Tomada de poder na verdade seria aliança entre facções, diz áudio que teria sido gravado no Compaj

Tomada de poder na verdade seria aliança entre facções, diz áudio que teria sido gravado no Compaj

Tomada de poder na verdade seria aliança entre facções, diz áudio que teria sido gravado no Compaj. Foto: Divulgação

A possível tomada de poder do Comando Vermelho (CV), segundo um áudio que teria sido gravado dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), na verdade seria uma aliança entre as facções criminosas CV e Família do Norte (FDN), numa decisão tomada a partir das lideranças do crime. Nomes não foram divulgados de onde teria partido a ordem para “fechar” com o Vermelho.

Tomada de poder

O áudio que circulou nas redes sociais traz um detento identificado como “Big”, se referindo ao Mano (pode ser Mano G, Gelson Carnaúba), dizendo que matar uns aos outros não os fez chegar a lugar nenhum.

“Os líderes acharam melhor ter a paz, tanto dentro quanto fora do sistema. Nós tinha tudo (sic), e acabamos praticamente com nada, por conta dos teleguiados. Ninguém está ganhando nada com a guerra, ao contrário. Ninguém se acovardou, simplesmente fechamos a aliança. Não foi nenhum de nós que tomou a decisão. Foi deles. O pedido veio das ruas. Ninguém dá assistência a nada. Nem energia a gente tem, que é um direito nosso. Até segunda ordem, vamos manter o respeito e disciplina. Somos todos sujeitos homens. Estamos sendo transparentes”, diz a mensagem em áudio, tendo a aprovação de outros detentos, que falam enquanto um outro preso faz o discurso.

Compaj

A mensagem deixa claro que o Compaj está vermelho. Até a noite de hoje, o complexo não tinha uma predominância de facção. Com a nova configuração, os Centros de Detenção Provisória Masculino passariam a ser CV, a unidade I, e FDN, a unidade II. A Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) teria aderido ao Comando.

[KGVID]https://s3.amazonaws.com/img.portalmarcossantos.com.br/wp-content/uploads/2020/02/10185114/WhatsApp-Video-2020-02-10-at-22.14.43.mp4[/KGVID]

Entenda a mudança

Onze meses depois do último massacre no sistema prisional do Amazonas, quando 55 presos foram mortos por asfixia e perfurações dentro de quatro cadeiras, em maio de 2019, o Estado vive um clima de tensão dentro das prisões e fora delas.

Nas últimas horas, vários bairros da capital amanheceram com muros e becos pichados com a logo de uma das facções criminosas em ação na capital, o Comando, como Viver Melhor, Jorge Teixeira, Lago Azul e Coroado. No Coroado, inclusive, durante uma execução na tarde desta segunda-feira (10), nas proximidades do crime foi deixada a sigla CV em letras vermelhas. Vídeos, fogos e salves tem sido espalhados nas redes sociais, para aumentar o medo de moradores.

Muros pichados

Foguetórios aconteceram em diversos bairros da capital. No último domingo, em razão de instabilidade no sistema prisional, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) suspendeu as visitas a quatro cadeias.

Tanto no massacre do ano passado quanto na chacina no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), registrada em 2017, a FDN foi apontada pelas forças de segurança do Estado como “autora” e “mandante” da série de mortes violentas, sessões de esquartejamento, decapitações e torturas nos presídios. Agora, o CV daria o troco à facção arqui-rival.

As cenas, muitas vezes, são repetidas na guerra do tráfico, nas ruas da capital e no interior, entre soldados ou pessoas ligadas às facções, incluindo as famosas blindadas e namoradas de traficantes.

Histórico

Ano passado, após as mortes registradas no Estado, o ministro Sergio Moro solicitou que a Polícia Federal instaurasse inquérito para investigar os crimes. De acordo com o pedido, os crimes ocorridos representavam grave violação de direitos humanos.

Além disso, há interesse da União na repressão de organizações criminosas com atuação em mais de um Estado da federação, bem como na repressão ao tráfico internacional de drogas. A FDN teria ordenado os assassinatos.

Vários salves de facções criminosas foram divulgados, como agora, e buscavam atribuir responsabilidade e motivação à série de mortes. Haveria sinais de um complô armado por membros da própria FDN que teria resultado nas 55 mortes nas cadeias.

Racha

Em 2019, fontes da segurança pública confirmaram um racha na facção, uma guerra declarada pelo controle no topo do tráfico entre os fundadores da organização criminosa, José Fernandes Barbosa da Silva, o Zé Roberto da Compensa, ou Mano Z, e o narcotraficante João Pinto Carioca, o João Branco. Ambos estão em presídios federais.

A ordem teria partido da ex-mulher de João Branco, Sheila Faustino Peres. Ela teria motivado, no passado, a morte do delegado de Polícia Civil, Oscar Cardoso, no dia 9 de março de 2014.

As mortes nas cadeias ocorreram no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM 1), no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), todos localizados em Manaus.

Em maio do ano passado, um grupo de nove detentos, listado como envolvido na série de assassinatos, foi transferido para presídios federais de segurança máxima.

Veja também
Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *