Fair play ao inverso

A participação verde e amarela na Copa do Mundo da Rússia esconde perigos aos trabalhadores. Isso faz acender uma luz vermelha na vida dos despreocupados e desligados, pois a chave que liga e desliga está fincada bem no seio dos três poderes da nação. Executivo, Legislativo e Judiciário paralelamente disputam uma competição onde não há vencidos nem vencedores, apenas prejudicados.

Do Bric’s o presidente Putin importou o “jeitinho brasileiro”, aproveitou a euforia doméstica para apresentar proposta de reforma da Previdência, resultado: sua popularidade caiu vertiginosamente, mas nada que uma boa atuação de sua seleção não possa amenizar o impacto fora dos gramados.

Por aqui, longe do poderio bélico que um dia alimentou a guerra fria, não é diferente e a categoria escolhida para pagar o pato é a dos servidores públicos. Tudo reflete em cima dessa categoria de trabalhadores. E, mesmo sem culpa pelas más gestões, pela corrupção desenfreada, pelo baixo, duvidoso e questionado desempenho dos políticos, só sobra arrocho para eles.

É uma espécie de “fogo amigo”, pois vem de dentro do poder administrativo, do coração do serviço público contra os próprios servidores públicos. Como se já não bastasse anos de anos de perdas salariais, surge mais um golpe baixo. Depois de empurrarem possível aumento de 2017 para o ano seguinte e depois para 2019, eis que o senador Dalírio Beber (PSDB-SC), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, propondo que seja proibido conceder reajuste aos servidores no próximo ano.

Ainda tem acréscimo, o parlamentar ainda propõe a proibição da criação de novos cargos e empregos pela União, o que engessa e enfraquece a atuação no serviço público, que já sofre pela não realização de concursos públicos e, nesse bojo, o governo alega que não tem dinheiro para corrigir salários, mas tem cifras milionárias para pagar o famoso cartão corporativo da Presidência da República. Ou seja, não existe dinheiro para salários, mas tem para a corrupção e gastos excessivos.

A ausência da correção salarial freia o poder de compra dos trabalhadores enquanto que a inflação não perdoa e segue o seu curso. E essa perda não é compensada. Até mesmo os números amenos que mostram a inflação não refletem o que sentimos diariamente, quando compramos os alimentos. A manteiga, por exemplo, segue aumentando. O que custava oito reais hoje você não compra por menos de 25. Que inflação baixa é essa?

O imposto de Renda dos servidores, por exemplo, é descontado na fonte, e a tabela desse imposto continua sem correção. E não corrigir essa tabela significa aumento injusto e camuflado de imposto, porque o cidadão acaba pagando mais. Uma verdadeira malandragem fiscal utilizada por vários governos. Tudo isso é ganho para o governo e perda para o trabalhador.

Com a popularidade beirando a zero, Temer gastou bilhões de reais inutilmente para tentar aprovar a reforma da Previdência, e esqueceu de focar na reforma tributária, nas grandes fortunas que não são tributadas, e no excesso de tributação no consumo, uma verdadeira agressão ao povo brasileiro.

Em ano de Copa e Eleição, os servidores e seus representantes devem focar diretamente nos candidatos de dentro e fora do campo, visando conhecer suas reais intenções e qual o grau de maldade contida por trás das jogadas, que só acontecem de quatro em quatro anos.

 

*Auditor fiscal e professor

 

Augusto Bernardo Cecílio

Augusto Bernardo Cecílio

* Auditor fiscal da Sefaz, coordena o Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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