Pesquisa utiliza fruto amazônico contra veneno de cobra mais incidente na região

Fitoterápico à base da goiaba-de-anta é desenvolvido para ser usado como anti-inflamatório e bloquear as reações provocadas pelo veneno da serpente jararaca-do-norte. Foto: Divulgação/Luana Travassos/Acervo pessoal

O desenvolvimento de um fitoterápico à base de Bellucia dichotoma (fruta amazônica conhecida como goiaba-de-anta) para ser usado como anti-inflamatório e bloquear as reações edematogênica, provocadas pelo veneno de Bothrops atrox (serpente jararaca-do-norte). Esse é o objetivo principal de uma pesquisa desenvolvida com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Edital nº 006/2019, do Programa Universal Amazonas.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, a bióloga e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Maria Cristina Sampaio, a formulação do fitoterápico já está concluída. O remédio será uma substância efervescente para ser tomada diluído em água, com ação eficaz contra dor intensa, edema, bolhas, equimose e necrose muscular, antimicrobiana e, principalmente, para evitar a amputação do membro afetado pelo veneno da serpente.

O estudo buscou propor uma fórmula que pudesse ser utilizada como coadjuvante à soroterapia para diminuir os danos teciduais locais produzidos pelo envenenamento botrópico.

Doutora em Imunologia, a pesquisadora destaca que o soro utilizado no Brasil para acidentes com jararacas neutraliza com bastante eficácia os efeitos sistêmicos causados pelo veneno (hemorragia, miólise, hemólise, paralisia neuromuscular e respiratória, sintomas vagais, injúrias renais, alterações na cascata de coagulação e nas plaquetas, cardiotoxicidade, trombose), mas não impede os efeitos locais, deixando desta forma a porta aberta para complicações e sequelas no membro atingido.

“Nossa proposta foi preparar a formulação de um fitoterápico baseado no conhecimento e uso da planta (goiaba-de-anta) pela população tradicional, validando a planta como antiofídica, para que a indústria farmacêutica possa elaborar o remédio e distribuir à população”, completou.

Início

A pesquisa começou a ser desenvolvida na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) a partir de uma tese de doutorado das pesquisadoras Valéria Mourão de Moura e Luana Travassos. Após um levantamento de plantas utilizadas como antiofídicas pela população com a obtenção de diversas informações do uso tradicional, o estudo terminou na Ufam com a colaboração de vários professores do curso de Farmácia, em parceria com a Fiocruz e Fapeam, sob a coordenação de Maria Cristina Sampaio.

“Espera-se contribuir com o desenvolvimento de um remédio coadjuvante para o tratamento de acidentes ofídicos na região amazônica, utilizando matéria-prima da própria biodiversidade local para valorizar e gerar recursos a partir da biodiversidade amazônica”, destacou Maria Cristina.

Foto: Divulgação/Luana Travassos/Acervo pessoal

Números

Conforme a pesquisa, no Brasil, os números registrados pelo Ministério da Saúde mostram que ocorrem em média 26 mil casos/ano de acidentes ofídicos, sendo a maior incidência na Amazônia brasileira (52,6 casos/100 mil habitantes). Esses números podem ser ainda maiores devido às subnotificações existentes nessa região, especialmente devido às longas distâncias a serem percorridas entre os locais dos acidentes e o atendimento médico especializado.

Sobre o Programa

O Programa de Apoio à Pesquisa – Universal Amazonas é uma iniciativa da Fapeam que tem o objetivo financiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas do conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Amazonas em instituição de pesquisa ou ensino superior ou centro de pesquisa, públicos ou privados, sem fins lucrativos, com sede ou unidade permanente no Estado.

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