O avanço tecnológico introduziu extraordinário crescimento ao “Ensino a Distância” (EAD). Nesse espelho aperfeiçoamentos e oportunidades quebram a resistência e as limitações de um meio de ensino, a escola tradicional, que há séculos se repete em espantosa mesmice.
Em pouco tempo o céu terá constelações de satélites espalhando conectividade de altíssima qualidade por todo o planeta. E logo os limites do ensino serão os limites do próprio planeta. Será a efetiva democratização do conhecimento.
A experiência do diretor e professor de “Robótica e Inteligência Artificial” na Universidade de Stanford, Sebastian Thrun, confirma a tendência. Tinha duzentos alunos presenciais e uma certa resistência ao EAD. Resolveu abrir para o ensino online e agora tem 160 mil alunos ao redor do mundo. Ao final de um período aplicou testes de avaliação iguais para todos seus alunos. Surpreendeu-se com os resultados. Os primeiros 412 melhores eram do EAD. Atualmente é um entusiasta e incentivador da modalidade.
Universidades como Harvard, Stanford, MIT, Oxford e tantas outras do topo dos rankings da educação, estão sugerindo aos seus professores disponibilizarem na internet, gratuitamente, o conteúdo das suas aulas nos cursos presenciais regulares. Na rede existem cursos onde se pode aprender de idiomas a inteligência artificial com a qualidade das melhores universidades do planeta, alguns deles gratuitamente. Com a ampliação dos meios de transmissão a oferta aumentará drasticamente e os preços serão insignificantes.
Ao que tudo indica o ensino superior sofrerá profundas transformações. Poucos serão os cursos de longa duração, pois as atividades estarão em mudanças constantes, descartando e agregando conhecimentos ao longo da vida. A diversidade e a multidisciplinaridade definirão o estudo como atividade permanente, pois as demandas serão pelo “conhecimento da hora”. Formaturas em áreas específicas devem desaparecer.
Inserir-se nesse cenário exigirá sólida formação básica, capaz de desenvolver nos jovens o raciocínio lógico e a capacidade de entender e interpretar as diversas realidades desse mundo novo, condição indispensável para estudar em qualquer universidade do planeta.
Diante dessas demandas a educação brasileira pinta um quadro desanimador. O Instituto Círculo de Matemática constatou: apenas 10% dos jovens sabem matemática ao final do ensino médio; adultos com 25 anos não sabem equações simples de matemática; 75% são sabem apurar médias e frações simples e 63% não entendem perguntas sobre percentagem. Já em português 75% não sabem interpretar textos simples.
Nem uma novidade, tais resultados são regularmente conhecidos, pois desde o ano 2000 nossos jovens estão na rabeira nos exames de avaliação de estudantes realizados pela OCDE (Organização para a Cooperação ao Desenvolvimento Econômico) a cada três anos. Vários diagnósticos com o mesmo desempenho aparecem em diversos outros exames feitos ao longo do tempo. O responsável maior por esses desvios, contudo, cada vez se torna mais evidente: o Brasil aplica mais recursos por aluno do ensino superior em detrimento da boa formação dos alunos da base.
Felizmente o novo presidente tem anunciado, repetidamente, que a prioridade do país será com o ensino básico, como, aliás, acontece no mundo desenvolvido. Se o país quiser avançar tem de reformular toda a grade curricular do ensino básico com vistas a volatilidade das dinâmicas desse novo mundo. A fluência em outros idiomas, especialmente na língua inglesa é absolutamente fundamental. Sem as habilidades para enfrentar o conjunto das demandas atuais e incapacidade de especular sobre demandas futuras, seria condenar nossos jovens a um isolamento dentro do mundo globalizado e apartá-los do processo de desenvolvimento do país. Uma reverência à mediocridade que nos persegue há décadas.
Francisco Cruz
* Francisco R. Cruz é empresário e trabalhou muitos anos na área de tecnologia e, entre 2001 e 20...
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