Pesquisador pede suspensão das aulas com dados de junho e julho quando não havia aulas

Aulas da rede pública estadual foram retomadas há uma semana. Foto: Arthur Castro/Secom

Nota técnica do projeto Atlas ODS Amazonas, assinada pelo professor Henrique Pereira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), defende a suspensão das atividades presenciais na rede privada e nas escolas estaduais de Manaus. O pesquisador usou dados consolidados de junho e julho, quando ainda não havia aulas presenciais na rede pública.

De acordo com o Atlas, o estudo se baseia no aumento do número de casos de Covid-19 e de óbitos entre jovens na faixa etária de zero a 29 anos depois da reabertura do comércio no dia 1º de junho.

Os pesquisadores da Ufam afirmam que os dados serão usados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam) em argumento ao Ministério Público do Estado (MP-AM), para reforçar o pedido de suspensão das aulas.

“Houve um aumento desproporcional de casos e de óbitos nas faixas etárias de 0 a 29 anos, principalmente entre as mulheres, sendo que nas comunidades escolares as mulheres são maioria entre os estudantes, docentes e gestores”, diz a análise feita pelos pesquisadores.

Segundo o Atlas, o Sinteam disse que “desde a retomada das aulas presenciais na rede pública, há informação de que quase 30 escolas, o equivalente a 23,5% do total de unidades que voltaram a funcionar, tenham registrado casos entre alunos, professores, pedagogos e outros profissionais”.

Conforme o coordenador do estudo do Atlas ODS, em Manaus, nos últimos meses, além de nova aceleração de casos e óbitos em agosto, professor Henrique Pereira, houve aumento desproporcional no número de novos casos e óbitos entre pessoas jovens, entre 0 e 29 anos, especialmente entre as do sexo feminino.

“Nessas faixas etárias, o número de casos mais que dobrou apenas durante julho e isso nos leva a crer que tal aumento possa estar associado à abertura de bares, restaurantes e o retorno às aulas da rede privada de escolas e faculdades”, disse Henrique Pereira.

Segundo o pesquisador, “esse efeito se ampliou com o retorno às aulas nas escolas públicas estaduais”. O retorno das aulas ocorreu há uma semana. “Hoje, os jovens já são 25% dos casos de Covid-19 em Manaus, e é sabido que mulheres são a maioria nas comunidades escolares, entre gestores, docentes e estudantes”, afirmou Pereira.

O estudo do Atlas ODS é baseado nos dados consolidados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). “No dia 2 de junho, a FVS divulgou o boletim 10 que mostra 8.371 casos registrados de Covid-19 entre pessoas de zero a 29 anos, com 349 casos graves e 31 óbitos. Já o boletim 14, do dia 8 de julho, mostra que houve 18.646 casos registrados com 830 casos graves e 64 óbitos”, conclui o texto dos pesquisadores.

FVS vai divulgar boletim atual

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas informou, ao Portal do Marcos Santos, que o boletim ampliado da Covid-19 “está em fase de conclusão”. Esse boletim “tem a finalidade retratar o período atual da pandemia”.

De acordo com a FVS, o boletim “será divulgado ainda está semana”.

Mudança de critérios, revisão e qualificação dos óbitos

Com a reclassificação de mortes ocorridas no ápice da pandemia, o número total de óbitos tem gerado discussão nos últimos dias no Amazonas e até no país. No entanto, as mortes ocorridas em intervalos de 24 horas continuam caindo, conforme dados oficiais da FVS-AM.

O Comitê Interno da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) estão fazendo a revisão e qualificação dos óbitos ocorridos em meses anteriores, com base nos novos critérios do Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. A pasta passou a considerar óbitos por Covid-19 também por critérios clínicos e exames de imagens.

“É importante salientar que os novos critérios de encerramento de óbitos por Covid-19 elevam os dados gerais, mas não refletem o momento atual, pois tratam-se de óbitos em investigação que ocorreram no pico da pandemia e que agora, serão incluídos na contagem geral do Amazonas”, tem enfatizado a FVS.

Vereador contesta JN

Além do FVS-AM, o vereador Marcelo Serafim, que é oposição à gestão estadual, vem tentando esclarecer os números. Na semana passada, ele contestou a forma como o Jornal Nacional, da Rede Globo, apresentou o número de óbitos por Covid-19 no Amazonas. O telejornal colocou o mapa do Estado em vermelho, sinalizando aumento de mortes, sem explicar os motivos que levaram ao aumento do total de óbitos.

Ontem, Marcelo voltou a criticar o JN.

“Estamos tendo aumento de mortes por COVID no Amazonas? Ao longo dessa semana a Rede Globo colocou o Amazonas em vermelho em seu mapa, inclusive ontem o mapa mostrava que por aqui tínhamos um aumento de 94% no número de mortes. A realidade é bem diferente, ontem em Manaus, por exemplo, não tivemos nenhum óbito notificado por COVID em nossa cidade. O que está acontecendo é que pela mudança nos critérios do Ministério da Saúde óbitos ocorridos em Abril, Maio e Junho que estavam subnotificados estão sendo notificados agora. Portanto, essa história de que os óbitos estão aumento no Amazonas, É FAKE!”, escreveu o vereador, que é farmacêutico.

Assista ao vídeo com que Marcelo Serafim fez para explicar os números:

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