De volta

Os manauenses costumamos nos gabar de que “quem se banha no Rio Negro e come jaraqui nunca mais sai daqui”. Pessoalmente eu preferiria invocar o pirarucu, mas a rima restaria comprometida e alguma outra, que a viesse substituir, poderia soar obscena por obra de algum engraçado que decidisse fazer galhofa com a terminação muito comum nos peixes da região. Fique lá, portanto, o jaraqui que ainda leva a vantagem de ser o de maior torcida, pelo menos se levarmos em conta a opinião do Tadeu Nery e do Eurivan de Paula.

O certo é que, mesmo com a matrinxã, é bom voltar. Não há nada no mundo que possa substituir o calor desta terra e só olhar o verde de cima acelera a necessidade do retorno, num processo de atração que vem confirmar a afirmativa de que “ninguém se perde no caminho de volta”. Coisa, entretanto, que os nativos temos obrigação de encarar com o devido cuidado porque a selva, se atrai pela beleza imensa, pode gerar surpresas desagradáveis para quem nela se aventura, salvo se especializado no manejo do tal GPS. E olhe  lá!

Mas eis-me aqui são e salvo das incursões por longínquas plagas, pronto para curtir tardiamente a mais que merecida vitória do touro negro de Parintins, injustiçado no ano anterior por uma votação de duvidosa qualidade. Grande Caprichoso. “O diamante na aba do meu chapéu” está refulgindo mais do que nunca e, se dependesse de mim, estaria ornamentando os uniformes das delegações brasileiras em Londres.

Soube também que cassaram o mandato do doutor Demóstenes Torres. Duas perguntas, porém, passaram a me afligir: de pronto, por que só o dele? Não é possível que o restante do Congresso seja composto apenas de varões e viragos de Plutarco, cujos comportamentos estejam infensos ao mesmo tipo de censura que levou o Senado à decisão radical. Ao depois, se o homem não serve para ser senador, como pode servir para ser membro do Ministério Público de Goiás? Afinal de contas, “o vento que venta lá é o vento que venta cá” e meias medidas, na espécie, geram apenas uma contradição insuperável.

Mas deixa isso pra lá. Afinal de contas, os jornais já anunciam que o impoluto senador Renan Calheiros voltará à presidência da Câmara Alta, o que me parece perfeitamente justo, já que se trata de substituir o doutor José Sarney, num mecanismo político que há de contar com as bênçãos do senador Fernando Collor. Agora  a “Casa da Dinda” é apenas um episódio mal contado pela História, pronto para ceder o lugar de honra no panteão aos heróis do mensalão, cujo destino o Supremo Tribunal decide a partir da próxima semana, num processo que mostra e exalta as completas e perfeitas agilidade e eficiência do Poder Judiciário.

Finalmente, vejo que o governo foi informado de um problema que era do conhecimento, pelo menos, da torcida do Flamengo: o péssimo e escandaloso desempenho das operadoras de telefonia celular. Com que então só agora se deram conta de que tentar usar um desses irritantes aparelhos era tarefa a ser confiada ao bíblico Jó? Ora, vão bugiar. Proibir a venda de novas linhas e serviços é providência tímida e insuficiente e que será facilmente burlada, na medida em que os chips são colocados à disposição em qualquer banca de jornal. Mais grave: as operadoras que não foram atingidas em determinado Estado continuarão lépidas e fagueiras, assim como se pudessem ser excelentes aqui e péssimas logo adiante. É brincadeira.

Mas cá estou de volta. Tenham a devida paciência.

Felix Valois

Felix Valois

* Félix Valois é advogado, professor universitário e integrou a comissão de juristas instituída p...

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