O Brasil profundo e nossa cultura de massa

Por João Lago Jr.

Há vários tipos de Reality Show e a própria definição deste tipo de entretenimento importado da língua inglesa pode ser confusa aqui no Brasil. Na busca de elucidar o termo, o dicionário Cambridge define Reality Show como “um programa televisivo abordando pessoas comuns que são filmadas em situações reais”. No entanto, existe uma variedade desses tipos de programas que utilizam “famosos” e/ou pessoas comuns entre os participantes invalidando a definição da língua inglesa. Porém, é verdade que as aspas em famosos é uma provocação, porque alguns assim chamados são conhecidos em um nicho específico com pouca ou quase nenhuma penetração na Cultura de Massa.

O termo Cultura de Massa por ser compreendido como a mercantilização da cultura, na qual a produção de bens e serviços alicerçam-se em ícones culturais que alcancem uma grande parcela da população buscando o lucro. Existem melhores e mais bem elaboradas definições de Cultura de Massa a partir das ideias de Theodor Adorno e Max Horkheimer, mas esta minha síntese vai ao encontro de nossa compreensão como as redes sociais na internet hoje também produzem milionários que falam para um universo específico, não mais para uma grande população.

Existem ao redor do mundo várias versões do The Voice, programa considerado reality show com inspiração nos antigos programas de calouros, reunindo personalidades da música para serem escolhidos como mentores por cantores amadores. No The Voice Portugal, um país de população de pouco mais de dez milhões de habitantes, tem como mentores Antônio Zambujo, Marisa Liz, Diogo Piçarra e Áurea Sousa que juntos tem 1,35 milhão de seguidores na rede social Instagram. No entanto, comparando com o similar brasileiro de Iza, Lulu Santos, Carlinhos Brown e Cláudia Leite que juntos tem 41,8 milhões de seguidores, ou seja, quatro vezes a população de Portugal, tal feito os transformariam em fenômenos culturais na língua portuguesa. Porém, se analisarmos pela população do Brasil os mentores brasileiros possuem apenas 19% de nossa totalidade demográfica.

Antônio Zambujo, em uma entrevista dada ao Diário de Notícias em agosto de 2017, quando perguntado se existia alguma influência da música portuguesa no Brasil respondeu: “Não, é residual. Tocamos lá muito, todos os anos vou lá três ou quatro vezes fazer uns concertos e digressões, tenho tido público mas também a perfeita noção de que quem me escuta no Brasil é um nicho. A vantagem é que um nicho no Brasil é provavelmente o número de habitantes de Portugal. No Brasil há 200 milhões a falar a língua portuguesa e isso devia ser aproveitado, mas não há forma porque é um país exportador de música e não um importador”. Usando as palavras de Zambujo fico feliz em participar desse nicho no qual se incluem as estrelas Carminho, Luísa e Salvador Sobral que aconselho conhecerem.

No mais famoso reality show que iniciou neste ano foram indicados como “famosos” Jade Picon, Pedro Scooby, Lin da Quebrada dentre outros. Dessa lista retirando o neto do Silvio Santos e a cantora sertaneja que ganhou os holofotes no funeral da Marília Mendonça, arrisco dizer que a maioria dessas “personalidades” habita nesse nicho brasileiro a qual se referiu Antônio Zambujo. Porém, não devemos menosprezar que conseguem enriquecer atuando junto ao público que conquistaram e participarem de um programa televiso, com penetração em todas as redes sociais, pode ser o que faltava para estourarem a bolha na qual se encontram e enriquecerem ainda mais.

Infelizmente personalidades como Carminho, Antônio Zambujo, Salvador Sobral e outros citados, vão continuar atuando e encantando esse nicho que se encontra aqui do outro lado do Atlântico, não por insuficiência artística, mas porque a principal bolha que não conseguem romper é a de nosso gosto pela futilidade e apego a ignorância. Assim, sejam bem vindos Jade Picon, Pedro Scooby, Lin da Quebrada, Douglas Silva, Arthur Aguiar, Maria, Bruna Gonçalves, Paulo André Camilo, Tiago Abravanel e Naiara Azevedo. O Brasil profundo vos merece.

 

 

João Lago

João Lago

* João Lago é professor universitário, mestre em Administração (Estratégica / Marketing), tem 10 ...

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