Enchente, planejamento e contenção

Um grande – e louvável – esforço está sendo feito para a retirada das casas que foram invadidas pelas águas, nas margens dos rios, lagos e igarapés. De uma parte, pelo Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim). De outra, como esforço extra das diversas esferas governamentais. São medidas que a enchente exige e há muito se fazem necessárias. O problema que se impõe agora é o que fazer das áreas desimpedidas, que nunca deveriam ter sido ocupadas e podem transformar-se em enormes espaços vazios, verdadeiro convite a todo tipo de atividade degradante, inclusive lixão e esgoto a céu aberto.

O Prosamim, que vem sendo executado há alguns anos, optou por construir equipamentos urbanos, principalmente ruas, praças e quadras esportivas, atendendo a uma parte da demanda manauara. Não sei o que está planejado para as demais áreas, submetidas à ação emergencial da atual alagação. Tomara que seja evitada a justificativa de que o importante no momento é o socorro aos flagelados e tudo fique para depois. Sem destinação, essas áreas serão novamente ocupadas por moradias e outra vez se realimentará o círculo que tanto adoece Manaus.

Sugiro que seja incluída, além das praças, ruas e quadras, uma coisa bem mais simples, chamada mata ciliar. Nada mais que o replantio de árvores nativas, nas margens dos cursos d’água, criando-se belos igapós, com toda a diversidade biológica que costumam atrair, no período da enchente, e grande auxílio à arborização da cidade, o tempo inteiro.

Os cientistas ambientais podiam incluir alguma discussão sobre isso, nos seminários, palestras e workshops destinados a marcar a Semana do Meio Ambiente, a partir de amanhã, segunda-feira.

Os ecologistas poderiam estudar um pouco o exemplo da veneranda Martha Falcão, que dá nome à Instituição de Ensino Superior de sua família, professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que muito lutou para dar um pouco de verde a Manaus. Ela estudou e apresentou às autoridades projetos palpáveis de arborização. Aplicou a teoria de forma objetiva e muito contribuiu para o que temos hoje nesse campo na cidade.

Vejo que o Prosamim parte agora para os bairros Presidente Vargas (Matinha), São Raimundo, Glória e São Jorge. Ótimo. Eleve-se a cota da margem do igarapé, antes de chegar ao rio Negro, mas o ideal seria não transformar aquele colosso que se vê hoje num simples córrego. O amazonense está acostumado a muita água. Crie-se uma minifloresta de igapó nas margens e quando a enchente vier terá para onde ir, além de se acrescentar beleza natural ao local.

Ouvi que plantar árvores nas margens de igarapés é criar abrigo para marginais. Ora, se fosse para eliminar ou evitar criar locais onde eles se escondem a gente teria que botar abaixo quase a cidade inteira e começar tudo de novo.

O que sugiro, como contribuição à cidade que é de meus pais, minha, de meus filhos e de meus netos, é que o planejamento presida os trabalhos de contenção das próximas enchentes. Não é tudo que se justifica pelo mal que a água grande traz. E um toque de humanização sempre faz muito bem.

 

Arthur Virgílio Neto

Arthur Virgílio Neto

* Arthur Virgílio Neto é diplomata, ex-líder do PSDB no Senado e prefeito de Manaus

Veja também
1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. joyce mara disse:

    Ilustre Arthur Neto,

    parabéns pelas propostas, não basta criticar sem propostas que minimizem ou resolvam as questões.