Educação. Capacidade de resistir a um dinossauro em apuros

Por Francisco R Cruz

Quem se dispuser lançar um reflexivo olhar ao passado vai encontrar um mundo em pachorrenta lentidão. Naquele ambiente fazer projeções era acertar na “mosca”. Tudo era previsível.

As certezas começam a mudar a partir do início das tecnologias digitais e, sobretudo, da convergência delas em meados do século passado. Nasciam as dinâmicas favoráveis à inovação, cuja velocidade provocou uma espécie de continuada autofagia, acentuando instabilidades e incertezas. Tudo ficou imprevisível.

A educação não percebeu esse cenário e, com a cabeça no passado, foi se repetindo em chata e desmotivadora mesmice. Não é por outra razão que o país é recordista em evasão escolar, penalizando um contingente de jovens que não enxergam qualquer sentido de nela permanecer.

Enquanto isso a tecnologia vai produzindo mudanças e criando alternativas de acesso ao conhecimento. Dentre elas está o “Ensino a Distância” (EAD).  E é só o início. Em pouco tempo o céu terá constelações de satélites levando conectividade de alta qualidade e baixo custo a todo o planeta.

Essas facilidades acentuarão a já frenética avalanche de inovações, impactando mais, ainda, as atividades humanas. Protagonistas e coadjuvantes serão obrigados ao descarte de conhecimentos para se apropriarem de novos paradigmas do saber. O estudo passa a ser um ciclo interminável do aprender a desaprender para aprender de novo, situação que desmontará o dinossauro chamado educação.

Volatilidade é o conceito do momento. Mantidas essas condições, o desmonte do dinossauro começará no ensino superior, pela simples impossibilidade de conciliar o tempo de aprendizado com a volatilidade das demandas. Salvo raríssimas exceções, seria como a pessoa formar-se em inutilidades. Só o EAD terá condições de “atualizar” o conhecimento em tempo real.

E o ensino básico? Será de fundamental importância. A nova realidade exigirá formação básica capaz desenvolver: raciocínio lógico para interpretar as diversas realidades e entender as dinâmicas das mudanças; capacidade para debater; flexibilidade para ouvir e aprender com opiniões divergentes; empreendedorismo; fluência em outros idiomas e, principalmente, terminar o básico com alguma noção do domínio das emoções.

Estamos longe disto. O Instituto Círculo de Matemática constatou que apenas 10% sabem matemática ao final do ensino médio; adultos com 25 anos não sabem equações simples de matemática; 75% são sabem apurar médias e frações simples e 63% não entendem perguntas sobre percentagem. Em português o desastre é igual: 75% dessa mesma amostra não sabem interpretar textos simples. Na escola pública se aproxima de ZERO os alunos que ao final do ensino básico têm fluência no idioma inglês.

Sem entender que base fraca prejudica a obra como um todo, o país há anos privilegia o ensino superior em detrimento da base, prática que transformou nossa educação numa fábrica de analfabetos funcionais.

Sem reformular a grade curricular do ensino básico, de modo a desenvolver habilidades para enfrentar o conjunto das demandas atuais e a capacidade de especular sobre demandas futuras, será condenar nossos jovens ao isolamento dentro do mundo globalizado e apartá-los do processo de desenvolvimento do país.

Reverência à mediocridade que nos persegue há décadas.

 

Francisco Cruz

Francisco Cruz

* Francisco R. Cruz é empresário e trabalhou muitos anos na área de tecnologia e, entre 2001 e 20...

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