‘Não podíamos avançar muito para não cometerem ato de loucura’, diz delegado que estava entre atiradores

O delegado Juan Valério contou que o assaltante que se entregou, que estava dando cobertura fora, já havia sido preso por ele após resgatar um preso no Careiro Castanho. Fotos: Divulgação e reprodução

“Não podíamos avançar de uma vez para deixar eles mais nervosos, para não atirarem em nenhum refém. Para não cometerem nenhum ato de loucura, como já estava prestes a acontecer”. O relato é do delegado Juan Valério, coordenador de Operações e Recursos Especiais do Amazonas (Core-AM) e ex-diretor do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), que estava numa das células de policiais de combate durante o assalto à loteria na avenida Grande Circular, São José, zona Leste, no sábado (13).

Armados

O assalto que seguiu por três horas, com mais de 20 reféns, teve início por volta das 13h. O grupo criminoso estava com coletes, balaclavas e com duas espingardas calibre 12, um revólver calibre 38 e uma pistola. No confronto com as forças de segurança, após fazerem 12 pessoas de escudo humano, quatro assaltantes foram mortos.

Juan Valério falou ao Portal Marcos Santos sobre os momentos mais tensos do episódio. Ele contou que estava em um das células (equipe) do Grupo Força Especial de Resgate e Assalto (Fera), da Polícia Civil. O outro era do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar. Junto aos dois estavam atiradores de precisão e o negociador.

Dois times táticos

“Dois times táticos estavam na ação desde o início das negociações. O tempo todo (os assaltantes) foram acompanhados ao saírem da loteria, para que não fugissem. Pedíamos para que se entregassem, para que não atirassem, diversas vezes. Eles atiravam na nossa direção e ainda havia uma multidão atrás do perímetro, filmando e assistindo a tudo”, falou Valério.

Mesmo diante da tensão, do risco e das provocações, com os assaltantes usando os reféns de escudo humano, gritando palavras associadas à facção criminosa e atirando, os policiais não revidaram e não se intimidaram.

Momento crucial

“Chegou um momento crucial no qual notamos que eles iriam atirar nos reféns, executar inocentes mesmo. Estavam nervosos, drogados e exaltados. Agimos com precisão, as duas equipes, e nenhum refém ou inocente foi ferido. Só agimos quando tivemos certeza dos riscos reduzidos, sempre dando a opção para que o grupo criminoso se entregasse”.

Além dos grupos especiais, a ação integrada contou com apoio de policiais das Companhias Interativas Comunitárias (Cicom), Força Tática, Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) e mais equipes da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM).

Confira alguns trechos da entrevista ao Portal.

Quais foram os momentos mais tensos da negociação?

Quando começaram a disparar de dentro da loteria para a via pública, na nossa direção e diante dos populares que se juntaram no local. Um carro da Polícia Militar, que estava bem em frente à lotérica, ficou crivado de balas. Outro momento de grande tensão foi quando fizeram o escudo humano, saíram na rua e atiravam. Nós nos abrigávamos e nos preocupávamos com os populares no entorno. Não podíamos avançar de uma vez.

Eles estava drogados e pediram drogas para o negociador. A intenção deles era só de assaltar e os reféns foram uma consequência?

O uso de droga, pedir droga neste casos, não é usual. Mas eles pediam drogas a todo momento. Acredito que a intenção deles era somente o assalto, mas foram surpreendidos com a viatura da PM. Os policiais fizeram a primeira contenção deles dentro da loteria. Conseguimos negociar e foram libertados 12 reféns.

Que estratégias são usadas em casos assim?

Usamos todas as estratégias possíveis, mas não há uma fórmula pronta. O caminho é negociar sempre. Negociamos, reduzimos o número de reféns e mantemos a calma. Não queríamos chegar ao ponto da necessidade de neutralizar os infratores. Não é opção neutralizar os indivíduos. Mas quando colocam em risco a vida de inocentes e reféns, se chega a um limite, e eles estavam na iminência de executar os reféns. Observamos isso na forma como dialogavam entre eles e como posicionaram o armamento. A hora de agir foi tomada corretamente, tendo a total segurança dos operacionais nas suas excelências técnicas. Os times táticos atuaram em conjunto. Sabemos como cada unidade age, participamos dos mesmos cursos operacionais. Cada um na sua missão sem nenhum dano colateral, mesmo estando os assaltantes com um escudo humano.

A decisão de agir evitou uma tragédia?

Nossa preocupação maior era com os reféns e a população no entorno, já que qualquer tiro poderia acertar um inocente ou pessoa próxima. O tiro deles não tem responsabilidade nenhuma; o nosso tem, e agimos com máxima cautela para não atingir nenhum inocente. Nos abrigávamos nos escudos balísticos quando atiravam, mesmo pedindo que se entregassem. A intenção deles era se misturar à massa, mas ficaram encurralados. E no momento em que apontaram as armas para os reféns, já cercados, agimos imediatamente. Caso contrário seria uma tragédia.

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