‘Erasmo Esteves’, novo álbum de Erasmo Carlos, apresenta repertório inédito do compositor com participações de novas vozes da MPB

Foto: Divulgação

Erasmo Carlos (1941-2022), cantor, compositor e referência do rock nacional, ganhou novo álbum assinado pela Som Livre na sexta-feira (3/5). O projeto, que leva o nome de “Erasmo Esteves”, traz composições inéditas do cantor nas vozes de novos nomes da MPB, como Tim Bernardes, Xênia França, Rubel e Emicida, que participam juntos na faixa “Tijuca Maluca”, Chico Chico, Gaby Amarantos, Sebastião, Jota.pê, Marina Sena, Russo Passapusso e Teago Oliveira.

O álbum, que tem produção de Pupillo e Marcus Preto, tem como objetivo reverenciar o legado e a memória musical de Erasmo, mas também esticar o elástico do tempo e juntar os anos de 1960, 2020 e todas as novas gerações para (re)apresentar o Tremendão para além da Jovem Guarda – importante movimento cultural da década de 1960, liberado por Erasmo.

O projeto teve início no ano de 2022, logo após a premiação do Grammy Latino do álbum “O Futuro Pertence à… Jovem Guarda”, realizado em colaboração entre Erasmo Carlos, Marcus Pretto e Léo Esteves, e lançado pela Som Livre. Na ocasião, o compositor havia acabado de ganhar o seu primeiro Grammy, no auge de sua carreira tão madura.

“A cerimônia ainda estava rolando em Las Vegas quando o próprio Erasmo me ligou do hospital no Rio, em chamada de vídeo e falou: ‘Bicho, ganhamos! Nosso disco ganhou o Grammy! Eu tô chorando, mas é de alegria.’ Da minha casa em São Paulo, só pude reagir às lágrimas de menino daquele artista colossal mencionando o que já vínhamos combinando havia um tempo: ‘Agora, é você sair logo daí pra gente começar o próximo. E vamos ganhar mais uns 30 prêmios com ele’”, relembra Marcus Preto sobre as primeiras conversas a respeito do novo álbum.

E em abril de 2024, após conversas, diálogos e trocas entre Léo Esteves e Marcus Pretto, o álbum “Erasmo Esteves” ganha vida nas vozes de artistas que imprimem o atual cenário da música brasileira. Assinado pela Som Livre, o álbum também reforça a parceria de longa data entre a gravadora e Erasmo, que começou sua carreira com a Som Livre em 1964.

“Estamos muito felizes de ver a proporção que a nossa ideia tomou. Ideia essa que teve início com nosso querido Tremendão, ainda em vida, e que sempre teve o intuito de fazer um álbum dedicado não mais à Jovem Guarda, mas sim ao futuro dela. Aos novos ouvintes. A música que atravessa gerações. Somado a isso, o álbum também leva uma concepção visual grandiosa, com desenhos, rascunhos e letras que resgatam verdadeiramente o espírito do artista, cantor e compositor Erasmo Carlos”, comenta Marcus Preto.

Pesquisa visual

O álbum, traz também uma forte pesquisa visual, realizada por Leo Esteves, e conta com uma série de cadernos, manuscritos, poemas, bilhetes de amor, rascunhos e anotações pessoais de Erasmo. Este material foi o ponto de partida de muitas composições presentes, além de ter sido aproveitado para a capa e projeto gráfico como um todo – liderado pelo time de comunicação da Som Livre.

Como complemento da pesquisa e resgate da memória do compositor, fitas cassete com pedaços de canções inéditas, ideias melódicas e harmonias, material digitalizado pelo especialista Marcelo Fróes, fizeram parte do processo de construção do álbum, que traz a presença de Erasmo em equilíbrio com pessoa física e artista.

“No processo de pesquisa, logo percebemos que havíamos entrado em um ambiente muito íntimo do compositor, no qual o Erasmo ‘artista’ dividia espaço em pé de igualdade com o Erasmo ‘pessoa física’. O nome do álbum, ‘Erasmo Esteves’, veio para sublinhar essa característica”, comenta Marcus.

Compositores

Com produção de Pupillo e Marcus Pretto, a concepção do álbum é divida pelo próprio Erasmo, Preto e Leo Esteves, filho de Erasmo. As participações, todas definidas entre os precursores do projeto, e com o objetivo de apresentar Erasmo para novos ouvintes, contam com nomes, na ordem alfabética: Chico Chico, Emicida, Gaby Amarantos, Jota.pê, Marina Sena, Rubel , Russo Passapusso, Sebastião, Teago Oliveira, Tim Bernardes e Xênia França.

O time de compositores, responsáveis por finalizar as canções, conta com nomes que já possuem familiaridade com Erasmo, sendo eles: Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos, Roberta Campos, Teago Oliveira e Tim Bernardes.

“Com este novo trabalho, buscamos trazer alguns dos tantos jovens discípulos que sempre acenaram para Erasmo com o carinho de fã, de admirador, como se dizendo: ‘olha eu aqui, Tremendão’, ‘aprendi ser quem eu sou com você, Gigante’, ‘minha música vem da sua, Erasmo'”, reforça Preto sobre a escolha dos nomes para o álbum.

Participações

“Erasmo Esteves”, a canção-título, é derivada de um texto autobiográfico do próprio Erasmo, “Tijuca Maluca”. Nela, o autor narra sua fase de formação como homem e artista, na infância e adolescência na Zona Norte do Rio. E Rubel, em colaboração com Emicida, emprestam suas vozes para fazer a música, que parte de uma batida de samba rock, gênero fundamental no alfabeto de Erasmo e que se alinha perfeitamente com a história ali narrada, em que convivem personagens como Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben Jor. A faixa ganha um arranjo de metais de Marlon Sette e os backings vocais de Dora Morelenbaum e Calu. Além de um clipe que vai narrar a história e vida do artista na Tijuca.

Roberta Campos é a única com parceria de Erasmo Carlos que assina com ele duas faixas no álbum. Emoldurada nas cordas de Felipe Pacheco, a voz aveludada de Jota.pê apresenta “Assim te Vejo em Paz”, música de Roberta para uma carta de amor escrita por Erasmo em 1980. A musa era Narinha, então sua esposa e mãe de seus filhos. Roberta e Erasmo também são parceiros em “Nossos Corações”, balada romântica que traz em seu gene todas as características da produção do Tremendão nos anos 1960 e 1970. Ela já estava pronta e aguardava no baú do compositor o momento de ser gravada, honra que cabe agora a Xênia França, grande intérprete da geração 2010.

Também vem de um bilhete para Narinha – esse de 1983, anotado em papel timbrado do hotel Hilton de Beverly Hills – o texto que serve de base para Nando Reis criar “Que Assim Seja (Também Distante)”. Com o próprio Nando tocando violão, essa gravação marca a estreia fonográfica de seu filho Sebastião, que assume o vocal e inaugura sua carreira solo. Mas Nando Reis não é o único ex-titã convocado para o álbum. Arnaldo Antunes coloca letra em “Dane-se (Dance)”, música ultra-dançante deixada pelo Gigante Gentil em fita cassete. O refrão que lhe dá título já estava na demo de Erasmo, cujos versos Arnaldo desenvolveu. Quem defende a composição com brilhantismo é a voz de Russo Passapusso, do BaianaSystem. Ainda no domínio titã, Paulo Miklos é o parceiro em “Na Memória dos Caras Tortas”, partindo de um esboço de música e letra deixado pelo próprio Erasmo. Quem canta a faixa é Chico Chico. Nos detalhes da gravação, Paulo Miklos assobia e toca piano na introdução e no final da música, mencionando as sutilezas sugeridas por ele na demo.

Além de Rubel, Teago Oliveira e Tim Bernardes são os únicos autores-intérpretes do álbum. Vocalista da banda Maglore, Teago faz jus ao posto de parceiro de Erasmo porque teve a canção “Não Existe Saudade no Cosmos” gravada pelo mestre em 2018. Para este trabalho, Teago compôs e canta “Frágil”. A letra foi escrita a partir de outro poema de Erasmo, “A Morte do Narcisista”, e a melodia foi criada sobre harmonia de Luiz Lopes, músico que acompanhou o Gigante Gentil em estúdio e na estrada.

A faixa “Minha Bonita Primavera”, canção interpretada por Tim Bernardes, surge de outra gravação antiga, provavelmente dos anos 1970. O esboço já continha as ideias de música e letra que seriam desenvolvidas pelo jovem músico. Tim Bernardes é o último parceiro de Erasmo, já que é dele a letra de “Praga”, canção gravada por Alaíde Costa em 2022.

As duas canções que completam o repertório de Erasmo Esteves têm música e letra escritas pelo próprio Erasmo. Com guias de vozes gravadas por ele, as músicas se tornam duetos com duas importantes vozes femininas dos nossos tempos. Marina Sena divide os vocais com o anfitrião em “Esquisitices”, composição experimental que encontra na voz da jovem cantora mineira um caminho perfeito entre o humor leve de Erasmo e a ironia ácida de Rita Lee. Por fim, Gaby Amarantos faz o dueto que apresenta Erasmo Esteves ao mundo. “A Menina da Felicidade”, lançada no final do ano passado, é o primeiro single deste novo trabalho de Erasmo Carlos.

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *