Criança não namora

Augusto Bernardo Cecílio

Criança não namora, nem de brincadeira. Apoio plenamente essa campanha lançada no ano passado pela Secretaria de Assistência Social do Amazonas (Seas), em parceria com o Blog Quartinho da Dany, que ganhou as redes sociais e faz parte de um conjunto de ações mais amplas do governo do Amazonas para mobilizar a sociedade contra a exploração infantil.

Tudo tem o seu tempo e a infância é fase de se pensar em coisas amenas. É tempo de brincar, de aprender, de curtir coisas boas, de viver sem preocupações. Não vale a pena avançar o sinal ou colocar a carroça na frente dos bois. E os pais, principalmente, tem o dever de cercar os pequenos com os cuidados necessários para evitar sofrimentos desnecessários que podem marcar as pessoas para o resto da vida.

Esse negócio de perguntar para as crianças se já estão namorando pode até parecer engraçado em determinadas famílias, mas não é nada saudável. Elas se relacionam com os seus amiguinhos, mas são simplesmente amigos. A amizade é um presente de Deus e nunca deve ser encarada como tentação. Ficar insistindo nesse assunto na infância é tentar fazer com que os pequenos façam papel de adulto.

É comum terceirizar a educação dos filhos para as escolas, mas isso não é correto. A família tem um papel importante a cumprir, e projetar nas crianças o mundo adulto é uma prática sem fundamento e distorcida. Já não bastassem as tentações que vêm do comércio e da indústria com roupas, cosméticos e produtos que influenciam erradamente o público infantil, ainda existem pais que “enfeitam” os seus filhos como se adultos fossem. Shortinho, por exemplo.

Tem menina que vai para uma festinha mais maquiada e com roupas mais sensuais do que a própria mãe. E menino que acaba provando uma cerveja ou um cigarro porque o pai consome. Aí surge uma contradição, quando a mesma sociedade que estimula avanços desnecessários é a mesma que clama por justiça quando um marginal desajustado pratica um estupro. Claro que um erro não justifica o outro, mas cabe uma reflexão.

Como dizem os colegas da Seas, não é engraçadinho incentivar beijinhos de namoro ou declarações de amor entre crianças. É nosso papel separar o mundo adulto do mundo infantil, e misturar os dois mundos é cair no erro da erotização precoce. A infância precisa de proteção e não de adultos que afastam a criança daquilo que é próprio da sua idade. Para isso, pais, responsáveis e demais familiares são fundamentais.

Como afirma o psicólogo Luiz Coderch, esbarramos num quadro mais complexo quando se fala em comportamento inadequado de crianças, pois no geral elas reproduzem o que veem em casa ou o que são incentivadas a fazer ou a dizer. Então, o problema é de toda a sociedade. Pular etapa poderia dificultar a aprendizagem de lições importantes na construção de relacionamentos saudáveis no futuro, como respeito ao próximo, carinho, atenção e companheirismo.

É preciso respeitar o desenvolvimento cognitivo de cada etapa da vida. Uma criança não sabe o que é um namoro, ela não tem esse discernimento. Ela precisa amadurecer no tempo certo. Um abraço no amiguinho, um beijo no rosto e demonstrações de afeto que recebe dos adultos em casa são seu instrumental afetivo. Bem diferente de beijar os pais na boca, coisa que nem os pediatras recomendam. Pelo visto, certos pais é que devem ser reeducados a entender o mundo infantil.

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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