Visita de Pazuello decepciona, nega prioridade ao AM na vacina, mas promete mundos e fundos

Visita de Pazuello decepciona

Visita de Pazuello decepciona porque teve discurso longo, pito em prefeitos e profissionais de saúde, muita promessa e decepção

O carioca-amazonense Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, como general da reserva se mostra um político meia bomba. Disse, na frente do governador Wilson Lima e do prefeito de Manaus, David Almeida, que sua pasta deu 100% do que os dois pediram. Ou seja, jogou no colo dos anfitriões da visita a Manaus o pior momento da pandemia para os amazonenses. E todos sabem que não é assim que funciona. Pazuello, além disso, fez promessas a rodo, mas não confirmou a prometida prioridade ao Amazonas na vacinação. Mesmo diante dos recordes de mortes e novos casos no Estado.

 

Dória é o alvo

Pazuello brincou, tergiversou, deu voltas, mas deixou a impressão de que o governador de São Paulo, João Dória, é o alvo da campanha de vacinação. E não o coronavírus. Parece ser por isso, aliás, que o governo quer vacinar, simultaneamente, igualitariamente, o País inteiro. A prioridade para os focos de Covid-19, como o Amazonas, não existirá. Mais importante é a desculpa para chegar aos paulistas, antes da vacina comprada preventivamente por Dória.

 

Discurso e fatos

Pazuello foi mais verdadeiro ao falar de uma obviedade, a logística da vacinação. Será a mesma da vacina tríplice ou da vacina contra gripe, o Plano Nacional de Imunização (PNI), que tem mais de 45 anos. São 38 mil salas de vacinação e 300 milhões de doses de vacinas por ano no Brasil, num sistema que funciona todos os dias.

 

Discurso e fatos (2)

A partir daí, os fatos viraram discurso. Pazuello falou sobre a logística, no que trabalhou no Exército, e as dificuldades para comprar vacinas no exterior. Reconheceu que o País terá que se virar para produzir vacinas porque as importadas são muito difíceis. Esqueceu de dizer que o presidente Bolsonaro praticamente isolou o País da comunidade científica internacional e dificultou a produção dessa tecnologia. Foi como se o presidente, diante do iminente surgimento de carro movido a água, começasse a criticar essa tecnologia para, depois, mandar o ministro da área sair correndo atrás das montadoras, todas estrangeiras.

 

O que há de concreto sobre a vacina

Pazuello forneceu dados nada animadores. A vacina precisa de duas doses. A primeira imuniza 71% e a segunda pouco mais de 90%. O Brasil contratou, empenhou, liquidou e pagou 354 milhões de doses. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porém, não liberou nenhuma dose. Quem conhece o bê-á-bá da administração pública deve ter visto, com todas as exceções da pandemia, uma miríade de irregularidades administrativas.

 

Vacina dos brasileiros depende da Índia

A maior parte das doses contratadas é da indiana Oxford-AstraZenica. É uma transferência de tecnologia, para produção na Fiocruz. Promete 100 milhões de doses até junho e 110 milhões até dezembro. Dois milhões podem ser importadas, este mês, mas a Índia não quer deixar sair.

 

Butantã exclusivo

Para estocar João Dória, Pazuello afirma que o Instituto Butantã tem contrato de exclusividade com o Ministério da Saúde. É lá que Dória pretende comprar as vacinas exclusivas dos paulistas. A fase 3 do instituto é financiada pelo MS, através da Fiocruz, e todo parque técnico está em convênio para ampliar produção e fazer vacina contra Covid-19. Isso significa mais um entrave à previdência de Dória, que cometeu o imperdoável erro de comprar vacina na frente do Governo Federal.

 

Sinovac sem autorização nem da China

O Brasil tem 6 milhões de vacinas importadas da Sinovac, chinesa. Foi pedida a autorização de uso emergencial no Brasil, mas não há autorização nem na China, país originalmente produtor. E há 2,8 milhões de doses produzidas no Brasil e esperando concluir lote maior para pedir uso emergencial à Anvisa.

 

Sputnik

A vacina russa Sputnik, produzida pela empresa privada União Química, também está em negociação para importação de primeira etapa. Anvisa recebe documentação que, quando completa, iniciará a análise da permissão para uso. Não iniciou a fase 3 e isso leva 90 dias. Vai para abril/ maio. Só após isso é que vai para a Anvisa. Em janeiro ou fevereiro, o Brasil terá de 2 milhões a 4 milhões de doses da vacina russa importadas.

 

Janssen, da Johnson & Johnson

A Janssen é considerada pelo ministro a melhor das vacinas, em técnica, custo, logística e negociação. Mas só promete entregar 3 milhões de doses e em maio.

 

Moderna, EUA

A vacina Moderna, norte-americana, é avaliada como muito boa pelo ministro, mas custa US$ 37 a dose. A indiana AstraZenica custa US$ 3,75 a dose. Ainda assim, a fábrica só disponibilizará essa vacina em outubro, em quantidade a discutir.

 

Pfizer, EUA

A Pfizer quer isenção de impostos e responsabilidade de efeitos colaterais, daqui ao infinito, além de a Justiça brasileira abrindo mão de qualquer ação contra empresa. Quer ainda ativos brasileiros no exterior como aval de futuras ações jurídicas contra ela. Oferecem apenas 500 mil doses em janeiro, 500 mil doses em fevereiro e 1 milhão em março. Mas o ministro afirma que comprará. É ou não é difícil de compreender?

 

Pito nos prefeitos

O ministro da Saúde, no seu discurso imitando elefante numa vidraçaria, passou um pito nos prefeitos presentes. Começou por David Almeida, que teria se desculpado por falhas, lembrando ter assumido agora. Disse, em resumo, que o prefeito é responsável pelos 300 anos da Prefeitura, depois da posse. E mandou abrir as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e fiscalizá-las diariamente.

 

Interior

No interior do Amazonas foi mais fácil fiscalizar o trabalho dos médicos nas UBS, segundo o ministro, e por isso as curvas da Covid-19 são melhores.

 

Pito nos profissionais de saúde

Outro “gesto de elegância” de Pazuello foi dirigido aos profissionais de saúde. Pediu aos conselhos regionais que fiscalizem o diagnóstico feito pelos médicos. Disse que os exames, que eles estão pedindo, são apenas complementares.

 

Pito nos profissionais de saúde (2)

Com médico virando plantão, alguns ficando até 72 horas em prontos-socorros, enfrentando a ameaça de contaminação, o ministro mandou um recado: “Nada de reivindicação. Se não fica parecendo uma extorsão”. O que faltou dizer é que salta aos olhos a necessidade de motivar esses profissionais. A maior autoridade de saúde do País deveria, antes de qualquer reivindicação, ele próprio tomar a iniciativa de recompensá-los. Porque em administração pública, como em qualquer ser humano, deveria existir uma coisa chamada “sensibilidade”.

 

Demagogia explícita

A prioridade para o Amazonas, esperada e anunciada na vacinação, veio em forma de demagogia. Pazuello anunciou que os secretários nacionais de Atenção Primária à Saúde, Rafael Câmara Medeiros Parente, do Brasil Conta Comigo, Mayra Pinheiro, e Especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, ficam no Amazonas “até o fim da crise”. Pergunta que não quer calar: E o resto do Brasil, prestes a receber o “efeito Orloff” (“eu sou você amanhã”) do momento epidêmico que ocorre no Amazonas, como é que fica? E a “atenção igualitária”? Há ou não há, afinal, necessidade de atenção especial à pandemia no Amazonas? E se há porque não dar prioridade na vacinação?

 

Data

A vacinação no Brasil “pode” ocorrer em três períodos:

Curto prazo, até 20 de janeiro

Médio prazo, de 20 de janeiro a 10 de fevereiro

Longo prazo, de 10 de fevereiro a 10 de março.

Sejamos otimistas, em outras palavras, e contemos com março.

 

Frases

“Se conseguir 8 milhões de vacinas, o Brasil será o País que mais vacinou no mundo”.

“Vacina não será obrigatória, no que depender do Governo Federal”.

“Prefeitos preparem sala de vacinação e depósito, além das UBS”.

“O Ministério (da Saúde) está preparado para cobrir falhas dos Estados e Municípios”.

“Recebi todo apoio do presidente Bolsonaro. Recursos, apoio, contatos, ordens para outros ministérios, tudo 100%”.

“100% do que foi pedido (pelo governador e prefeito de Manaus) foi entregue e estamos prontos para entregar o que mais o Estado precisar”.

“Precisamos de medidas que diminuam a entrada de outras doenças, como acidentes, tiroteios, porque a do Covid-19 não conseguimos dominar”.

“O governador do Amazonas fica entre a cruz e a espada: metade quer fechar tudo e a outra metade se fechar tudo vai para a rua”.

“O tratamento precoce é a única saída (contra a Covid-19)”.

“Momento não é de reivindicações, nem de abono salarial, mas de salvar vidas. Se não fica parecendo uma extorsão”.

“Em casa, minha cunhada estava com o irmão sem oxigênio e eu disse que ela precisava esperar, que deve chegar amanhã”.

“Conselhos sejam firme com a classe médica. O diagnóstico e o tratamento são do profissional médico e não do exame ou do teste, que são complementos do diagnóstico”.

“Vou rodar todas as UBS e cobrar os médicos sobre como estão fazendo atendimento e diagnóstico”.

 

A pérola

O ministro deixou para o final uma pérola, que está repercutindo em todo o Brasil: “A vacinação vai começar no Dia D e na Hora H”. A brincadeira com o jargão militar acaba significando, em linguagem civil, que o processo ocorrerá sem a urgência que o País espera. Parece Eduardo Pazuello, nascido no Rio de Janeiro e criado na rua Teresina, na Vila Municipal, em Manaus, parafraseando Amazonino Mendes: “Então morram”.

 

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