Falta de política no Ensino Superior fortalece os puxa-sacos e diminui as chances do novo

Falta de política no Ensino Superior fortalece os puxa-sacos

Falta de política no Ensino Superior fortalece os puxa-sacos, que dispensam o mérito e garantem cargos na base do café com tucumã e tapioca

Político eleito presidente, governador, prefeito ou mesmo para cargos legislativos ganha caneta poderosa. Pode nomear um monte de gente, sem concurso público, nos chamados “cargos de confiança”. Nesta eleição, quanto consta em pesquisa, o primeiro colocado é sempre o mesmo: o novo. E ele deveria sair das faculdades, centros universitários e universidades. Estas, porém, relegam a segundo plano o debate político e sufocam a formação de lideranças. Aumentam as chances dos acólitos, os puxa-sacos, aqueles que grudam nos vencedores, se eternizam nos cargos públicos e sufocam as exceções.

A máquina é formada por eleitos e não eleitos. É ela que compõe o sistema, o comando da sociedade. Os eleitos não são os únicos a estruturá-la. E, nos momentos decisivos para a Nação, como agora, todos se perguntam como vencer esse gigante.

Quer uma ideia de como a coisa funciona? Um vereador de Manaus, a título de exemplo, tem direito a verba de gabinete de R$ 48 mil. Com ela pode nomear entre 20 e 30 funcionários, com salários variados. Dá para pagar, se dividir igual e nomear 30, R$ 1,6 mil mensais para cada. Sem concurso. Sem precisar justificar para ninguém. Nem precisa de mérito. É questão de escolha pessoal do edil.

O brasileiro aprendeu a se divertir com as trapalhadas e exibições de falta de cultura dos políticos. O sujeito preparado, centrado e com bons propósitos virou exceção, quando deveria ser a regra.

 

Cara virada para políticos, mansões, carrões…

Política se tornou sinônimo de desonestidade. Todo mundo vira a cara quando alguém se diz político. Ninguém parece ver mansões, iates e carrões que ostenta, da noite para o dia. Nem os seguranças que lhe carregam as malas e abrem as portas.

Tudo isso é pago pelo mesmo sujeito que vira as costas e dá de ombros para o político. O desprezo é, desse modo, um instrumento valioso para a desonestidade e a má intenção.

O melhor caminho para romper essa armadilha, que ameaça o Brasil, é a formação de consciência social. As Instituições de Ensino Superior (IES) têm papel fundamental nessa batalha. São elas que podem fomentar o debate, estimular novas lideranças e trazê-las para o cenário eleitoral.

Presidente e governador, após a eleição, têm o direito de formar o chamado “primeiro escalão”. Nomeiam ministros e secretários. Estes, por sua vez, formam as suas equipes, o segundo escalão.

 

Cadê os nomes?

Quais são os nomes indiscutíveis para formação de um secretariado de alto nível no Amazonas? Quem foi testado e aprovado no debate e no dia-a-dia da sociedade amazonense? Quem mostrou, com ideias inovadoras e sinceridade de propósitos, sem nada requerer em troca, estar à altura desses cargos?

Os setores mais esclarecidos do Amazonas comemoraram a chegada ao secretariado amazonense do empresário Denis Minev, por exemplo. Jovem, boa formação, oriundo do grupo empresarial Bemol, entre os três maiores do Amazonas, ele parecia representar o esperado “novo”. Bastou pouco tempo, porém, para que desistisse da política e voltasse a mergulhar na rotina empresarial. Foi assim ontem e é assim hoje.

O Amazonas, grandioso, cheio de perspectivas, não pode viver de exceções. Interessa ao sistema desiludi-las, desencorajá-las e expeli-las, rapidamente. Só quando uma avalanche de novos talentos invadir as diversas instâncias governamentais ficará impossível resistir à ansiada oxigenação.

E, outra vez, só a academia tem capacidade para isso.

 

USP e Ufam

A crise não é apenas amazonense. A Universidade de São Paulo (USP), que formou tantos quadros de liderança nacional, fechou a torneira faz algum tempo.

A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) parece ter matado o debate político com as greves do período petista. Elas foram solenemente ignoradas pelos governos dos “companheiros” e terminaram por inanição. Levaram de roldão anos de esperanças dos estudantes. Deixaram a impressão de que, ao final, aconteceram apenas para dar alguns dias a mais de folga aos grevistas.

A chama do debate precisa voltar a ser incentivado. Reitores, coordenadores de unidades e cursos, professores e mesmo alunos têm papel fundamental no processo.

A reconstrução do Brasil passa pela academia. A pública, paga pelo contribuinte, e a privada, bancada tanto pelo bolso quanto pelas bolsas.

Sem formação, treinamento e visibilidade de novos líderes, a política continuará tirando o pijama dos velhos políticos. Ou recorrendo à academia da malandragem, às escolas que eles próprios forjaram.

O cenário ideal é aliar o dia-a-dia acadêmico com o debate social. A formação técnica com o forjar político. Ou a alternativa é o critério de abastecer os caciques de café com tucumã e tapioca, para obter os melhores cargos, com honrosas exceções. E aí não dá para se queixar do caos que administra, a título de exemplo, os R$ 19 bilhões do orçamento do Amazonas e dos amazonenses.

É hora de refletir sobre isso.

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2 comentários

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  1. Rubens disse:

    Parabéns
    Ótimo comentário, nossas instituições estão falidas, instrumentalizadas e nossa juventude alienada

  2. Rômulo disse:

    Texto esplendoroso. Marcos, a máquina pública sofre desinchaço e inchaço a cada eleição. Esse sintoma é o que corrói o dinheiro público pois entram pessoas despreparadas: sem noção de direito administrativo, redação oficial, ética no serviço público etc. O resultado? Recai sobre quem sabe. Então a matemática fica simples: entram 5 cargos comissionados que não sabem nada e a tarefa fica para quem é efetivo.
    Sou servidor público e estudei muito para vencer a corrida por um cargo público, desde informática a constitucional. Um comissionado ingressa no serviço público como uma página em branco, mal sabe usar o próprio celular.
    O Servidor público, o original, aquele que estudou para servir a população, com a devida qualidade, é abandonado pelo estado quando o assunto é carreira. Afinal, são raras as ocupações de gerências e diretorias por funcionários efetivos.
    A nossa carta magna esclarece em seu artigo 37, inciso V, que Funções de Confiança e Cargos em Comissão destinam-se APENAS às atribuições de DIREÇÃO, CHEFIA e ASSESSORAMENTO. No entanto, não é difícil observar Comissionados no exercício de atribuições TÉCNICAS e OPERACIONAIS, que dispensam a CONFIANÇA PESSOAL DA AUTORIDADE PÚBLICA, ou seja, poderia ser exercido por um servidor efetivo.
    Basta pesquisar “ADI 4125” e “ADI 3602” para observar as decisões do STF sobre o assunto.
    Toda essa bagunça se dá porque os eleitos precisam “pagar” pelo apoio que receberam durante suas campanhas. Se fizerem um levantamento, com base na folha de pagamento, disponível no Portal da Transparência do estado, poderão notar que existem mais Gerentes do que setores na Administração Pública do Estado do Amazonas.
    E assim vai faltando dinheiro na educação, saúde, segurança, cultura, planejamento etc.