Dia dos Povos Indígenas e a capivara Filó de Autazes

Dia dos Povos Indígenas

Dia dos Povos Indígenas, a lembrança dos povos originários do Brasil está presente no Festival de Parintins, como nesta fantasia do Caprichoso

O Dia dos Povos Indígenas, neste 19 de abril, acontece em meio a discussões ideológicas, cifras bilionárias de mineração… e o caso da capivara Filó. O Amazonas, detentor da maior população indígena do Brasil, convive com dramas e polêmicas envolvendo diversas etnias. O episódio do tiktoker, que resolveu grelhar com o carinho demonstrado por Filó, é emblemático. Mostra a intimidade do caboclo com hábitos indígenas.

Quem percorrer o beiradão amazônico sabe que as fronteiras, entre os hábitos de um e de outro, são muito estreitas. É isso que transforma em exagero a atitude do Ibama, ao multar o fazendeiro de Autazes, amigo de Filó, em R$ 17 mil.

A capivara é espécime que grassa nas várzeas amazônicas. É comum viajantes da BR-319 (Manaus-Porto Velho) verem famílias delas atravessando a rodovia. Agenor Tupinambá, de Autazes, ganhou muitos seguidores no TikTok, compartilhando cenas da amizade dele com a capivara Filó. O Ibama viu maus-tratos, abuso e exploração nas atitudes dele. As imagens mostram carinho e confiança.

O Ibama acaba de passar por alguns “pequenos” fracassos. Não evitou a invasão de mineradores na Terra Indígena Waimiri-Atroari. Não evitou a ação de madeireiros e pescadores predatórios na Terra Indígena Vale do Javari, raiz das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, entre outras coisas.

O caboclo do interior amazônico cresce cultivando hábitos que se assemelham em muito aos dos indígenas. É também uma população tradicional. A legislação é clara, ao enfatizar que hábitos de gente desse grupo devem ser preservados.

A cultura amazônica, essa que um desembargador do Paraná confunde com desenvolvimento, infraestrutura, educação e saúde, bebe no caldo dos indígenas. Quando Francisco Orellana desbravou o rio Amazonas, Frei Gaspar de Carvajal relatou que as tribos tinham fazendas de tartarugas, tracajás e aves que lembravam galinhas (provavelmente mutuns). São itens que ficaram como herança, muito presentes, no cardápio diário do caboclo.

Um pouco de toda essa herança é retratada, há décadas, pelos bumbás Caprichoso e Garantido, no Festival de Parintins. O indígena tem sido temática obrigatória.

A ministra Marina Silva, chefa maior do Ibama, certamente corrigirá a bobagem do fiscal que lavrou a multa. Que se insere nos anais, com aquele outro, do Alto Solimões, que multou um cidadão matador de uma cobra, quando estava sendo asfixiado por ela.

No mais, este Dia dos Povos Indígenas traz um lamento. A politização e ideologização da questão indígena, levada a cabo por Bolsonaro, não ajuda em nada uma discussão séria e imparcial de como a sociedade deve se relacionar com esses povos.

Indígenas são bravos. Contestadores. Irreverentes. Revoltados. Cercados de aproveitadores por todos os lados. Todo ser humano que vive os dramas que essa gente viveu cria mecanismos de defesa. Quem passa essa barreira, no convívio mais próximo, encontra o admirável conhecimento da natureza, o culto ao trabalho e amizades fraternas.

A fórmula ainda não foi descoberta. O indígena, como o caboclo, sofre os males da “superioridade branca”. Ambos se chamam, cada um em seus grupos, de “parentes”. O equilíbrio talvez esteja numa zona cinza, entre a arrogância e a humildade. Tomara que ela seja um dia encontrada.

Um “feliz Dia dos Povos Indígenas” vale para todos os amazonenses. Quem não tiver um tiquinho do sangue e da herança cultural desses povos que fique de fora.

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *