Paulo Guedes acaba feriadão da bancada e tira sono do Amazonas com ameaça à ZFM. Omar, Braga e Marcelo reagem

Paulo Guedes

Paulo Guedes afirma que Zona Franca não precisa ser tocada e ameaça mexer na principal vantagem comparativa do modelo, a alíquota do IPI

O “superministro” da Economia, Paulo Guedes, acendeu o pavio curto outra vez. Agora, provocado insistentemente pela jornalista Miriam Leitão, na Globo News, deu outra resposta atravessada: “Eu tenho que deixar o Brasil bem ferrado, bem desarrumado, senão não tem vantagem para Manaus?”. Guedes falava de acabar com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o principal diferencial da Zona Franca de Manaus. Pronto! Acabou o feriadão da bancada e o sono dos amazonenses.

 

Reações

O senador Omar Aziz convocou reunião para depois da Páscoa, no começo da semana que vem. Ele é o coordenador da bancada de oito deputados federais e três senadores do Amazonas.

O senador Eduardo Braga desafiou o ministro para um debate aberto sobre a Zona Franca. Braga reproduziu no Twitter discurso, dele próprio, alertando sobre o fim do acordo binacional Brasil-Paraguai. Com 50% da energia de Itaipu, o país vizinho poderá fazer Zona Franca. E a 800 quilômetros do maior mercado consumidor do Brasil, que é São Paulo.

O deputado federal Marcelo Ramos, que tem feito oposição severa ao governo Bolsonaro, foi mais duro: “Paulo Guedes disse o que muitos no governo querem dizer e não têm coragem. Toda reunião que a bancada tem com esse governo, eles dizem que ‘ninguém mexe na Zona Franca’. Eu alerto que não precisa mexer. Basta tirar as vantagens comparativas (como a alíquota do IPI) e a Zona Franca acaba”, ressaltou.

 

Novo capítulo de ‘salvamento’

Em suma, o Amazonas assiste a mais um capítulo da novela “o Brasil contra nós e nós contra o Brasil”. Ou “todos a Brasília, em caravana, para defender a Zona Franca de Manaus”. Políticos adoram isso. Vão para as luzes da ribalta.

A realidade é mais dura. Fica mais uma vez patente que o tempo para criar alternativas acabou. E, portanto, há necessidade de usar todo o tempo possível, o que houver de sobrevivência da Zona Franca, para buscar caminhos.

Muda a indústria, com a chegada do boom 4.0, por exemplo, e a Zona Franca naufraga. Mexem numa alíquota federal, como o IPI, e perde-se milhares de empregos. O imposto baixou de 22% para 4%, subiu para 12% e voltará a 4% em breve. Foi aí que o Polo de Concentrados baqueou e ameaça virar fumaça, já tendo perdido a Pepsi-Cola.

 

Inabilidade

É digna de registro, ao mesmo tempo, a inabilidade política de Paulo Guedes. Dono de enorme responsabilidade e depositário do suporte econômico do governo Bolsonaro, ele é autoridade indutora. O que diz, repercute. Depois de juras de amor à ZFM, diante da bancada federal, governador e prefeito, agora afirma descompromisso com o modelo.

O ministro, com seu jeito atabalhoado, joga uma ducha de água no otimismo injetado pelo superintendente da Suframa, coronel Menezes. Afilhado de casamento de Bolsonaro, ele vem levantando o moral do empresariado e do funcionalismo. A Coca-Cola, por exemplo, embora se recuse a confirmar, quer segurança jurídica ou também deixa Manaus. E as decisões da multinacional, depois de tomadas, são definitivas. Não tem choro, não tem vela. Tem a dureza dos cerca de 10 mil empregos diretos perdidos. Esses estão quase chegando ao ponto da música regional – o carregado de licença poética “bateu asa e avoou”. A gigante do refrigerante, que começava a se animar, pode desanimar novamente.

 

Débâcle

A Zona Franca de Manaus é um modelo que está por um fio. O Brasil nunca se preocupou com a Floresta Amazônica. Só se defende o maior patrimônio ambiental da humanidade quando cogitam a internacionalização.

O Amazonas já viveu o fim de um boom econômico. Na débâcle da Belle Époque, com o fim do Período Áureo da Borracha, Manaus virou cidade fantasma. As ruas se encheram de mendigos. Havia, então, uma natureza pródiga, com os rios derramando pescado e as matas caça abundante. A população passava pouco dos 100 mil habitantes.

Hoje, os recursos naturais começam a escassear. A população manauara ultrapassa 2 milhões de habitantes. O corte de 50% dos empregos da Zona Franca gerou imediato aumento da insegurança. Houve impacto na saúde (trabalhador da ZFM tem plano privado de saúde). A demanda sobre o transporte coletivo aumentou, já que as indústrias apanham e levam de volta o trabalhador perto de casa.

 

Voz firme e grossa

Paulo Guedes não sabe o tamanho da bronca que uma declaração irresponsável sobre Zona Franca pode provocar. Deve estar buscando um pretexto para deixar o governo, quando peita declarações do presidente sobre o modelo de desenvolvimento regional. Cabe aos amazonenses com representatividade falar pelo Amazonas. Grosso. Firme. Exigindo urgência em decisões. Cutucando a burocracia burra, que impede expansão ou estabelecimento de indústrias em Manaus.

A imprensa não tem mesmo que dar paz a deputados, senadores e demais autoridades. Dane-se o feriadão.

O superministro rompeu a trégua. Deu um tacada que ofereceu razão até ao xiitismo petista. Governantes brasileiros já deveriam saber que o Brasil aprendeu a não depender deles. Collor, Lula, Dilma, Michel Temer e até o paroquial José Melo sabem bem disso. Brasileiro não desiste. Nada de “ou o Brasil protege o Amazonas ou o que o Amazonas está fazendo no Brasil?” A hora é de patriotismo. Real e imediato.

A Zona Franca de Manaus é patrimônio nacional. Só falta o Amazonas dizer, planejada e didaticamente, o futuro que pretende construir com ela.

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3 comentários

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  1. Ricardo Batista Nogueira disse:

    Marcos, o modelo zfm só sobrevive sob protecionismo do estado. Não há espaço para este modelo num mundo liberal. Já era…..a elite brasileira conseguiu…

  2. Gilmar Nogueira disse:

    Boa tarde

    1. Zedh disse:

      Se é para fazer uma matéria é bom colocar o que foi dito na íntegra! Dó contrário torna-se irresponsável e indutiva ao desengano.