A ‘greve da catraca livre’ evita filas, deixa de usar o trabalhador como massa de manobra e põe o empresário em sinuca de bico

O Sindicato dos Rodoviários tem sido desastroso, em seus últimos movimentos, quando tem como único objetivo eleger a família Oliveira (Josildo parece ser o candidato da vez) a algum cargo político. É enorme irresponsabilidade deixar o trabalhador horas nas paradas, em risco de perder o emprego, com grande choque à economia manauara, por conta de ambição política que mira uma cadeira de vereador ou, como agora, de deputado estadual. Mesquinharia. Pequenez. Falta de visão. A “catraca livre”, porém, é uma mudança importante nessa postura.

Quando os ônibus param, seja por greve (trabalhador) ou locaute (empresário), quem paga a conta? O sistema inteiro sofre. Mas quem fica na fila, horas e horas, voltando para casa ou usando de alternativas cada vez mais caras – um mototáxi para o centro a até R$ 50 é absurdo! – é o trabalhador.

É ele que, na fila, aparece na frente das câmeras, reclamando, sofrido, aos milhares, numa pressão eleitoral irresistível para qualquer político. O empresário do transporte coletivo não precisa mover uma palha. O povo, essa massa de manobra fortíssima, reage por ele.

Agora, o mesmo sindicato que tem objetivos políticos, resolve fazer greve de outra forma: vai liberar a catraca, isto é, ninguém paga a passagem. O cobrador ameaça fingir que não está vendo o sujeito passar por cima e não pagar a passagem, durante um dia inteiro.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) afirma que isso é “apropriação indébita” e indaga “quem vai pagar o diesel?”. Esticar a corda com os trabalhadores, sabendo que a única consequência é deixar o pobre na fila, não vai nada? E o diesel é, em grande parte, financiado pela renúncia de ICMS, pelo Governo do Amazonas.

Pula essa parte.

Os ônibus não vão parar. O trabalhador vai amanhecer o dia, com os seus R$ 2,75 de ida e mais R$ 2,75 de volta, no cartão do transporte ou no bolso, mas não precisará pagar. Verá, no lugar de ficar horas na fila, o ônibus passar, entrará nele e não vai desembolsar nada. Ficará torcendo para que a greve dure 30 dias.

O Sinetram vai sentir no bolso. Se conseguir uma liminar na Justiça do Trabalho, o Sindicato dos Rodoviários vai sentir no bolso. Quem não sente no bolso é quem sempre sentiu, o trabalhador. Ótimo.

E a Prefeitura, no meio disso tudo? O papel do prefeito é manter o sistema funcionando. Não importa se o bloqueio vem do trabalhador ou do empresário. Não importa se quem sofre é o trabalhador, empresário ou usuário do sistema. Quando o ônibus não cobra passagem, não é remunerado, o empresário fica sem condições de renovar a frota e cumprir os compromissos que assumiu com o poder concedente, a Prefeitura.

O prefeito Arthur Virgílio podia cruzar os braços e dizer: “Se virem, Sinetram e Sindicato dos Rodoviários. Ótimo se o povo está andando de graça”. Ao arregaçar as mangas e entrar no corpo-a-corpo entre as duas partes, Arthur Virgílio dá enorme demonstração de espírito público. Evita a demagogia. Mira no cerne da questão – um sistema pressupõe equilíbrio entre todas as partes.

Mas que a “catraca livre” – que parece estar momentaneamente suspensa – é uma novidade digna de registro, lá isso é.

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