Diretor-clínico de Parintins tem melhor dia, na volta da Covid-19, com 40% do pulmão comprometido

Diretor-clínico de Parintins tem melhor dia, na volta da Covid-19, com 40% do pulmão comprometido

Diretor-clínico de Parintins tem melhor dia, na volta da Covid-19, com 40% do pulmão comprometido. Foto: Divulgação

Apesar de ainda não ter uma previsão de alta, o oitavo dia de internação no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, tem a expressão de esperança e confiança aumentadas para o médico anestesiologista Daniel Tanaka, diretor de enfrentamento à pandemia em Parintins, que voltou a se afastar de suas funções no Hospital Jofre Cohen, referência no tratamento da doença no município do Amazonas.

Diretor-clínico

Ele teve confirmação de reativação da infecção em seu organismo e foi internado no HCor, desde o último dia 29 de maio.

Em entrevista exclusiva ao Portal Marcos Santos, internado, Tanaka relata um pouco dessa segunda vez que precisa deixar o “front” de combate ao Covid-19, ajudando a salvar vidas, para poder cuidar da própria saúde, saindo da condição de médico para paciente. Estar do outro lado tem sido uma experiência nova, durante uma pandemia, e ao mesmo tempo preocupante e de aflição.

“Quando fui internado, estava com 30% de acometimento pulmonar na tomografia. No domingo (31) estava entre 35% e 40%. A partir de ontem (4), tive uma boa evolução. A ideia é fazer uma tomografia amanhã (5) ou domingo, para ver o comprometimento no pulmão, se estacionou, regrediu, como está”, disse o médico, confiante.

Alterações

Tanaka explica que sua internação ainda é necessária em razão de alterações nas enzimas hepáticas, que podem ser ocasionadas tanto pelo vírus “traiçoeiro” quanto pelo efeito colateral das medicações, como uma hepatite medicamentosa: “O que tem me mantido internado é uma alteração no fígado, que pode ser causado tanto pelo vírus quanto pela sobreposição da doença com as medicações. Se chama de hepatite transi-infecciosa, ocasionada pelo Covid-19. Estamos fazendo controles diários, com os exames bem alterados, para ver se estacionam ou começam a cair”.

Apesar de não ter previsão de alta, um conforto com sinais de alívio para o corpo e a mente estão no fato do médico não precisar usar oxigênio nas últimas 24 horas e estar há três dias sem febre. Um grande avanço para quem via o quadro de agravar sem o pulmão reagir ao tratamento, sendo médico, conhecendo todos os protocolos, e sentindo o tratamento com paciente contra o vírus, pela segunda vez.

No HCor, Tanaka está fazendo tratamento com antibiótico de amplo espectro, corticóide, com doses já reduzidas agora, e injeções de anticoagulante, aplicadas na barriga duas vezes ao dia, além de outras medicações de suporte e fisioterapia. Em São Paulo, o médico tem o acompanhamento do chefe da infectologia do hospital, Guilherme Furtado, da clínica médica e nefrologista Leda Daud Lotaif, e do chefe da imunologia, o alergista e imunologista Alberto José da Silva Duarte.

O diretor do hospital de Parintins fez uma série de exames para o perfil imunológico, para verificar como está seu sistema, as respostas das células de defesa e os tipos de anticorpos para várias doenças.

Também estão na série os exames específicos para Covid-19, incluindo a sorologia para detecção de anticorpos IgM e IgG em pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2. Nesse caso, o exame é realizado a partir da amostra de sangue do paciente. “Os resultados ainda vão demorar alguns dias. Mas estão estudando a possível reativação”, afirma.

Histórico

Em 6 de maio, Tanaka havia retornado para suas atividades em Parintins, no hospital, após ter cumprido o protocolo de isolamento e medicação, sendo considerado recuperado da contaminação. Seu primeiro tratamento foi feito em casa. Ele conta que fez uso da azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina. O último remédio interrompeu no terceiro dia em razão de alteração nas enzimas hepáticas.

Em Parintins, o médico cumpriu o protocolo de isolamento e nos últimos 10 dias estava assintomático, sem contraindicações de retorno ao trabalho na linha de frente ao combate do Covid-19. No interior, ele não fez o exame chamado de “ouro” para verificação do novo coronavírus. Ele é feito apenas em Manaus, no Lacen.

O RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction), é considerado o padrão-ouro no diagnóstico da Covid-19, cuja confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada, preferencialmente obtida de raspado de nasofaringe.

Confira a seguir mais trechos da entrevista do médico:

O que pode ter acontecido para o vírus ter uma reativação como essa que, segundo alguns especialistas, é mais rara?

Fiquei 15 dias trabalhando direto, exposto a altas cargas virais, possivelmente possa ter entrado em contato com novas cepas virais. Ou o vírus que estava no corpo não foi neutralizado, e culminou com o reaparecimento dos sintomas. Ou então os três testes que eu fiz anteriormente deram falso-positivo, pode ser reação cruzada de outra infecção. É difícil estudar em relação a testes que você ainda não tem muito conhecimento. A exposição viral pode estar relacionada a gravidade dos sintomas, necessidade de oxigênio e internação, como foi o meu caso. Graças a Deus não precisei ir para a UTI nem para a ventilação mecânica.

O que é mais difícil de estar na posição de médico, doente, durante uma pandemia, pela segunda vez?

É difícil sair de uma linha de frente, sair de uma posição de estar ativamente ajudando muitas pessoas, principalmente pacientes graves, acolhendo a população que me tinha como referência, no tratamento. Os próprios médicos discutiam os casos internados comigo, estava como referência de especialista. Foi difícil sair dessa posição de médico e enfrentar mais uma vez a de paciente. Ver esse lado do paciente, agora internado, tomando várias medicações, tomando anticoagulante, uma série de exames, procedimentos, toda essa dinâmica desgastante. E ficar isolado. É delicado. Fica uma frustração por não estar lá ajudando, mas estou mais confiante com a melhora. Estava preocupado com o pulmão não dando resposta, precisando cada vez mais de oxigênio, fazendo muita febre. Foi delicado.

E como é estar paciente?

Difícil também como médico e paciente, por ter noção do que está acontecendo, saber dos riscos, do potencial de agravamento, de saber que é uma doença traiçoeira. Você vê seus exames alterando, piorando. Foi muito angustiante. Talvez se não tivesse mais conhecimento, ficaria mais tranquilo, mais isento, tendo mais confiança na mãos dos médicos. Mas diante de ser profissional de saúde, de entender todo o processo, é mais complicado. E ter saído pela segunda vez, foi mais difícil e doloroso.

E como ficou o Hospital Jofre Cohen, em Parintins, após sua saída?

Tenho certeza que deixamos o Hospital Regional Jofre Cohen estruturado como de referência ao combate ao vírus, com protocolos bem alinhados de tratamento, de critérios de internação, de medicação, de mudança de doses de medicação, de critério de uso de anticoagulante, de antibióticos de primeira e segunda linha. Tudo bem alinhado, junto com a fisioterapia e psicologia. Isso deu um conforto ao precisar me ausentar para cuidar da minha saúde. A equipe vai dar conta do recado. O diretor clínico Alberto Figueiredo (urologista e cirurgião), atual diretor do Hospital Padre Colombo, assumiu com a competência de gerência clínica e de ser um excelente médico, comandando toda a equipe. Fico lisonjeado de ter essa equipe na retaguarda. Todos os componentes que formam uma boa equipe.

Qual sua opinião sobre a quarentena? É a melhor forma de se prevenir e evitar a exposição?

É necessário o distanciamento social, especialmente o respeito aos idosos, de não deixar crianças terem contato com os mais velhos. O povo do Amazonas, em especial o de Parintins, é muito caloroso, gosta de muita proximidade. Mas vivemos um momento de reflexão, para isolamento, de respeito. É uma doença que prefere a letalidade de idosos e fatores de risco, mas que também tem mostrado que mata mata jovens. É um compromisso social. É a maneira mais prática e alcançável no momento, assim como termos a disponibilidade de testes em massa e de tratamento. Em Parintins fizemos isso, elaboramos os kits com a medicação básica, o que é um avanço.

O que recomendaria mais aos amazonenses neste momento, ainda de grande alta de novos casos?

Recomendaria que tivessem consciência, e reforço o respeito aos idosos, o grupo mais frágil. Tentar conscientizar também que procurem o serviço de saúde sem medo e não fiquem agravando em casa. O vírus se torna letal. Aos primeiros sintomas tem que procurar o médico e iniciar o tratamento de forma precoce.

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2 comentários

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  1. Jeferson Garrafa disse:

    Marcos, teu portal está melhor a cada dia. Sou leitor assíduo. Abraço

    RESPOSTA
    Obrigado, amigo.

  2. leandro disse:

    moro no abc paulista e faltou vc perguntar ao dr qual foi o “jeito” que ele deu para vir para sp como estava no primeiro post que ele apagou?

    RESPOSTA
    O médico Daniel Tanaka, herói dessa pandemia, foi para SP a pedido dos colegas médicos. Ele fez residência no Hospital das Clínicas. Os médicos queriam saber, e ainda querem, como ele voltou a ter Covid-19 após 52 dias ‘curado’. Esse estudo tem importância planetária nessa luta contra o novo coronavírus.