Prédio histórico do Cabaré Chinelo em desapropriação de urgência por R$ 400 mil

As ruínas do hotel Cassina ou Cabaré Chinelo denunciam a falta de memória histórica, mas a restauração parece, finalmente, estar a caminho

As ruínas do hotel Cassina ou Cabaré Chinelo denunciam a falta de memória histórica, mas a restauração parece, finalmente, estar a caminho

O prédio onde os barões da borracha comemoraram, brindando com champanhe Moèt Chandon, o Réveillon da passagem do Século XIX para o Século XX, o hotel Cassina, depois Cabaré Chinelo, será finalmente restaurado. O decreto nº 3.125, de 25 de junho de 2015, publicado no Diário Oficial do Município do dia 24/06, declara o local “de utilidade pública”. “Vamos reformá-lo e construir lá o Centro de Arte Popular”, declarou o prefeito Arthur Virgílio Neto.

O “hotel Tropical do período Áureo da Borracha”, como é considerado pelo historiador Antônio Loureiro, foi tema da Escola de Samba Sem Compromisso, em 1983, sob o título “Hotel Cassina, apoteose e boemia”. Aroldo Melodia deu interpretação antológica ao samba-enredo, com letra de Aníbal Beça e música de Rinaldo Buzaglo – ouça abaixo, após esta matéria.

Os escombros da rua Bernardo Ramos, 295 (antigo 2.091), na praça Dom Pedro II, foram adquiridos pelo falecido advogado Aurélio Couto Ramos e depois transferidos para o filho dele, Benjamin Couto Ramos, também falecido (13/01/2012), desembargador e ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Acre e Rondônia (TRT, 4ª Região). A Prefeitura vai pagar aos herdeiros R$ 423.778,32.

A propriedade do local gerou muitas controvérsias. A mais recente ocorreu quando o governador José Melo chegou a ter sobre a mesa um decreto recebendo do Município o estádio Carlos Zamith e a Vila Olímpica do Coroado, em troca da atual sede da Prefeitura, desapropriada pelo Governo do Amazonas à Mineração Taboca, e do hotel Cassina. Só na última hora é que um funcionário mais diligente “descobriu” que o prédio é propriedade privada.

Ainda assim, para proceder a desapropriação, a Prefeitura considera o antigo ponto mais alto do luxo e glamour dos barões da borracha “de presumível propriedade” de Sofia de Azevedo Ramos, Aurélio do Couto Ramos, Izaurina de Freitas Ferreira, Marco Aurélio de Freitas Ferreira e Marco Antônio de Freitas Ferreira. O documento de propriedade tem o nº 4.424 e está lavrado no 2º Ofício de Registro de Imóveis, mas a sucessão dos herdeiros não está bem definida.

 

História

Construído em 1899, bem a tempo de receber a virada do século, o hotel levava o nome do empresário italiano Andréa Cassina. Quando virou Cabaré Chinelo refletiu a decadência da borracha, após o florescimento da biopirataria que transferiu mudas para a Malásia.

Desvalorizado e a caminho do abandono, o prédio foi adquirido pelo fazendeiro Aurélio Couto Ramos. “Ele foi advogado, amazonense, dono de uma vacaria, uma fazenda, localizada no local onde hoje funciona o hospital Adriano Jorge. A casa da família era ao lado da C&A da Eduardo Ribeiro, em cima de uma leitaria”, explica Aguinelo Balbi, ex-Procurador Geral de Justiça do Amazonas.

A desapropriação do prédio pela Prefeitura é considerada de urgência.

Clique aqui e ouça o samba-enredo da Escola de Samba Reino Unido, de 1983:

Diário Oficial com o (recente) decreto de desapropriação do prédio

Diário Oficial com o (recente) decreto de desapropriação do prédio

chinelo2

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *