Militares da China afirmam que realizaram novos exercícios em Taiwan

Militares da China afirmam que realizaram novos exercícios em Taiwan

As forças armadas da China realizaram nesta sexta-feira (5) exercícios de combate aéreo e marítimo ao norte, sudoeste e leste de Taiwan e continuam “a testar as capacidades conjuntas de combate das tropas”.

A declaração veio na conta oficial do Weibo do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular (PLA, na sigla em inglês).

A China disparou 11 mísseis em direção às águas perto do nordeste e sudoeste de Taiwan na quinta-feira (4), segundo o Ministério da Defesa da ilha, enquanto Pequim cumpre sua promessa de que Taipei pagará um preço por receber a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi.

O Comando do Teatro Oriental dos militares chineses disse em um comunicado que vários mísseis foram disparados no mar na parte leste de Taiwan. Afirmou também que todos os projéteis atingiram o alvo com precisão.

“Toda a missão de treinamento de tiro real foi concluída com sucesso e o controle da área marítima e aérea relevante foi suspenso”, diz o comunicado da China.

Mais cedo, o Comando do Teatro Oriental informou que realizou treinamento de longo alcance com tiro no Estreito de Taiwan, segundo a emissora estatal chinesa, como parte dos exercícios militares planejados ao redor da ilha.

Foguetes

Taiwan relatou que foguetes chineses de longo alcance caíram perto de suas ilhas de Matsu, Wuqiu e Dongyin, que estão no Estreito de Taiwan, mas localizadas mais perto do continente do que da ilha principal. Mais tarde, disse que um total de 11 mísseis Dongfeng (DF) foram disparados para as águas norte, sul e leste da ilha entre 13h56 e 16h no horário local nesta quinta.

A mídia estatal chinesa disse que os exercícios para simular um “bloqueio” aéreo e marítimo em torno de Taiwan começaram na quarta-feira, mas ofereceram poucas evidências sólidas para apoiar a alegação. Mais tarde, imagens mostraram helicópteros militares sobrevoando a ilha de Pingtan, um dos pontos de Taiwan mais próximos da China continental.

A postura militar foi uma demonstração deliberada de força depois que Pelosi deixou a ilha na noite de quarta-feira, com destino à Coreia do Sul, uma das paradas finais de uma turnê pela Ásia que termina no Japão neste fim de semana.

Poucas horas depois de sua partida de Taipei na quarta-feira, o Ministério da Defesa da ilha disse que a China enviou mais de 20 caças pela linha mediana do Estreito de Taiwan, o ponto intermediário entre o continente e Taiwan que Pequim diz não reconhecer, mas geralmente respeita.

Na quinta-feira, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que seus militares estavam mantendo uma postura “normal”, mas cautelosa, e chamou os exercícios de tiro de “ato irracional” que tentou “mudar o status quo”.

“Estamos monitorando de perto as atividades inimigas ao redor do mar de Taiwan e das ilhas periféricas e agiremos adequadamente”, disse o ministério em comunicado.

Taiwan também acusou a China de “seguir o exemplo da Coreia do Norte de testes arbitrários de mísseis em águas próximas a outros países” em um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores nesta quinta.

Os exercícios causaram interrupções nos horários de voos e navios, com alguns voos internacionais cancelados e os navios instados a usar rotas alternativas para vários portos da ilha.

Exercícios de pressão

Bem antes da visita de quase 24 horas de Pelosi a Taiwan, a China avisou que sua presença não era bem-vinda. O Partido Comunista Chinês reivindica a ilha autogovernada como seu próprio território, apesar de nunca tê-la controlado.

A China divulgou um mapa mostrando seis zonas ao redor de Taiwan que seriam os locais dos exercícios nos próximos dias. O Departamento Marítimo e Portuário de Taiwan disse nesta quinta que a China havia adicionado uma sétima zona de exercícios militares, mas depois retirou a declaração, dizendo que o aviso anterior estava errado.

A mídia estatal chinesa delineou uma ampla gama de objetivos para os exercícios, incluindo ataques a alvos terrestres e marítimos.

“Os exercícios [são] focados em sessões de treinamento importantes, incluindo bloqueio conjunto, ataque a alvos marítimos, ataque a alvos terrestres e operação de controle do espaço aéreo, e as capacidades conjuntas de combate das tropas foram testadas nas operações militares”, disse um comunicado da agência de notícias Xinhua atribuída ao Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular (PLA), que é responsável pelas áreas próximas a Taiwan.

Enquanto isso, o tabloide Global Times disse que os exercícios envolveram alguns dos mais novos e sofisticados armamentos da China, incluindo caças furtivos J-20 e mísseis hipersônicos DF-17, e que alguns mísseis podem ser disparados sobre a ilha – um movimento que seria extremamente provocante.

“Os exercícios são sem precedentes, já que os mísseis convencionais do PLA devem sobrevoar a ilha de Taiwan pela primeira vez”, disse o Global Times, citando especialistas.

“As forças do PLA entrarão em áreas dentro de 12 milhas náuticas da ilha e a chamada linha mediana deixará de existir”.

Taiwan

Relatos de Taiwan sobre o movimento militar chinês incluíram os caças cruzando a linha mediana e um relatório da Agência Central de Notícias, administrada pelo governo de Taiwan, citando fontes do governo, de que dois dos navios de guerra mais poderosos da China – destróieres Type 55 – foram avistados na terça-feira na costa central e sudeste da ilha, sendo a mais próxima a 37 milhas (cerca de 60 km) de terra.

Mas havia pouca corroboração ou evidência firme fornecida pela China para respaldar o tipo de alegações publicadas no Global Times.

A televisão estatal da China ofereceu vídeos de caças decolando, navios no mar e mísseis em movimento, mas as datas de quando esse vídeo foi filmado não puderam ser verificadas.

Alguns analistas estavam céticos de que Pequim poderia realizar o que estava ameaçando, como um bloqueio a Taiwan.

“O anúncio oficial [do bloqueio] se refere a apenas alguns dias, o que tornaria difícil qualificá-lo em termos práticos para um bloqueio”, disse Alessio Patalano, professor de guerra e estratégia do King’s College, em Londres.

“Os bloqueios são difíceis de executar e demorados para implementar. Este exercício não é isso”, disse ele.

Patalano disse que o maior impacto dos exercícios seria psicológico.

“Durante o período de tempo em questão, navios e aeronaves provavelmente serão redirecionados para evitar a área, mas este é um objetivo primário dos locais escolhidos: criar perturbações, desconforto e medo do pior que está por vir”, disse ele.

Impacto em viagens

Os exercícios de retaliação da China já causaram interrupções nos horários de voos e navios em Taiwan, embora a ilha esteja tentando diminuir seu impacto.

O ministro dos Transportes de Taiwan disse que foram alcançados acordos com o Japão e as Filipinas para redirecionar 18 rotas de voos internacionais que partem da ilha – afetando cerca de 300 voos no total – para evitar os exercícios de fogo real do PLA.

A Korean Air disse nesta quinta que cancelou voos de Incheon para Taiwan programados para sexta e sábado devido a razões de segurança, enquanto a China realiza seus exercícios militares. Os voos serão retomados no domingo.

Na quarta-feira, o Departamento Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu três avisos, pedindo aos navios que usem rotas alternativas para sete portos ao redor da ilha.

Os exercícios de fogo real planejados pela China também estavam causando desconforto no Japão.

O secretário-chefe do gabinete do Japão, Hirokazu Matsuno, disse que os exercícios representam uma ameaça à segurança de seu país.

Uma das seis áreas de exercício criadas pela China estava perto da ilha de Yonaguni, no Japão, parte da prefeitura de Okinawa e a apenas 110 km da costa de Taiwan.

Essa mesma zona de exercício chinesa também fica perto das Ilhas Senkaku, controladas pelos japoneses, uma cadeia rochosa desabitada conhecida como Diaoyus na China, e sobre a qual Pequim reivindica soberania.

Tags: China, Japão, Taiwan
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