Reações ao Plano Dubai que olha além de 2073, quando acabam incentivos da Zona Franca

Reações ao Plano Dubai

Reações ao Plano Dubai mostram resistências a planejar o futuro do Amazonas para além de 2073, quando acabam os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus

O Plano Dubai, para a Zona Franca de Manaus (ZFM), foi lançado. As reações mostram a ponta do iceberg das razões pelas quais o Amazonas desperdiçou 50 anos do modelo. O Governo Federal propõe pensar depois do fim da prorrogação da ZFM, que ocorrerá em 2073. Quer investir em turismo, piscicultura, defesa, fármacos e mineração. Chegou a hora do planejamento.

A Zona Franca, todos já sabem, é modelo econômico que não depende apenas de vontade política. Está intrinsicamente vinculado às correntes econômicas e tecnológicas internacionais. De nada adianta prorrogar incentivos, se a indústria 4.0 ou 5.0 transformar em sucata o parque industrial de Manaus.

 

O que é Dubai?

Dubai, nos Emirados Árabes, é um caso clássico de substituição de matriz econômica. Dependia, praticamente, apenas do petróleo. As autoridades decidiram partir para a diversificação, investindo no turismo e construção civil. Hoje, o petróleo responde por apenas 3% da economia do emirado.

A analogia, usada pelo ministro Carlos Alexandre Costa, da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), é direta. Assim como Dubai deixou a dependência do petróleo, o Amazonas deixaria de depender da ZFM diversificando a matriz econômica.

 

Reações

As reações, após o anúncio, feito no jornal Folha de S. Paulo, são as mais disparatadas. O senador Omar Aziz chegou a dizer que “o Amazonas não é areia”😂. Mas isso é vantagem, uma vez que não serão necessárias as dispendiosas ilhas artificiais.

“O ministro quer transformar Manaus numa Dubai”, disse outro, mas esse está perdoado porque ainda não havia lido nada a respeito. E seria ótimo se a capital amazonense pudesse sofrer uma transformação assim. Será muito bom, sendo mais modesto, se o avanço do tráfico de drogas for contido pela chegada de emprego diferenciado.

O deputado estadual Serafim Corrêa, economista e tributarista, lembrou a queixa de falta de dinheiro para o Bolsa Família. “Como é que o governo vai ter dinheiro para um projeto assim?” Sarafa, certamente, não havia refletido. Não se trata de investimento governamental, mas da atração gradual de capital, à medida que se constrói infraestrutura.

Há certos argumentos inválidos.

“Não asfaltaram a BR-319 em todas essas décadas. Como é que vão transformar a Zona Franca em Dubai?”. O Governo, não vamos esquecer, tem seis meses.

O Plano Dubai se baseia mais em planejamento que “ação imediata”. Por que o Amazonas resistiria a planejar o futuro?

 

Deitado eternamente em berço esplêndido

É impensável que o Estado queira deitar, eternamente, no berço esplêndido dos impostos gerados pela ZFM. Muito fácil arrecadar a grana e correr para o abraço. São hoje R$ 400 milhões para a UEA. Outros R$ 1 bilhão para Pesquisa & Desenvolvimento. Mais R$ 700 milhões do Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas (FTI). Mais R$ 300 milhões arrecadados de forma direta pela Suframa, embora isso esteja contingenciado pelo Tesouro Nacional.

Ninguém pensa que, enquanto isso, quatro quintos da população amazonense vive na mais absoluta miséria. Só São Gabriel da Cachoeira, em todo o interior, tem hospital com um tomógrafo. Manaus se refugia em ilhas de prosperidade, contadas nos dedos, em meio a um mar de carências.

Seria cruel demais imaginar políticos querendo manter a dependência da ZFM. É ela, afinal, que proporciona bandeiras que elegem e reelegem muitos deles, nas “caravanas de defesa” rumo a Brasília.

 

Riquezas disponíveis

Minérios são finitos. Ou se utiliza agora ou eles terão as propriedades sintetizadas em laboratórios ou substituídas por algo mais barato. Turismo traz infraestrutura, logística moderna. Piscicultura é uma vocação do tipo “tá na cara”. O potencial amazonense de Fármacos é tão óbvio que motivou a criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). O que fazer, se não tivemos capacidade de fazer essa locomotiva andar?

Manaus não resistirá por muito tempo à guerra de egos. Já houve guerra de gestores, cada um brigando por projeto pessoal. E a cidade perdeu os recursos do Porto da Manaus Moderna, que estavam disponíveis à época. A zona portuária, como consequência, continua a mixórdia de sempre. É um dos mais flagrantes desrespeitos à condição humana do País.

A Zona Franca de Manaus termina em 2073. Vamos correr da sala para a cozinha, em busca da prorrogação, como aconteceu em 2013? As condições do mundo, quando chegar essa data, permitirão ao Brasil conceder esses incentivos?

 

Incentivos são transitórios

Incentivos fiscais são recursos comuns. Basta ver o que fizeram os Estados Unidos no Mississipi Valley. Ou a Itália no Mezzogiorno (Puglia, Calábria, Cecília). Ou a França no Midi (Sul). Ou o Brasil em São Paulo, para desenvolver a indústria automobilística. Esse argumento é parte de discurso histórico do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, quando senador. Em todos esses locais, porém, a transitoriedade prevaleceu.

Será lamentável se a resistência de quem resiste ao planejamento, de um lado, e a falta de habilidade em comunicar do Governo Bolsonaro, joguem no lixo essa oportunidade extraordinária.

O Amazonas precisa ter responsabilidade com seu futuro. O Plano Dubai abre uma janela importante. Recusar a olhar por ela é fechar os olhos à sorte de nossa gente. É irresponsável. É cruel.

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10 comentários

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  1. fernando alberto de lima e silva disse:

    Excelente, oportuno, util e corajoso o artigo . Endosso plenamente, Parabens, Marcos!

    1. Maria das Mercês disse:

      Não sou contra, achei interessante mas não acredito que saia do nível de projeto. E o Estado vai continuar deitado em berço esplêndido até 2073. Minha visão.

    2. Karla disse:

      Parabéns pela lúcida e inteligente reflexão.

    3. Moisés Hoyos disse:

      Acredito q o problema é a transição, que deveria ser paulatina com a retirada dos incentivos. Se for feita de forma abrupta ficaremos sem os incentivos e sem as ações necessárias para promover o Plano Dubai.

  2. Maurício disse:

    A alguns anos que Dubai virou um fetiche para o turismo .Todos querem ser Dubai, pleno investimento em infraestrutura só foi possível bancado por petrodólares, num espaço pequeno com uma pequena população e aplicado num regime não democrático. Sinto muito, mas Porto de lenha nunca será Dubai.
    Outro exemplo mais factível é o Vietnã, com 380mil km2, 1/5 do Amazonas, com produto turístico natural (meio ambiente) e produto artificial (infraestrutura), parecido com o nosso, recebe quase o dobro de turistas internacionais que o Brasil recebe. Qual o segredo? Investimento em propaganda e comunicação turística – vendem o produto que tem e a medida do aumento do fluxo investem em infraestrutura….simples, mas o problema é o como?

    1. Jam Ribeiro disse:

      O projeto dubai é uma sacada inteligente pra quem pensa o amazonas do futuro, sabemos q a zona franca é um modelo econômico q deu certo, mas no futuro sabemos q não terá como resistir haja vista a grande concorrência por conta dos avanços tecnológicos, q a tdo momento surgem numa velocidade q não será possível acampanhar dadas as politicas, a legislação, e a burocracia do Brasil sem contar os ataques q surgem a cada novo governo, diferente de outros países q ja estão anos luz a nossa frente. Ja está mais q na hra de pensar numa fonte de renda pro nosso estado q não seja diretamente da zona franca oq ainda é a nossa realidade.

    2. Cristiane Almeida disse:

      O Plano Dubai poderia ser extensão da ZFM. já que incorpora serviços e não somente foca nos incentivos das indústrias,
      Aqui gera se oportunidades . mas somente onde as fábricas estão instaladas. No interior do Amazonas realmente não há desenvolvimento
      o pior de tudo é que desde o Governo Lula o valor arrecadado foi tomado pelo Governo Federal e as cidades não sendo desenvolvidas.
      Como disse a matéria : Mais R$ 300 milhões arrecadados de forma direta pela Suframa, embora isso esteja contingenciado pelo Tesouro Nacional.
      Então pra quê ternos ZFM??? se o valor não é investido aqui ??? As cidades continuam carecendo de infraestrutura enquanto a ZFM da ilha da Madeira em Portugal se desenvolve com espetáculo no Turismo assim como ZFM de Ushuaia na Argentina . E o que é mais interesse que em Ushuaia os incentivos não são somente para os empresários são para o consumidor final que deixa de pagar os impostos nas compras realizadas na ZFM de Ushuaia isso sim que irá gerar capital de giro e melhorar a vida da população.
      Quem é que vai sair de São Paulo para comprar uma TV que é o mesmo valor ou até mais caro que São Paulo ? aqui onde atuamos o consumidor deveria ser isentos de impostos dos produtos que foram fabricados na ZFM

      Acho que um ótimo modelo . Mas que necessita de um administrador. Nada como a Suframa para agarrar esse plano é incorporar a área de serviços em sua atuação de desenvolvimento regional

  3. Christian disse:

    Enquanto o destino do estado estiver na mão desses políticos que temos aí, estaremos fadados a continuar na miséria mesmo vivendo sobre uma montanha de ouro e prata

  4. Jean disse:

    Excelente percepção de visão de mundo. Precisamos ter esse olhar visionário e de projetos grandes, como a do nosso ministro da economia Paulo Guedes. O povo brasileiro tem que deixar de ser medíocre – no bom sentido da palavra -, ou seja, não pode optar pela lei do menor esforço, pela comodidade ou pela falta de compromisso. Precisa sim, mudar sempre que for necessário. E creio que chegou a hora de visitar o nosso futuro. Parabéns pela excelente explanação!!!

  5. Eduardo Gobeth disse:

    Perfeito. Parabéns!