bonito, diferenciado, com o traço arquitetônico da passagem europeia pela capital amazonense.

Manauara que não tem orgulho disso, tem que pedir para sair. A poesia do samba-enredo , além da voz de Aroldo Melodia, mantiveram o Cassina vivo. Ouça abaixo. E vibre. O coração de Manaus está prestes a pulsar novamente.

PS: Coração? E o Teatro Amazonas? Foi só inaugurado em 1899. Começou a viver quando o Cassina já estava no auge. Virou a joia amazonense. Mas o coração, o reflexo da economia e da vida mundana da cidade, esse já havia sido fincado no Cassina.

PS 2: Esta matéria grafou “Casyna”. E disse que Aníbal Beça havia feito a letra e a música era de Rinaldo Buzaglo. Tudo isso estava na primeira versão, agora corrigida. Robério Braga, ex-secretário estadual de Cultura, historiador, presidente da Academia Amazonense de Letras, fez as correções, inclusive de sua autoria no samba-enredo da Sem Compromisso. Ele e o vice-presidente da Manauscult, Zezinho Cardoso. O nome homenageia o italiano dono do hotel, Andrea Cassina. Valeu🙌🏽.

Ouça Aroldo Melodia  e “Hotel Casyna, apoteose e boemia”:

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1 comentário

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  1. Marcos disse:

    E como está o Porto? Antes podíamos acessar a passarela e ver a régua das enchentes e ver a movimentação do porto flutuante. E também tinha um imóvel antigo no estacionamento perto da passarela, o qual salvo engano, tinha um acervo histórico, mas não exposto ao público.